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Chinesa DJI amplia apostas no Brasil

Enquanto a regulamentação para drones não sai, fabricante expande rede de distribuição de produtos e considera abrir escritório no País

Por Claudia Tozzeto
Atualização:
Liderança. DJI detém mais de 70% das vendas de drones Foto: Divulgação

A maior fabricante de drones do mundo, a chinesa DJI, está em uma rota de crescimento. Com mais de 70% das vendas desses dispositivos no mundo, a companhia recebeu US$ 75 milhões em sua última rodada de investimentos liderada pelo fundo Accel – responsável pelos investimentos em empresas como PayPal e Facebook – no início de maio. O dinheiro vai garantir a expansão da chinesa pelo mundo e o Brasil é um dos próximos alvos: os executivos da companhia cogitam abrir o primeiro escritório da marca em Brasília, no Distrito Federal, nos próximos meses. Ele deve ser a base da operação da empresa na América Latina.

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Desde 2014, a DJI distribui seus produtos por meio de algumas revendas especializadas. Agora, porém, o esforço está concentrado em ampliar os canais de distribuição dos produtos. Recentemente, os brasileiros passaram a encontrar os drones da DJI em sites como Americanas.com e Casas Bahia, graças ao modelo de marketplace – em que um terceiro pode usar as gigantes do e-commerce como “vitrine” para seus produtos. Segundo apurou o Estado, a DJI já negocia também um acordo com uma grande varejista no Brasil, que vai permitir a venda dos produtos também em lojas físicas.

O interesse no Brasil não é em vão. Segundo estudo divulgado em maio pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), o Brasil aparece em 15º lugar entre os maiores mercados de drones no mundo – nas contas da consultoria, o mercado global ultrapassa R$ 127 bilhões. “O mercado brasileiro representa em torno de US$ 75 milhões”, diz o sócio da PwC, Norberto Tomasini. “O valor é similar ao de brinquedos controlados por controle remoto, que vale cerca de US$ 100 milhões.”

A comparação faz jus à realidade do mercado brasileiro, que ainda é bastante concentrado no usuário doméstico. Segundo a PwC, os produtos para este público, que têm preço na faixa de US$ 100, representam 80% do mercado. Na região da Santa Ifigênia, famosa rua dedicada ao comércio de eletrônicos em São Paulo, a maior parte dos modelos expostos nas vitrines são para atividades lúdicas. Até mesmo fabricantes de brinquedos, como a Candide, apostaram em desenvolver modelos simples de drones para uso por crianças nos últimos anos.

O grande filão do mercado, porém, ainda está engatinhando no País: a adoção de drones pelas empresas. Produtoras de foto e vídeo, por exemplo, têm encontrado nos aparelhos uma forma mais barata e sofisticada de fazer filmagens aéreas; ao mesmo tempo, companhias das áreas de agronegócio ou infraestrutura já buscam nesses equipamentos uma forma de fazer inspeções de obras ou monitoramento de plantações com menor custo. “Já vi produtoras de vídeo que acabaram se especializando só em captação de imagens aéreas”, diz Luis Neto Guimarães, proprietário da revenda Drone Store, que triplicou as vendas de drones para empresas no último ano. “Um novo mercado nasceu.”

A DJI está de olho no mercado corporativo também, mas ainda não negocia diretamente com grandes empresas e com órgãos de governo no Brasil. Em entrevista exclusiva ao Estado, o fundador e presidente executivo global da DJI, Frank Wang, conta que os aeromodelistas foram os primeiros a usar os drones da marca no Brasil e que as produtoras de vídeo já são um segmento importante. “Por ser um grande país agropecuário e com enorme demanda em infraestrutura, o Brasil vai contribuir muito com nosso faturamento global”, disse Wang.

Segundo o estudo da PwC, quando as empresas passarem a adotar drones de maneira massiva, o mercado brasileiro deve explodir em faturamento – já que um drone para uso profissional, dependendo de sua aplicação, pode custar em torno de US$ 60 mil. “Ainda são poucos os drones já usados em operação comercial”, diz Tomasini. “Mas quando as empresas passarem a usar esses equipamentos, o mercado deve se multiplicar em até 20 vezes.”

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Legislação. Não é só o potencial de demanda que faz o Brasil se tornar atraente para a DJI. O País pode estar entre os primeiros países a ter uma regulamentação específica para uso de drones, o que deve alavancar a adoção desses equipamentos. Hoje, pela falta de regras claras, há poucas empresas dispostas a adotar drones em sua operação. “Não há uma regra que diga a altitude que os drones devem voar ou a rota que devem seguir”, diz Tomasini. “Também não se sabe como os pilotos serão responsabilizados, caso machuquem uma pessoa.”

A regulamentação está sob a tutela da Secretaria de Aviação Civil (SAC), que coordena pelo menos dez órgãos públicos federais na definição das regras. A Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) define as diretrizes da legislação, como a idade mínima de 18 anos para pilotos de drones e contratação de seguro com cobertura para danos a terceiros. Segundo apurou o Estado, a regulamentação para uso de drones deve ser anunciada pelo governo até o início do Jogos Olímpicos, que começam no Rio de Janeiro em 5 de agosto.

/COLABOROU THIAGO SAWADA

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