Anfitriões do Airbnb sentem impacto do coronavírus

O preço que o vírus está fazendo a indústria do turismo pagar é de US$ 688 bilhões

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Por Erin Griffith
Atualização:

Livia De Felice, dona de duas propriedades para aluguel de temporadas e administradora de outras quatro na Itália, teve todas as suas reservas para março canceladas. “Fiquei extremamente preocupada", disse ela.Tracey Northcott e seu marido, que administram 12 apartamentos para aluguel de temporadas em Tóquio, disseram que a taxa de ocupação passou de 80% para zero desde janeiro. “Tenho que continuar pagando minha hipoteca de alguma forma", disse Tracey, que tem uma equipe de cinco pessoas para cuidar das propriedades e começou a depender de sua aposentadoria para pagar as contas. As duas fazem parte de uma rede de pessoas que usa o Airbnb para alugar suas casas e está sentindo as consequências do coronavírus. 

Tracey Northcott já teve que recorrer às reservas da aposentadoria para pagar contas após cancelamentos no Airbnb Foto: Loulou Daki/NYT

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Com a suspensão de viagens para muitos lugares com o intuito de limitar a propagação do surto, os problemas enfrentados pelo Airbnb e outros sites de viagem e hospedagem, como Booking.com e VRBO, aumentaram rapidamente.O preço que o vírus está fazendo a indústria do turismo pagar é de pelo menos US$ 688 bilhões, em uma conta rachada com as companhias aéreas e grandes redes de hotéis. Mas, ao contrário de redes hoteleiras e empresas de aviação, muitos sites de viagens e hospedagens são sustentados por listas de proprietários individuais e de pequenos hotéis, que normalmente têm menos recursos para suportar uma crise prolongada.

O impacto já está se espalhando por toda parte. O site Booking.com, que possui 6,3 milhões opções em suas listas de “acomodações alternativas”, incluindo apartamentos e casas, retirou sua projeção financeira na segunda-feira. A empresa afirmou que o agravamento das condições impossibilitou a "quantificação confiável" do impacto do vírus em seus negócios. "O mundo mudou e precisamos nos ajustar", disse Glenn Fogel, presidente executivo da Booking.com, em uma entrevista recente, acrescentando que a empresa também recuou na publicidade.

O Expedia Group, dono da VRBO, da Hotels.com e de mais de uma dúzia de outros sites de viagens, disse esperar ter apenas US$ 30 milhões e US$ 40 milhões em lucros operacionais no primeiro trimestre. Recentemente, a empresa demitiu 12% de sua força de trabalho, ou mais de 3 mil funcionários, o que, segundo ela, fazia parte de uma reestruturação planejada anteriormente. "O futuro é realmente imprevisível", disse Barry Diller, presidente da Expedia, sobre o coronavírus em uma conferência com investidores no mês passado. 

Mais afetado

Mas o Airbnb pode ser uma das empresas com maior estrago. Desde 2008, a empresa tem milhões de anfitriões, com um sistema que se tornou cada vez mais sofisticado: há pequenas operações de empresas surgindo só para atender às necessidades dos anfitriões de limpeza e gerenciamento das propriedades. 

Avaliada em US$ 31 bilhões por investidores privados, a startup planejava abrir capital este ano, após uma temporada difícil – empresas da chamada economia compartilhada, como Uber e Lyft, tiveram estreias ruins na bolsa no ano passado. Agora, a empresa está sob pressão para fazer sua oferta pública inicial de ações, pois, caso isso não aconteça,algumas das ações de seus atuais e ex-funcionários na empresa expirarão. Por outro lado, a volatilidade do mercado de ações e um golpe dramático nos negócios devido ao coronavírus podem tornar impensável qualquer empresa abrir seu capital em breve.

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Na semana passada, Brian Chesky, executivo-chefe do Airbnb, enviou um e-mail aos funcionários descrevendo a resposta da empresa ao vírus. Na mensagem, analisada pelo The New York Times, Chesky disse que o Airbnb concederia alguns reembolsos aos clientes e estabeleceria um fundo de US$ 10 milhões para apoiar as operadoras de aluguel chinesas enquanto o turismo no país, onde o surto começou, estiver interrompido. 

"O Airbnb nasceu durante uma crise global", escreveu Chesky, referindo-se à crise financeira de 2008 e sem mencionar os planos de abertura de capital da empresa. "Isso não nos impediu e não vai nos deter agora".O Airbnb enfrenta outras consequências do coronavírus, incluindo um patrocínio das Olimpíadas de Tóquio neste verão que pode estar em perigo se o evento for cancelado. O Comitê Olímpico Internacional disse que estava totalmente comprometido com a realização dos jogos e seguiria o conselho da Organização Mundial da Saúde.

Mas, acima de tudo, o Airbnb está lidando com um potencial declínio na receita porque os viajantes estão cancelando estadias com seus anfitriões. Jasper Ribbers, que administra uma empresa de treinamento para anfitriões do Airbnb na Bulgária, aconselhou aqueles nas regiões afetadas pelo vírus a reduzir os preços noturnos e custos, além de buscar usos alternativos para seus espaços, como encontrar inquilinos para longo prazo. "Alguns anfitriões estão realizando eventos ou permitindo que artistas locais usem os apartamentos para sessões de fotos", disse ele.

Austin Mao, anfitrião do Airbnb em Las Vegas, começou a reduzir os preços do aluguel de suas propriedades no mês passado e disse que continuaria fazendo isso à medida que as reservas desacelerassem. Cada uma de suas casas gerava como receita cerca de US$ 10.000 por mês, com custos fixos de apenas US$ 3.500. Embora ele tenha percebido apenas uma ligeira queda nas reservas no início de março, espera que isso aumente à medida que o medo do coronavírus se intensifica.

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Em Tóquio, Tracey, que é anfitriã pelo Airbnb há oito anos, disse que estava tentando encontrar outro trabalho para suas diaristas, que são pagas por cada faxina. Seu negócio, Tokyo Family Stays, já perdeu mais de US$ 77 mil em reservas entre janeiro e o esperado para abril. O Airbnb não divulgou detalhes sobre os custos dos cancelamentos relacionados ao vírus para o Airbnb. 

A empresa permitiu que as pessoas que viajam de e para a China, a Coreia do Sul e partes da Itália cancelassem suas reservas com reembolso total. E informou que está avaliando individualmente outras situações, incluindo pessoas cujos voos foram cancelados ou que foram impedidas de viajar.

Na terça-feira, o Airbnb anunciou um programa chamado "reservas mais flexíveis" que permitirá que os anfitriões ofereçam reembolsos mais facilmente aos hóspedes. As viagens reservadas até 1º de junho, que não se enquadram na política de circunstâncias atenuantes da empresa, também serão reembolsadas com cupons de viagem para uma estadia futura. Em seu memorando para os funcionários, Chesky tentou permanecer otimista. "O turismo sempre se recupera", escreveu ele. "É uma das indústrias mais resilientes do mundo." / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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