Como a Amazon chegou ao clube das empresas de US$ 1 trilhão

Ao inovar e reinvestir lucros, empresa de Jeff Bezos diversificou negócios e atingiu a marca histórica, só alcançada pela Apple

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Jeff Bezos criou a Amazon em 1994 para vender livros pela internet Foto: Michael Nelson/EFE

A Amazon se tornou nesta terça-feira, 4, durante o pregão da bolsa de valores Nasdaq, a segunda empresa americana a atingir US$ 1 trilhão em valor de mercado – a primeira, a Apple, venceu a corrida há cerca de um mês. A principal diferença entre as duas é a velocidade com que conseguiram alcançar este novo patamar. A Apple demorou 38 anos como empresa listada para entrar no clube do trilhão. A Amazon precisou de 21. 

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Fundada em 1994, a empresa de Jeff Bezos viu sua cotação subir vertiginosamente nos últimos meses: desde janeiro, a alta foi de 71% fazendo a empresa ganhar US$ 420 bilhões – ou uma vez e meia o tamanho de seu maior rival, o Walmart. Hoje, ela domina 49% do comércio eletrônico americano. Só no ano passado, a empresa faturou US$ 178 bilhões. 

Mais do que vender muito, em todo tipo de categoria, a receita para o sucesso da Amazon está em dois pontos importantes: inovar e reinvestir lucros. No mercado americano, a empresa é conhecida por evitar devolver dividendos aos cionistas – em vez disso, o presidente executivo, Jeff Bezos, prefere apostar no desenvolvimento da empresa e na experiência dos clientes. “A compra em um clique, hoje em todo o varejo, nasceu assim”, diz Pedro Guasti, diretor da consultoria Ebit/Nielsen. 

Nas nuvens. A busca por um varejo mais eficiente levou à criação de novos negócios, como o serviço de armazenamento em nuvem Amazon Web Services (AWS). “Foi algo que a empresa criou para melhorar sua operação de comércio eletrônico em larga escala, mas que acabou sendo útil para empresas”, diz J. Craig Lowery, diretor da consultoria Gartner. 

É um nicho altamente lucrativo. Entre abril e junho de 2018, a AWS respondeu por 11% da receita, mas 55% dos ganhos da companhia de Bezos. É um negócio que tem margens muito mais interessantes do que o varejo, setor conhecido por números “apertados”. 

Além disso, a nuvem é considerada por analistas como peça-chave para outras ideias da Amazon, como o sistema Alexa, utilizado em caixas de som conectadas de mesmo nome, já usado em larga escala nos EUA. 

Ao expandir seu império virtual, Jeff Bezos faz apostas que podem parecer paradoxais. É o caso da compra da cadeia de supermercados Whole Foods, em 2017, por US$ 13,7 bilhões. Porém, o professor Fernando Meirelles, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que foi a partir dessa tacada que a Amazon começou a ganhar impulso na Bolsa. A aquisição, diz ele, deu à empresa de Bezos vantagem estratégica na hora de distribuir produtos. 

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Segundo turno. O “empurrão final” para o US$ 1 trilhão veio com uma nota publicada pelo banco Morgan Stanley, que definiu que as ações da empresa podem chegar rapidamente a US$ 2,5 mil – ontem, fecharam o pregão a US$ 2.039. Para os especialistas, a Amazon ainda tem muito a crescer, seja nos EUA, onde tem apenas 5% do varejo do país, na Europa ou em mercados emergentes. No Brasil, diz Guasti, a empresa ainda sofre para mostrar a mesma excelência de entrega e atendimento que em outros lugares. “É difícil fazer comércio eletrônico no Brasil ou na Índia, onde há complexidades logísticas bizarras”, avalia William Castro Alves, estrategista-chefe da corretora Avenue Securities. 

Apesar das ressalvas e do fato de a empresa já ter tido percalços pelo caminho, Castro Alves diz que seu apetite por diversificação – tática que inclui o Prime Video, rival do Netflix – deve impulsionar os negócios no futuro próximo. “Eles têm mais agressividade que a Apple para chegar aos US$ 2 trilhões”, diz. 

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