Os executivos que saíram do Facebook foram Chris Cox, diretor de produtos e considerado o número três da companhia, e Chris Daniels, diretor de WhatsApp
As ações do Facebook chegaram a cair até 5% nesta sexta-feira, 15, um dia após a empresa anunciar a saída de dois de seus executivos mais importantes. Além disso, a queda acontece em um momento no qual o Facebook está sendo novamente criticado por permitir a disseminação de conteúdo extremista dentro de suas redes sociais – um atirador que matou 49 pessoas em duas mesquitas da Nova Zelândia nesta quinta-feira, 14, transmitiu ao vivo os ataques pelo Facebook por 17 minutos.
Os executivos que saíram do Facebook foram Chris Cox, diretor de produtos e considerado o número três da companhia (abaixo apenas de Zuckerberg e de Sheryl Sandberg), e Chris Daniels, diretor de WhatsApp. A saída está relacionada ao anúncio feito por Zuckerberg na semana passada, no qual ele revelou os planos para o futuro da empresa - entre eles o aumento no foco em serviços de mensagens criptografadas, a partir da integração do Facebook com o Instagram e o WhatsApp.
Twitter e Google também estão sendo criticados por permitirem a disseminação de conteúdo extremista em suas plataformas – a cobertura ao vivo do ataque na Nova Zelância foi publicada primeiro no Facebook e desde então tem sido compartilhada no Twitter, no YouTube, além do WhatsApp e do Instagram, que pertencem ao Facebook.
“A transmissão ao vivo do ataque na Nova Zelândia certamente levantará mais questões de regulação e fiscalização sobre o Facebook. O Facebook ajudou a fornecer uma plataforma para o ataque horrível e, sem dúvida, a rede social será questionada por facilitar a disseminação desse conteúdo”, disse Clement Thibault, analista da plataforma de mercados financeiros globais Investing.com.
Após o ataque na Nova Zelândia, o secretário britânico de assuntos internos, Sajid Javid, afirmou que as redes sociais devem agir para barrar o extremismo em suas plataformas.
O Facebook disse que apagou as contas do atirador “logo após o início da transmissão ao vivo”, depois que a polícia alertou a rede social. Mas a agência de notícias Reuters encontrou vídeos do tiroteio em várias plataformas, incluindo Twitter e YouTube, até 10 horas após os ataques.
O Departamento de Assuntos Internos da Nova Zelândia disse que as pessoas que republicarem o vídeo arriscam violar a lei. “O conteúdo do vídeo é perturbador”, disse o departamento. “Estamos trabalhando com plataformas de mídia social, que estão removendo ativamente esse conteúdo assim que tomam conhecimento de uma cópia dele sendo publicada”. Entretanto, ainda há usuários procurando maneiras de compartilhar cópias do vídeo.
Desde as eleições americanas de 2016, o Facebook vem investindo para retirar publicações falsas de sua plataforma – a empresa contratou centenas de funcionários para moderar conteúdo compartilhado na rede social e também suspendeu várias contas suspeitas ao redor do mundo.
Às 16h30 (horário de Brasília) as ações do Facebook operavam em queda de 2,5%.
Relembre os escândalos do Facebook de 2018
Em abril, os jornais The Observer e The New York Times publicaram reportagens que mostraram o uso indevido de dados do Facebook, que tinham sido obtidos a partir do quiz This is Your Digital Life, do pesquisador da Universidade de Cambridge Aleksandr Kogan, e depois repassados por Kogan à consultoria Cambridge Analytica. O resultado dessa história é que dados de 87 milhões de usuários do Facebook foram usados na campanha eleitoral do presidente Donald Trump.
Logo após a divulgação do escândalo, começou nas redes sociais um movimento defendendo que as pessoas deletassem o Facebook – Elon Musk, presidente da Tesla, foi um dos que aderiu à hashtag #deleteFacebook. Um mês e meio após a notícia do caso, a Cambridge Analytica, chefiada por Alexander Nix, fechou as portas.
Por causa do caso Cambridge Analytica, o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, teve que depor no Senado e no Congresso dos Estados Unidos em abril. Ele assumiu a responsabilidade pelos erros da empresa e chegou a admitir que seus dados estavam entre os dos 87 milhões de usuários afetados pelo escândalo.
O escândalo obrigou o Facebook a mostrar esforços de mudança de suas regras de privacidade, transparência e segurança. Logo em abril a empresa redesenhou seus controles de privacidade, para acalmar os ânimos dos usuários e de investidores. A empresa também prometeu lançar uma ferramenta de limpeza do histórico de navegação – entretanto, o recurso só deve ficar pronto em 2019.
No auge do caso Cambridge Analytica, o Facebook perdeu US$ 95 bilhões em valor de mercado. Entretanto, o resultado mais grave dos escândalos apareceu três meses depois da revelação do caso: as ações da empresa caíram 19% e o Facebook perdeu US$ 119 bilhões em valor de mercado, a maior queda diária da história de Wall Street.
Em setembro, o Facebook revelou que uma falha de segurança dentro de sua plataforma colocou em risco dados de usuários da rede social. Após investigações, a empresa afirmou que 29 milhões de usuários tiveram seus dados pessoais roubados por hackers devido ao problema de segurança. A rede social confirmou que dados como nome, telefone celular e localização dos usuários foram acessados pelos criminosos.
Uma reportagem do The New York Times publicada em novembro revelou que o Facebook contratou uma empresa de marketing político chamada Definers Public Affairs para atacar os críticos da empresa, como George Soros, e também para espalhar histórias negativas sobre companhias rivais, como o Google. Além disso, segundo o jornal, a chefia do Facebook desprezou investigações internas sobre a interferência de hackers russos na rede social durante as eleições americanas e também minimizou sua culpa quando o Facebook se defrontou com o escândalo Cambridge Analytica.
A executiva mais envolvida na polêmica foi Sheryl Sandberg, que ocupa o cargo de chefe de operações do Facebook, o segundo mais importante, depois do presidente executivo Mark Zuckerberg. Uma semana após a publicação da reportagem do The New York Times, o antigo chefe de políticas públicas e comunicações da rede social, Elliot Schrage, assumiu a culpa pela contratação da Definers – o executivo decidiu sair da empresa em junho deste ano, em meio ao escândalo do Cambrige Analytica.
Este ano uma série de linchamentos aconteceu na Índia a partir da disseminação de notícias falsas no WhatsApp, aplicativo que pertence ao Facebook. Em julho, o governo indiano alertou a empresa sobre sua responsabilidade no problema. Em resposta, a empresa limitou o encaminhamento de mensagens para até cinco contatos na Índia – o que na sua visão diminui a propagação de boatos – e lançou outras iniciativas para conter a desinformação dentro do aplicativo.
O Facebook foi acusado de influenciar o genocídio feito pelo Estado de Mianmar. Segundo uma reportagem do The New York Times publicada em outubro, a rede social, o Facebook foi usado por militares como uma “ferramenta para limpeza étnica” e que autoridades do país foram “os principais operadores por trás de uma campanha sistemática no Facebook que se estendeu por meia década e teve como alvo o grupo minoritário rohingya, de maioria muçulmana”.
Em dezembro, o Facebook informou que uma falha na rede social expôs fotos privadas de cerca de 6,8 milhões de usuários a desenvolvedores de aplicativos. Terceiros tiveram acesso a imagens não autorizadas, como as publicadas no recurso Marketplace, comunidade de compra e venda dentro da rede social, no Facebook Stories e também as fotos que foram carregadas na rede social mas nunca postadas de fato. Segundo a empresa, mais de 1,5 mil aplicativos de 876 desenvolvedores tiveram acesso inapropriado às fotos dos usuários.
Em dezembro, o jornal The New York Times revelou que o Facebook compartilhou dados de usuários com gigantes de tecnologia. A reportagem afirmou qque rede social tinha parcerias com mais de 150 companhias para partilhar dados sem consentimento. Netflix e Spotify, por exemplo, podiam acessar até mensagens privadas dos usuários. O Facebook rebateu as acusações e disse que as parcerias estão de acordo com as regras dos Estados Unidos.