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Como a Microsoft conseguiu valer mais do que a Apple?

A Microsoft está emparelhada com a Apple na disputa pelo título de empresa mais valiosa do mundo, ambas valendo mais de US$ 850 bilhões, graças ao salto de 30% no valor de suas ações nos últimos 12 meses

Por Steve Lohr
Atualização:
Satya Nadella se tornou presidenteexecutivo da Microsoftem 2014 Foto: AP Photo/Ted S. Warren

Há poucos anos a Microsoft era considerada no mundo da tecnologia uma companhia desajeitada e difícil de administrar. Era uma empresa grande e ainda lucrativa, mas havia perdido seu brilho, ficando para trás nos mercados futuros como o de celulares, buscas, publicidade online e computação em nuvem. O valor das suas ações definhou, com um aumento de apenas 3% na década até o final de 2012.

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Hoje a história é bem diferente. A Microsoft está emparelhada com a Apple na disputa pelo título de empresa mais valiosa do mundo, ambas valendo mais de US$ 850 bilhões, graças ao salto de 30% no valor de suas ações nos últimos 12 meses. Como isso aconteceu?

Uso de forças.  Existe uma explicação de curto prazo para a ascensão da Microsoft no mercado e também uma de longo prazo. No curto prazo,a resposta do mercado acionário é de que a companhia se manteve melhor do que outras durante a recente venda de ações das empresas de tecnologia. Os investidores da Apple se mostram preocupados com a desaceleração das vendas dos iPhones.  Facebook e Google enfrentam ataques persistentes sobre o seu papel na distribuição de fake news e teorias de conspiração e os investidores temem que as políticas de privacidade das companhias afetem usuários e anunciantes. 

Mas a resposta mais importante e consistente é de que a Microsoft se tornou exemplo de como uma empresa que já foi dominante pode fazer uso das suas próprias forças e não ficar prisioneira do seu passado. A companhia adotou plenamente a computação em nuvem, abandonou uma incursão equivocada no segmento dos smartphones e voltou às suas raízes como principal fornecedora de tecnologia para clientes corporativos.

A estratégia foi delineada por Satya Nadella logo depois de ele se tornar presidente executivo da empresa em 2014. Desde então o preço das ações da Microsoft quase triplicou.

Aposta na nuvem.  A trajetória da Microsoft na computação em nuvem  – processamento, armazenamento e software oferecido como um serviço pela Internet a partir de centros de dados remotos – foi lenta e por vezes estagnou.

Seus precursores no campo da computação em nuvem remontam à década de 1990, com o serviço online MSN e depois o motor de busca Bing. Em 2010, quatro anos depois de a Amazon entrar no mercado da nuvem, a Microsoft lançou seu serviço. Mas não ofereceu nada comparável ao serviço da Amazon até 2013, dizem os analistas.

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O serviço em nuvem da companhia era um negócio paralelo. O centro de gravidade continuava a ser seu sistema operacional Windows, o elemento chave da riqueza e do poder da companhia durante a era do computador pessoal. Isto mudou depois que Nadella substituiu Steven Ballmer, que foi presidente executivo da Microsoft por 14 anos.

Nadella tornou o serviço em nuvem uma prioridade e hoje a empresa é a segunda maior no segmento, depois da Amazon.E quase dobrou o valor de suas ações para 13% desde o final de 2015, de acordo com o grupo de pesquisa Synergy. As ações da Amazon mantiveram-se firmes em 33% no mesmo período.

A Microsoft também reformulou seus populares aplicativos do Office, como o Word, Excel e Power Point,para uma versão em nuvem,Office 365. Essa oferta agrada as pessoas que preferem usar o software como um serviço de Internet e a Microsoft passou a competir com fornecedores do aplicativo online como o Google. 

A recompensa financeira dessa mudança foi gradativa no início, mas vem se acelerando. No último ano, até junho, a receita da empresa subiu 15%, para US$ 110 bilhões, e o lucro operacional cresceu 13%, para US$ 35 bilhões.

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“Essencialmente, Satya Nadella promoveu uma mudança drástica para a nuvem”, disse David Yoffie, professor da Harvard Business School. “Ele colocou a Microsoft de volta nos negócios de forte crescimento”.

É a percepção de que a Microsoft está na trilha do forte crescimento que estimulou o aumento do preço de suas ações. 

Abandono de apostas fracassadas. Quando a Microsoft adquiriu a unidade de celulares da Nokia em 2013, Ballmer elogiou a compra como um “salto corajoso para o futuro”. Dois anos depois, Nadella largou esse futuro, assumindo uma despesa de US$ 7,6 bilhões, quase o valor total da compra, e cortou 7.800 funcionários.

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A Microsoft não iria competir com líderes da tecnologia de smartphone, como Apple, Google e Samsung. Inversamente, ela se concentrou no desenvolvimento de aplicativos e outros software para clientes empresariais.

A Microsoft tem uma franquia de sucesso que é o Xbox. Mas é uma unidade separada e embora gere uma receita de US$ 10 bilhões, este valor ainda é menos de 10% das vendas totais da empresa.

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Sob o comando de Nadella a companhia se soltou. O sistema operacional Windows não é mais seu centro de gravidade, ou sua âncora. Os aplicativos Microsoft rodam não só no Macintosh da Apple, mas também em outros sistemas operacionais. O software livre e de fonte aberta,antes rejeitado pela Microsoft, foi adotado como ferramenta vital para o moderno desenvolvimento de software.

Segundo Nadella, “precisamos ser insaciáveis em nosso desejo de saber o que ocorre fora e trazer esse conhecimento para a Microsoft”. Foi o que ele escreveu em seu livro “Hit Refresh” publicado no ano passado.

O desempenho financeiro da companhia e o preço de suas ações sugerem que a sua fórmula está funcionando. “A velha visão do mundo centralizada no Windows sufocou a inovação”, disse Michael Cusumano, professor da Sloan School of Management do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “A companhia mudou culturalmente. Hoje a Microsoft é novamente um lugar fascinante para trabalhar”.Tradução de Terezinha Martino 

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