Cofundador do Twitter quer ‘salvar’ a internet

Depois de dar voz aos extremos no Blogger e no Twitter, Evan Williams luta para fazer da web uma plataforma de comunicação livre e equilibrada

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Por David Streitfeld
Atualização:
Desafio.Evan Williams tenta monetizar conteúdo do site Medium Foto: Jason Henry/NYT

Evan Williams é o cara que abriu a Caixa de Pandora.

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Até ele aparecer, as pessoas tinham poucas opções para expressar suas emoções e opiniões selvagens além de escrever para jornais ou chatear os vizinhos. Ao cofundar o Twitter e criar o Blogger, Williams libertou todos, fornecendo ferramentas para falarem ao mundo. Na história da tecnologia das comunicações, foi um avanço que lembra o de Gutenberg. 

Voltemos a 2017. Como vai indo Williams? 

"Acho que a internet está quebrada", diz ele. Na verdade, ele acredita nisso há alguns anos. Mas as coisas estão piorando, e "é cada vez mais óbvio para muita gente que a web quebrou."

As pessoas vêm usando o Facebook para mostrar suicídios, espancamentos e assassinatos em tempo real. O Twitter é um enxame de trolagem e abusos que parece ter fugido de controle. Notícias falsas, criadas por ideologia ou lucro, proliferam. Segundo uma pesquisa do Pew Center, quatro em dez usuários adultos da internet já foram assediados online. E isso foi antes de a campanha presidencial esquentar, no ano passado. 

“Achei que, com todo mundo podendo falar livremente e trocar informações e ideias, o mundo seria um lugar melhor. Estava errado”, diz Williams. 

O empreendedor do Vale do Silício atraiu atenção inicialmente durante o boom das pontocom, ao desenvolver um software que permitia aos usuários criar rapidamente um website para divulgar seus pensamentos: o blog. Quando o Google comprou a empresa de Williams, em 2003, ela já atinha mais de 1 milhão de usuários. 

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Então veio o Twitter, que não fora sua ideia, mas era sua empresa. Ele permaneceu como maior acionista individual e membro da diretoria. 

Depois da fama e fortuna, vieram as lamentações. Williams está tentando consertar algumas coisas. O mesmo estão fazendo, de modos diferentes, o Google e o Facebook, e mesmo o Twitter. É uma hora de remendos e promessas. 

O problema da internet, segundo Williams, é que ela privilegia os extremos. Digamos que você esteja dirigindo numa estrada e presencie um acidente. Todos olham. Na interpretação da internet, esse tipo de comportamento indica que todo mundo está ávido por acidentes de carro. Então ela tenta suprir a demanda. 

A meta de Williams é quebrar esse padrão. "Se eu concluir que cada vez que dirigir nessa estrada vou ver mais e mais acidentes, pego outra rodovia", diz ele.

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Mas a nova estrada pode ter outros problemas. Por exemplo, pode não ter saída. 

Williams, claro, não é o único que está tentando acabar com essa confusão. Se ele e outros não conseguirem avançar, não solucionarem o que ele chama de "arquitetura do conteúdo, criação, distribuição e monetarização na internet", sobram inquietantes implicações sobre o futuro das notícias e ideias. Talvez só venha a haver acidentes de carro, o tempo todo. O Twitter já parece estar nessa. 

Por cinco anos, Williams vem aperfeiçoando uma plataforma de comunicações chamada Medium. Sua ambição: definir um novo modelo de mídia num mundo que luta sob o peso de conteúdos falsos ou irrelevantes. Medium quer ser social e cooperativo, sem valorizar a destruição. Quer ser uma força do bem. 

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"Um belo espaço para leitura e escrita – e pouca coisa mais", definiu Williams na estreia da plataforma, em 2012. "Seu núcleo são as palavras." O início foi contagiante, com base no histórico de Williams e na facilidade de uso do site. Mas Medium, que já começou fora do passo com quase todas as outras mídias, agora parece habitar um universo diferente. 

Num momento em que tudo parece agito, Medium não tem medo de ser quadrado. Uma de suas páginas é Como Expandir seu Vocabulário. Enquanto as notícias carregam cada vez mais no visual, o site foca nas palavras. E continua procurando abrir espaço para todo tipo de escritores não conhecidos, embora isso possa estar mudando. 

A última encarnação do Medium, revelada em março, inclui uma assinatura mensal de US$ 5. A reação foi avassaladora. “Ev Williams perdeu sua maldita cabeça”, disse a manchete do The Next Web, um dos mais influentes sites de tecnologia dos EUA. 

Para os críticos, o Medium é menos uma empresa que um hobby de Williams com 85 funcionários. “Para começar, a ideia de que alguém vá se dar bem com um site de redação simplesmente privilegiando a qualidade não é compatível com as expectativas do capital de investimento”, disse Bill Rosenblatt, consultor de tecnologia de mídia. “Ninguém, a não ser Ev Williams, criaria algo assim.”

Os apoiadores de Williams dizem que se trata de algo sério, não de uma aventura, e que a escrita precisa de toda experimentação possível. Mas admitem que o caminho será difícil. 

Biz Stone está com Williams no Twitter desde o início. Ele se juntou ao velho amigo no Medium como investidor e membro da diretoria. 

“Ev procurou o empreendimento mais difícil”, afirmou Stone. “Ele disse que quer tornar o ramo de publicações lucrativo. Eu concordei. Como vamos indo? Já chegamos num ponto entre zero e 0,5%.” / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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