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Coronavírus afeta economia do compartilhamento

Com modelo de negócios baseado em divisão de recursos e movimentação das pessoas pelo mundo, empresas como Uber, Lyft e Airbnb ganham mais um obstáculo para serem lucrativas

Por Kate Conger e Erin Griffith
Atualização:

A pandemia de coronavírus destruiu a chamada economia do compartilhamento. As empresas mais valiosas do ramo, como Uber, Airbnb e Lyft, começaram o ano prometendo que logo se tornariam lucrativas. Agora, startups que prometeram revolucionar a economia como a conhecemos dizem que a demanda de seus consumidores praticamente desapareceu. E não parece nada provável que retorne tão cedo. 

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Nos relatórios financeiros sobre o primeiro trimestre, Uber e Lyft mostraram o quão fundo o buraco está. As duas empresas disseram que quase todos os seus rendimentos caíram em março, o último mês do primeiro trimestre, à medida que os pedidos de que as pessoas permanecessem em casa se espalhavam pela Europa e pelos Estados Unidos.

Esse cenário se estende para outros setores. A startup de compartilhamento de residências para hospedagem Airbnb começou o ano avaliada em US$ 31 bilhões. A empresa esperava abrir capital até o fim de 2020. Em vez disso, teve de reduzir custos, levantar fundos de emergência e demitir 1,9 mil trabalhadores – cerca de 25% de seu quadro de funcionários. 

Motorista do Uber em Nova York: empresa viu queda na receita Foto: Jeenah Moon/Reuters

Também cortou sua previsão de receita para este ano para metade do que alcançou no ano passado. E viu sua avaliação cair para US$ 26 bilhões. “Embora saibamos que os negócios do Airbnb vão se recuperar totalmente, as mudanças que sofreremos não são temporárias ou de curta duração", escreveu Brian Chesky, presidente executivo do Airbnb, em um memorando para os funcionários.

Retorno distante

É uma mudança de cenário. Essas empresas cresceram com base em uma noção: a de que deveriam crescer muito, o mais rápido o possível, se preocupando em ter lucros só em algum momento. Agora, elas enfrentam futuro incerto e seus prazos para operar no azul parecem, ao menos por agora, terem sido descartados. 

Mesmo quando as pessoas voltarem aos escritórios e começarem a viajar, a pandemia pode mudar a forma como se comportam nos próximos anos. Na visão de Daniel Ives, diretor de pesquisas da corretora Wedbush Securities, 30% da chamada economia dos bicos (“gig economy”, outro apelido da economia do compartilhamento) pode desaparecer nos próximos dois anos – e uma parte disso, sem qualquer chance de retorno futuro. 

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"Com base em nossa análise da ‘economia dos bicos’ e dos consumidores, infelizmente, há uma porção de pessoas que não entrará num Uber ou usará um Airbnb até que haja uma vacina para o coronavírus”, disse o analista. 

Os números vão mudar bastante. No Airbnb, por exemplo, imóveis requisitados eram desocupados e ocupados no mesmo dia por hóspedes. Agora, para maior segurança, será possível optar por se hospedar em um local que ficou de 24 a 72 horas sem receber outra pessoa. Será preciso também intensificar os padrões de limpeza – o que aumenta os gastos dos anfitriões, as pessoas que colocam seus imóveis à disposição na plataforma. 

Região de Shibuya Ku, em Tóquio: turismo foi afetado pela pandemia e causou reflexos no Airbnb Foto: Loulou d'Aki/The New York Times

O segundo trimestre, todo já marcado pelo período de isolamento social, será especialmente difícil para essas empresas. Segundo Ives, a receita do Uber e do Lyft podem cair até 69% no período que abrange abril a junho. O Lyft disse que as viagens em seu serviço caíram quase 80% no final de março e permaneceram em queda de 75% em meados de abril. Em maio, os passageiros começaram a retornar cautelosamente à Lyft, mas as viagens ainda estão 70% abaixo do esperado, disseram os executivos da Lyft em uma teleconferência com analistas financeiros.

"Essas são as duras verdades que estamos enfrentando", afirmou Logan Green, presidente executivo da Lyft. No final de abril, a Lyft demitiu 17% de seus funcionários. Os executivos tiveram um corte de 30% nos salários e os dos funcionários foram cortados em 10%.

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Já o Uber informou que a receita no primeiro trimestre cresceu 14% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, mas as perdas da empresa aumentaram 190%, chegando a US$ 2,9 bilhões. "Não vou suavizar a situação. A covid-19 teve um impacto dramático nas viagens”, disse o presidente executivo Dara Khosrowshahi. O uso do serviço de transporte da Uber caiu 80% em abril, disse ele. Mas a Uber viu um ponto positivo em sua entrega de alimentos, que cresceu 89% desde o ano anterior, com exceção da Índia.

Embora a Uber ainda não tenha dado uma nova data na qual espera se tornar rentável, Khosrowshahi disse que a pandemia "afetará nosso cronograma em trimestres, não em anos". Apesar disso, a empresa teve de demitir 14% de seus funcionários em todo o mundo – o equivalente a 3,7 mil pessoas. 

Analistas financeiros esperam que as empresas comecem a se recuperar à medida que os consumidores retornarem ao trabalho. Elas ainda têm muitas reservas financeiras.A Uber tem US$ 9 bilhões e Lyft tem mais de US$ 2 bilhões. Antes do vírus, o Airbnb tinha US$ 3 bilhões em caixa em seu balanço; desde então, levantou US$ 1 bilhão em financiamento e garantiu um empréstimo de US$ 1 bilhão. 

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Além disso, apesar da crise, as empresas não tem visto quedas significativas na bolsa de valores – o que, em última medida, sempre é um bom sinal. "Todos os investidores estão tentando descobrir setores que a pandemia transformará permanentemente para melhor ou permanentemente para pior", disse Tom White, analista de pesquisa da empresa financeira D.A. Davidson. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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