PUBLICIDADE

CEO do Twitter tenta se manter em curso enquanto Musk subverte os planos da empresa

Bilionário transformou Parag Agrawal em alguém cuja influência está com os dias contados

Por Mike Isaac e Kate Conger
Atualização:
Elon Musk havia insinuado que poderia se tornar o novo CEO do Twitter, caso concretizasse a aquisição da rede social Foto: REUTERS/Dado Ruvic

SÃO FRANCISCO - Em uma reunião virtual recente para executivos do Twitter, Parag Agrawal admitiu que estava exausto.

PUBLICIDADE

Agrawal, CEO do Twitter, passou as últimas semanas conduzindo a empresa durante sua venda por US$ 44 bilhões para Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo. Alguns funcionários estavam se rebelando abertamente contra o novo proprietário da plataforma, que havia criticado o serviço da rede social e seus executivos. Outros estavam chateados com as últimas mudanças corporativas propostas por Agrawal. E Musk parece capaz de forçar o atual CEO do Twitter a deixar o emprego.

Na reunião, Agrawal estava “ríspido” em relação aos problemas do Twitter e o furacão de atenção sobre a aquisição por Musk, disseram duas pessoas com conhecimento do encontro. Mas ele também expressou uma sensação de aceitação de sua situação e disse que seguiria em frente com seus planos para a empresa, disseram as fontes.

Agrawal falou das áreas que considera serem fundamentais para melhorar: o principal produto do Twitter, a profundidade tecnológica da empresa, os negócios, a liberdade de expressão em toda a plataforma e, mais importante ainda, como é a liderança. Alguns executivos saíram da reunião revigorados, disseram as pessoas.

Era o que Agrawal podia fazer dadas as circunstâncias. Isso porque entre todos os empregos em tecnologia de maior destaque, o homem de 38 anos está naquele que talvez seja o mais ingovernável.

O executivo nascido na Índia, protegido do cofundador do Twitter Jack Dorsey, está no comando da empresa desde novembro. Esperava-se que ele mudasse o Twitter depois de anos de crescimento e metas financeiras perdidas. Mas Musk entrou em cena poucos meses depois de ele assumir o cargo, basicamente transformando Agrawal em alguém cuja influência está com os dias contados, que deve gerenciar uma força de trabalho inquieta e lidar com os crescentes desafios econômicos do Twitter antes de provavelmente ser expulso da empresa.

“Não há ninguém no mundo que gostaria de estar no lugar dele”, disse Bob Sutton, psicólogo organizacional e professor da Universidade Stanford.

Publicidade

No entanto, mesmo enquanto Agrawal lida com a situação, ele sabe que sairá bem financeiramente dessa situação. Se Musk o retirar do cargo de CEO, Agrawal pode ganhar US$ 60 milhões, de acordo com documentos de valores mobiliários. (Em novembro, ele recebeu um pacote de remuneração de um salário anual de US$ 1 milhão, além de bônus, assim como unidades de ações restritas e unidades de ações baseadas em desempenho avaliadas em US$ 12,5 milhões.)

Agrawal apareceu na reunião anual de acionistas do Twitter que foi realizada virtualmente. Ele e outros executivos disseram que não poderiam discutir os termos da negociação, que os acionistas votarão em uma data posterior, até que a transação seja finalizada. Eles também responderam a perguntas dos acionistas a respeito dos produtos do Twitter, desinformação e a importância das iniciativas de diversidade e inclusão.

O conselho do Twitter também passou por mudanças recentemente. Aquele era o último dia de Dorsey no conselho. E Egon Durban, executivo de private equity e membro do conselho do Twitter, renunciou ao lugar na diretoria depois de não receber votos suficientes dos acionistas para determinar se continuaria no grupo. O conselho do Twitter está avaliando o pedido de renúncia, mas pode recusar e pedir que ele permaneça; a empresa deve tomar uma decisão em breve.

Nos bastidores, funcionários e consultores disseram que Agrawal vem trabalhando com financiadores e integrantes do conselho para fechar a venda do Twitter para Musk, apesar de o bilionário ter sugerido há pouco tempo o desejo de renegociar e ter feito comentários mordazes em relação à empresa.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Agrawal também reforçou seus planos para reformular o Twitter enquanto pode. Em maio, ele demitiu dois altos executivos, interrompeu a maioria das contratações e recuou nos gastos discricionários depois de a empresa não atingir as metas financeiras. Ele também planeja aprimorar os recursos do Twitter usando aprendizado de máquina, quer tornar a plataforma mais atraente para novos usuários e avançar sem demora no lançamento de novos produtos, de acordo com uma apresentação durante uma reunião da empresa em maio.

“Sei que estamos passando por um período de incerteza”, disse Agrawal naquela reunião, de acordo com uma gravação obtida pelo New York Times. “Estamos levando o foco de volta para o nosso trabalho.”

Agrawal entrou no Twitter como engenheiro em 2011, quando estava finalizando seu doutorado em Ciência da Computação em Stanford. Então foi subindo de cargo na empresa de forma constante, tornando-se diretor de tecnologia em 2017. Ele passou a maior parte de sua carreira na empresa e tem mais de 610 mil seguidores na rede social.

Publicidade

Como diretor de tecnologia, Agrawal trabalhou em alguns dos complexos desafios técnicos do Twitter e construiu laços com seus colegas engenheiros e Dorsey.

Ele concordava com a opinião de Dorsey de que o futuro do Twitter dependia da reformulação de sua tecnologia para que pudesse confiar mais no aprendizado de máquina e descentralizar seus serviços para dar aos usuários mais controle sobre suas experiências na plataforma.

Quando Dorsey passou o bastão para Agrawal em novembro, o engenheiro foi de supervisionar alguns funcionários para gerenciar imediatamente mais de sete mil pessoas. “Minha confiança nele como nosso CEO é profunda”, disse Dorsey na época.

Agrawal fez logo mudanças. Dias depois de se tornar CEO, ele demitiu dois altos executivos responsáveis pelas áreas de design e engenharia. E deu aos líderes remanescentes responsabilidades mais amplas. Em e-mails internos aos quais o Times teve acesso, ele enfatizou a transparência, dizendo que a nova estrutura esclareceria quem era responsável por quais tarefas e isso aceleraria a tomada de decisões.

Em janeiro, Agrawal demitiu dois executivos da área de segurança. Em um memorando interno, ele disse que a organização não estava sendo liderada de acordo com suas expectativas, o que estava afetando o trabalho de alta prioridade.

Alguns funcionários do Twitter elogiaram as medidas, dizendo que parte dos executivos demitidos era preguiçosos ou intimidavam os funcionários. Outros ficaram chocados com o fato de Agrawal ter colocado para fora líderes de longa data e o consideraram incompreensível.

Em março, Musk começou a acumular uma grande participação no Twitter. Em 31 de março, Agrawal conversou com Musk para convencê-lo a passar a integrar o conselho do Twitter, de acordo com um documento entregue aos reguladores. No início, Musk concordou, mas depois mudou de ideia. O bilionário disse que também estava considerando a possibilidade de tornar o Twitter uma empresa de capital privado e pensava em talvez iniciar uma nova empresa de rede social, de acordo com o documento.

Publicidade

Foi a primeira experiência de Agrawal com o estilo imprevisível de Musk, que em pouco tempo se tornou rotina. Musk logo lançou uma oferta pública de aquisição pela empresa, fechou o acordo e depois acusou Agrawal no Twitter por questões como contas falsas. Quando Agrawal tentou abordar as preocupações no Twitter, Musk respondeu enviando-lhe um emoji de cocô.

No Twitter, alguns funcionários sentiram a relação com Agrawal azedar, de acordo com dez atuais e ex-funcionários que falaram sob condição de anonimato. Ele disse aos trabalhadores que não poderia compartilhar informações a respeito do acordo com Musk. E também estava inicialmente quieto nas reuniões da empresa, disseram eles, e ausente em um bate-papo interno com funcionários.

Os apoiadores de Agrawal disseram que ele estava legalmente impedido de compartilhar informações em relação ao acordo, segundo duas pessoas a par do tema, e em particular ele expressou suas frustrações por não poder dizer mais sobre a negociação no início. Depois da assinatura do acordo, o Twitter realizou reuniões com funcionários e enviou mais de uma dúzia de e-mails para atualizar os trabalhadores.

Há pouco tempo, o Twitter permitiu que os funcionários fizessem perguntas em relação ao acordo para Vijaya Gadde, chefe do departamento jurídico e de políticas, e Ned Segal, diretor financeiro. Os defensores de Agrawal disseram que ele é mais sociável e agradável em grupos menores. E que as mudanças realizadas por ele eram necessárias há muito tempo, sobretudo em uma empresa que tinha sido resistente a mudanças.

Em mensagens via Slack e nos bate-papos em grupo, outros funcionários manifestaram entusiasmo pela aquisição de Musk, acreditando que a paixão dele pelo Twitter poderia dar um novo gás à empresa.

Mas Agrawal tem críticos. Em reuniões da empresa nas últimas semanas, ele às vezes dizia que nada mudaria “neste momento”. Alguns funcionários zombaram de seus comentários, criando memes dele fazendo essas repetidas garantias, segundo as fontes.

Muitos funcionários permanecem inseguros quanto ao seu futuro na empresa, disseram várias pessoas. Alguns também estão indignados com os generosos benefícios que Agrawal e outros altos executivos receberão caso sejam demitidos após a finalização do acordo com Musk, disseram as pessoas.

Publicidade

Agrawal disse a confidentes que levará adiante seus planos em vez de apenas esperar Musk assumir o cargo. Depois de reduzir gastos e congelar quase todas as contratações da empresa em maio, ele tentou reanimar os trabalhadores.

“Durante esse período de mudança, é fundamental que continuemos a fortalecer nosso trabalho por meio de maior responsabilidade e realização [de ações] para tornar o Twitter tudo o que ele pode ser”, escreveu ele em um e-mail para os funcionários, ao qual o Times teve acesso. “Nosso propósito é existencial.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.