Cinco mitos sobre o Twitter

Enquanto Jack Dorsey promete tornar a empresa mais transparente e trabalha para combater a desinformação, vale a pena expor alguns dos mitos mais comuns sobre a rede social

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Por Abby Ohlheiser
Atualização:
Cofundador do Twitter, Jack Dorsey voltou há quase dois anos a liderar a plataforma e tentar resolver seus problemas. Ainda não deu certo. Foto: David Paul Morris/Bloomberg

O presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey, está em uma turnê de imprensa nas últimas semanas, em luta pela reputação de sua empresa. Ele está sendo criticado por ambos os lados: à esquerda, ativistas estão irritados porque a plataforma não combateu as teorias da conspiração do ultra-direitista Alex Jones. Por outro lado, à direita, o presidente dos Estados Unidos acusa o Twitter de diminuir acentuadamente as visualizações de publicações de ativistas conservadores, em uma manobra conhecida como “shadow banning”. 

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Como Dorsey promete tornar a empresa mais transparente e trabalha para combater a desinformação, vale a pena expor alguns dos mitos mais comuns sobre o Twitter.

Mito nº 1: o Twitter proíbe sistematicamente os conservadores.

Houve um tempo em que “shadow banning” foi um termo relativamente obscuro, referindo-se a uma das mais antigas técnicas de moderação na Internet – esconder as postagens de outros usuários em uma plataforma sem exibi-las diretamente. Desde então, tornou-se um repositório politicamente carregado para censura, à medida que uma teoria da conspiração das periferias da Internet se infiltrou no predominante, alegando que o Twitter exclui de forma sistemática os conservadores da plataforma por causa da ideologia de seus funcionários. 

Foi assim que o presidente Donald Trump, em um tuíte recente, chegou a afirmar que o Twitter estava “‘reduzindo as visualizações’ dos republicanos proeminentes”. Seu tuíte seguiu-se a um artigo da Vice discutindo o fato de que a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel, e “vários congressistas conservadores republicanos" não estavam entrando automaticamente em um menu suspenso na função de busca do Twitter.

Embora o Twitter realmente limite o alcance de algumas contas, com base em vários fatores, como parte de suas estratégias contra abuso e assédio, o artigo da Vice não provou que a plataforma estava tendo como alvo os conservadores. Mesmo que os legisladores democratas não tenham sido afetados da mesma forma, a questão apareceu para outras contas da esquerda, de acordo com pelo menos um jornalista que testou o preenchimento automático da pesquisa na época.

Em um comunicado, o Twitter disse que as contas não eram limitadas na barra de busca por causa de suas crenças, mas sim com base no comportamento das contas e no comportamento de outras contas que interagiam com elas: “Nossa classificação comportamental não faz julgamentos baseados em pontos de vista políticos ou na substância dos tuítes”, declarou a empresa. 

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A empresa corrigiu os resultados da pesquisa pouco depois de se tornarem virais no Conservative Twitter. A prova mais clara de que esta teoria é falsa pode ser que muitas das vozes que a amplificam, como Trump e o republicano Matt Gaetz, deputado pela Flórida, tenham uma plataforma poderosa para fazer isso: o Twitter.

Mito nº 2: um estagiário gerencia contas de grandes marcas.

Sempre que uma conta de mídia social de uma grande celebridade, marca ou digamos, um jornal tuíte algo particularmente inteligente – ou particularmente ofensivo – você inevitavelmente ouvirá que foi o trabalho de um “estagiário de redes sociais”. Em 2017, por exemplo, o site de cultura A.V. Club creditou a um “estagiário de redes sociais anônimo” por ter a conta da marca KFC seguida por apenas "11 ervas e Spice girls” (sacou?). 

Quando a IHOP disse que estava mudando seu nome para IHOB para promover seus hambúrgueres, uma resposta típica aos seus tuítes sobre a campanha dizia: "Eu sinto muito por você, pobre estagiário de redes sociais, mas você não pode fazer este trabalho." E, claro, o então candidato Trump culpou um estagiário por um retuite repassado manualmente em 2016 ridicularizando os desajeitados.

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Mas em 2018, os estagiários geralmente não ficam encarregados de contas importantes para organizações ou pessoas influentes. Em 2008, com certeza, quando as redes sociais ainda era uma ideia nova. Hoje, gerenciar uma conta de marca importante é mais complicado.

"Os dias de utilizar estagiários para administrar suas contas de redes sociais se foram”, disse Kristin Johnson, diretora de conteúdo e comunicação da Sprout Social, uma empresa de software de gerenciamento, defesa e análise de mídias sociais. Em 2018, administrar uma conta de mídia social significa assumir a responsabilidade de um importante canal de comunicação voltado ao público para essa marca, um trabalho que exige acesso a “informações significativas e, às vezes, confidenciais”.

Tem sido assim há algum tempo. Entre 2010 e 2013, um estudo usando dados do LinkedIn constatou que as postagens para posições de gerenciamento de mídia social aumentaram em mais de 1.000% na plataforma de procura de emprego.

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Mito nº 3: Trump violou as regras do Twitter.

As regras do Twitter impedem conduta odiosa e ameaças violentas. Então, sempre que Trump tuíta algo que parece ser uma ameaça – como quando ele atacou o presidente do Irã em julho – há um apelo viral para bani-lo da plataforma por quebrar as regras. A revista GQ argumentou que a conta de Trump está “muito em violação”. Uma petição da Change.org fazendo lobby para que a conta do presidente seja banida tem mais de 15 mil assinaturas.

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Há apenas um problema: um punhado de brechas legais protege a conta de Trump de entrar em conflito com as políticas do Twitter. A mais importante é uma exceção para “instituições militares e governamentais”. Como a empresa explicou em um post de janeiro, "Bloquear um líder mundial do Twitter ou remover seus controversos tuítes esconderia informações importantes que as pessoas deveriam poder ver e debater". (Ainda assim, Dorsey disse ao BuzzFeed em uma entrevista recente que as brechas legais podem não se aplicar, caso Trump use sua conta para se envolver em um comportamento que viole regras em relação a cidadãos particulares.)

Mito nº 4: A conta de Trump é seguida por um número suspeito de bots.

“A conta ganhou mais de 5 milhões de seguidores em menos de 3 dias. Principalmente bots. Ele está se preparando para algo", tuitou o usuário @th3j35t3r no ano passado. Essa mensagem acumulou mais de 10 mil retuítes antes de ser excluída, disseminando um rumor infundado que se espalhou pelo Twitter e além: Hillary Clinton pareceu citá-la na época para levantar questões sobre o que estava acontecendo com a conta do presidente. Em uma entrevista ao Recode ela se referiu a "novas informações sobre a conta do Twitter de Trump sendo preenchida por milhões de bots".

O Washington Post e outros desmascararam o rumor: Trump não ganhou mais de 5 milhões de seguidores em menos de três dias, como o tweet afirmou, e não chegou nem perto disso. Os seguidores que ele ganhou não eram principalmente bots. No entanto, o mito não vai morrer. Como meu colega do Washington Post, Philip Bump, observou recentemente, quando ressurgiu em outro tuíte viral, há muitas explicações para as novas contas sem rosto que parecem seguir Trump em massa, incluindo o fato de que o Twitter recomenda contas populares para novos usuários - entre eles, Trump. 

E enquanto Trump pode ter um número substancial de bots ou suspeitos de seguidores de bot, os dados sugerem que não é pior do que para outros políticos proeminentes. Quando o Twitter recentemente expurgou suspeitas contas falsas ou automatizadas do site, Trump perdeu 300 mil seguidores, ou 0,58% de seu total. O ex-presidente Barack Obama perdeu cerca de 2% de seus seguidores no expurgo, o que equivale a mais de 2 milhões de contas.

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Mito nº 5: o Twitter é a voz da Internet.

Às vezes, os feeds do Twitter podem parecer livres para todos, onde que todos tentam falar ao mesmo tempo. Por causa disso, há uma tendência a confundir a avalanche de informações como representativa, que é como você obtém todas as manchetes sobre o que a “Internet” está pensando ou sentindo. “O WhatsApp ficou inativo por duas horas e a internet não ficou nada feliz”, diz uma manchete do site especializado The Verge. “A internet odeia os novos uniformes do McDonald's”, declara a revista de gastronomia Food & Wine

Depois vem este dos meus próprios arquivos: “A Internet não deixará Harambe (um gorila morto em 2016) descansar em paz". Em muitos desses artigos, um punhado de usuários do Twitter representa a “Internet” em geral. E ainda há pesquisas no Twitter – aquelas publicações nada científicas sobre posts de múltipla escolha, que são principalmente para diversão, mas chegam a ser citados como reflexo da opinião pública, às vezes até por figuras como Trump.

Mas o Twitter não é representativo da opinião pública. De acordo com uma pesquisa do Centro de Pesquisas Pew de 2018, cerca de 24% da população americana usa o Twitter. Quarenta e seis por cento desses usuários visitam a plataforma diariamente. E, como acontece com muitas redes sociais, os jovens são muito mais propensos a usar o Twitter do que outras faixas etárias pesquisadas, o que significa que seus membros mais ativos não são uma amostra representativa dos diversos habitantes da Internet, sem falar da humanidade em geral. Passar muito tempo no Twitter pode fazer parecer que o mundo inteiro está falando sobre um tópico ou outro. Mas saia da sua linha do tempo azulada e você poderá se surpreender. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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