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Como fica a divisão da fortuna no divórcio de um bilionário da tecnologia?

Um casal está a caminho da corte que decidirá como será a partilha uma fortuna que começou a ser formada nos primórdios do Google - e inclui valiosas propriedades na Califórnia e ações na bolsa

Por Daisuke Wakabayashi
Atualização:
Allison Huynh é a ex-mulher deScott Hassan, conhecido como o terceiro fundador do Google Foto: Cayce Clifford/The New York Times

Em 2014, Scott Hassan, conhecido por alguns como o terceiro fundador do Google, mandou Allison Huynh, com quem era casado havia 13 anos, uma mensagem de texto afirmando que seu matrimônio tinha acabado e que ele estava se mudando para outro lugar.

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Quase sete anos depois, o casal ainda está enrolado em litígios judiciais a respeito de como dividir um patrimônio que inclui investimentos em tecnologia e propriedades de luxo na Califórnia, cujo valor é estimado em bilhões de dólares.

Um julgamento no mês passado ofereceu um incomum vislumbre público de detalhes a respeito de um divórcio no Vale do Silício. Eles incluem a tentativa mal-sucedida de Hassan de persuadir Allison a assinar um chamado pacto pós-nupcial e ele ter admitido que criou um website no nome da ex-mulher para tornar públicas informações embaraçosas a respeito do passado dela.

Bilionários do setor da tecnologia normalmente se divorciam silenciosamente, a portas fechadas - alguns deles várias vezes. Ainda que os detalhes por vezes desagradáveis dos términos de relacionamento com frequência encontrem caminho até as manchetes, é raro que os casais estejam dispostos a trocar golpes em um tribunal público e expor a complexa rede de suas finanças pessoais.

Quando o cofundador do Google Sergey Brin e Anne Wojcicki, que criou a empresa de testes genéticos 23andMe, se separaram após um casamento de oito anos, em 2015, eles contrataram um árbitro privado para acertar os detalhes. Os recentes divórcios de Bill Gates e de Jeff Bezos também foram tratados de maneira privada.

Allison e Hassan, porém, se encontraram na corte do Condado de Santa Clara, Califórnia, desprovidos da privacidade que o dinheiro pode comprar. Exatamente por que isso aconteceu é motivo de disputa. Ela disse que Hassan se recusou a tratar do caso em arbitragem privada. Ele disse que arbitragem privada não manteria necessariamente a privacidade do processo e faria com que eles tivessem de pagar um juiz aposentado ou um advogado neutro.

Allison acusou Hassan de fazer “terrorismo de divórcio”, usando táticas legais para que o processo se arrastasse. Em uma entrevista, Allison, de 46 anos, afirmou que Hassan tinha lhe falado que planejava “enterrá-la” e garantir que ela “não fique com nada”.

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Hassan, de 51 anos, negou ter dito isso em respostas por escrito a perguntas do New York Times. “No fim de um relacionamento e durante um processo de divórcio tão longo, as coisas nunca são fáceis, e ninguém mostra o melhor lado de si”, escreveu ele.

Hassan não é muito famoso, certamente não como Brin ou Larry Page, os homens que recebem o crédito por ter criado o Google. Mas sem a contribuição de Hassan, o Google poderia não ter passado de um projeto de ciência da computação na Universidade Stanford.

Hassan foi assistente de pesquisa no departamento de ciência da computação de Stanford, o que fez dele programador residente de muitos estudantes de doutorado, até que conheceu Page, um candidato à vaga de doutorado. Hassan reescreveu o código de um rastreador da rede que Page havia criado para entender a relação entre links em diferentes websites. E também trabalhou com Brin para construir uma ferramenta de buscas, que por fim se tornou o Google.

Quando Page e Brin fundaram o Google, em 1998, Hassan comprou 160 mil ações da empresa, por US$ 800. Quando o Google abriu o capital, em 2004, as ações valiam mais de US$ 200 milhões. Atualmente na empresa-mãe do Google, a Alphabet, as ações estariam avaliadas em US$ 13 bilhões.

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Ainda que Hassan nunca tenha trabalhado no Google, ele foi um dos fundadores de uma empresa chamada eGroups, que foi vendida para o Yahoo em 2000 por US$ 432 milhões em ações. Ele também fundou duas empresas de robótica.

Hassan conheceu Allison por meio de amigos que o casal tinha em comum em Stanford, em 2000. Ela havia emigrado do Vietnã para os Estados Unidos após a guerra e tinha bolsa de estudos em Stanford. Allison afirmou que havia largado a faculdade poucos anos antes de conhecer Hassan, para buscar oportunidades durante a explosão das empresas pontocom. Ela trabalhava como consultora e desenvolvedora web, criando sites para clientes como Wells Fargo.

Em 2001, cinco dias antes do Natal, eles se casaram na Little White Chapel, em Las Vegas. Nenhum pacto antenupcial foi discutido, e eles mal falaram de finanças, ambos relataram.

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Allison afirmou que sustentou financeiramente a família nos primeiros anos. Ela disse que Hassan tinha uma dívida de US$ 60 mil, então ela com frequência pagava por comida, viagens e diversão - incluindo a festa de noivado do casal, a que Page e Brin compareceram.

Hassan afirmou que isso não é verdade e que na época em que eles se casaram ele contava com segurança financeira e não tinha nenhuma dívida. Além das ações do Google, que ainda eram um investimento especulativo na época, ele era dono de uma casa em San Francisco e possuía US$ 8 milhões em ações do Yahoo - que tinham perdido a maior parte de seu valor após a venda de sua empresa - e ações da Amazon, afirmou ele.

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Allison afirmou que interrompeu sua carreira para criar as crianças e ajudar Hassan nos negócios. A questão do dinheiro surgiu no quarto ano do casamento, mais ou menos na época em que sua filha completou 2 anos.

Menos de um ano depois de o Google abrir o capital, Hassan propôs um acordo para Allison abrir mão de futuras reivindicações a respeito de bens do casal. Hassan ofereceu US$ 20 milhões em ações do Google a Allison - menos de 10% das ações que possuía - e metade de três empreendimentos imobiliários na Área da Baía de San Francisco: casas em Palo Alto e San Francisco e um prédio comercial em Menlo Park. Ela se sentiu ludibriada e magoada. E recusou.

Hassan afirmou que propôs o acordo para dividir parte de sua nova riqueza.

Naquele mesmo ano, eles se mudaram para uma casa maior em Palo Alto, em um dos bairros mais ricos da cidade. Allison vive na residência de 700 metros quadrados, avaliada em US$ 20 milhões, em Redfin, com as crianças.

Ainda assim, Allison afirmou que Hassan dava pouco sinal de que estava infeliz. Em 2014, porém, enquanto viajava a negócios pela MyDream, uma empresa de realidade virtual que criou em 2011, ela recebeu uma mensagem de texto de Hassan informando-a que o casamento havia acabado e que ele estava saindo de casa, afirmou ela.

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“Fiquei chocada”, disse ela. “Eu repetia para ele, ‘Você deve estar de brincadeira’.”

Hassan disse que isso não deveria tê-la surpreendido. Ele afirmou que ambos haviam tido uma briga grande poucos dias antes, quando ela o acusou falsamente de infidelidade na frente das crianças. Ela afirmou que nunca o acusou de infidelidade, mas questionou-o a respeito do longo tempo que passava fora de casa.

Depois de algumas tentativas de terapia de casal, Allison e Hassan se separaram, em janeiro de 2015.

O casal se divorciou oficialmente em maio de 2020 e concordou em compartilhar a guarda dos três filhos adolescentes.

O julgamento foi parte de um extenso processo legal destinado a dividir o patrimônio e resolver outras questões financeiras, incluindo pensões. A Califórnia é um dos nove Estados americanos em que bens adquiridos durante o casamento são divididos igualmente em caso de divórcio.

Com a aproximação do julgamento, a disputa engrossou. No mês passado, Allison encontrou um website com uma foto sua, links para suas redes sociais e reportagens a respeito dela; que também incluía documentos de um processo movido contra ela 20 anos atrás e detalhes íntimos de um relacionamento anterior.

O website omitia a identidade do autor. Mas Allison por fim descobriu que uma pessoa chamada Scott Wendell havia postado os documentos judiciais. Wendell é o nome do meio de Hassan.

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Hassan admitiu que produziu o site em “um momento de frustração”, porque Allison e seus advogados estavam contando “histórias parciais” à imprensa. “Entendo que essa não foi a maneira correta de tratar do assunto, e isso acabou tornando nossa disputa somente mais pública e tensa”, escreveu ele em um e-mail ao Times. Hassan afirmou que tirou o site do ar.

Allison, que completou sua graduação em Stanford no ano passado, afirmou que o website poderia ter prejudicado sua reputação no momento em que ela tentava abrir novos negócios, incluindo o lançamento de um videogame para dispositivos móveis, o Adoraboos, que tem o objetivo de ensinar crianças a respeito de blockchains e criptomoedas.

Hassan afirmou que, apesar de não concordar com sua ex-mulher a respeito do que seria justo, ele não acredita que ela deveria ficar de mãos abanando.

“Não tenho dúvida nenhuma que chegaremos a uma resolução que fará dela uma mulher com riqueza suficiente para durar várias gerações”, afirmou Hassan. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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