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Delatora do Facebook faz propostas para melhorar a rede social; veja quais são

Regulamentação sobre algoritmos, criação de agência independente e idade mínima para plataformas digitais foram citadas como intervenções em redes sociais

Por Daniel Tozzi e e Guilherme Guerra
Atualização:
Facebook foi negligente com os próprios problemas da plataforma, diz ex-funcionária no Senado americano Foto: Dado Ruvic/Reuters - 4/5/2021

Em audiência no Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira, 5, a ex-funcionária do Facebook Frances Haugen, que trabalhou como gerente de produto na equipe de integridade cívica da empresa, criticou o modelo de negócio da companhia fundada por Mark Zuckerberg, que teria sido negligente com os problemas internos das plataformas do grupo.

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Além das críticas, Frances também fez propostas para que as autoridades intervissem no Facebook. Segundo ela, o enfoque em moderação de conteúdo, como tem sido feito, foge do escopo das plataformas digitais, que, na verdade, controlam os algoritmos — ele é que deveriam passar por auditoria externa e serem expostos publicamente, diz ela.

“Não consertaremos isso sem a ajuda do Congresso”, afirmou Frances na audiência. “Esses problemas podem ser resolvidos. Acredito no potencial do Facebook de conectar sem ferir nossa democracia. Mas o Facebook não fará essa mudança por conta própria. Aceitei o risco pessoal de vir a público porque acredito que ainda temos tempo para agir”. 

Leia abaixo as propostas de Frances na audiência desta terça-feira

Só para grandinhos

Sem entrar em detalhes, Frances defendeu a possibilidade de o Facebook aumentar a idade mínima para entrar nas redes sociais do grupo, saindo dos atuais 13 anos de idade. Para ela, o ideal deveria ser que somente usuários maiores de 16 anos ou 18 anos pudessem acessar a plataforma.

Pais devem estar melhor informados 

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Em depoimento, Haugen também disse que existem documentos do próprio Facebook relatando o que a empresa sabe sobre os danos que a rede social causa nos jovens. Segundo ela, essas informações deveriam ser divulgadas para alertar especialmente os pais sobre os riscos que as redes sociais provocam nos filhos e “o quão perigosas elas podem ser”. “O mínimo que o Facebook deveria fazer é divulgar o que a empresa sabe sobre esse contexto”, afirmou.

Esconder 'curtidas' não basta

Haugen afirmou ainda que, quando o assunto é a saúde mental e a autoestima dos jovens, a tática de “esconder curtidas” não é suficiente. Apesar de não ter dado uma saída concreta para o problema, ela comentou que os adolescentes conseguem perceber quando uma postagem teve mais audiência do que outra, o que exige intervenções maiores do que apenas remover medidas quantitativas.

“Enquanto comentários forem permitidos em posts do Instagram, apenas retirar a visibilidade das curtidas não é o bastante para consertar o problema”, explicou a ex-funcionária. 

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Nos últimos anos, o Instagram disponibilizou uma função que “esconde” o número total de curtidas em uma postagem, como tentativa de reduzir a pressão dos usuários por popularidade nas redes. A empresa, porém, desistiu do teste neste ano e voltou a exibir os números caso o usuário queira. 

Regulamentação sobre algoritmos

Segundo a ex-funcionária, a atual legislação americana deveria se atentar mais ao funcionamento de algoritmos, e menos em moderação de conteúdo nas plataformas, já que as gigantes de tecnologia conseguem ter controle sobre os sistemas que elas mesmas criaram, e não sobre o que é postado pelos usuários.

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A medida seria uma reviravolta na Seção 230, peça legislativa americana que garante regras sobre liberdade de expressão e moderação de conteúdo na internet, sobre regulações de proteção de dados e a Lei de Proteção à Privacidade da Criança na Internet.

Agência independente

A ex-funcionária do Facebook propõe a criação de uma agência governamental independente com especialistas para estudar ou auditar o impacto de grandes plataformas digitais e, dessa maneira, criar uma legislação mais apurada. Atualmente, o mundo conta apenas com agências de proteção de dados, que não tem competência para estudar como funcionam os algoritmos das plataformas.

“Ajustes em regulações de proteção de privacidade desatualizadas não serão suficientes”, disse Frances, em referência a entidades semelhantes às autoridades criadas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil e pela semelhante europeia, o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados.

Na opinião dela, um ponto de partida seria o acesso total aos dados da plataforma para pesquisas externas: “Com base nisso, podemos construir regras e padrões sensatos para lidar com os danos ao consumidor, conteúdo ilegal, proteção de dados, práticas anticompetitivas, sistemas algorítmicos e muito mais.”

Desmembrar não é solução

Questionada sobre a necessidade de desmembrar o Facebook, que adquiriu na última década empresas como Instagram e WhatsApp para formar um império das redes sociais, Frances disse ser contra medidas desse tipo.

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“Os problemas envolvem desenhos de algoritmos e inteligência aritficial”, disse ela, sinalizando que os executivos poderiam seguir tomando decisões erradas mesmo se o Facebook e o Instagram fossem empresas separadas.

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