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Desafio de novo CEO do Twitter é em política e não em engenharia

O engenheiro assumiu a cadeira de Jack Dorsey na empresa nesta semana e vai ter que lidar com assuntos de regulação à frente do Twitter

Por Will Oremus e Elizabeth Dwoskin
Atualização:
Parag Agrawal é novo presidente executivo do Twitter Foto: YouTube

No primeiro dia de trabalho de Parag Agrawal como CEO do Twitter, republicanos do Congresso americano usaram um tuíte que ele postou em 2010, fora do contexto, para sugerir que ele é tendencioso contra pessoas brancas. No segundo dia, o Twitter revelou uma nova política formulada de maneira confusa que proíbe o compartilhamento de “mídia privada”, o que atraiu fogo imediato tanto da esquerda quanto da direita.

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Isso tudo antes de Agrawal ser formalmente apresentado como o novo CEO da empresa em uma reunião geral na terça-feira, 7, após o tuíte surpresa da demissão do CEO, Jack Dorsey, em uma segunda-feira que deveria ser um "dia calmo" para os funcionários do Twitter.

Agrawal, que aos 37 anos se torna o CEO mais jovem de uma empresa do ranking da Fortune 500, foi escolhido por unanimidade para suceder Dorsey pelo conselho de diretores do Twitter, de acordo com um comunicado oficial na segunda-feira, 6. Na reunião geral de terça, de acordo com funcionários presentes, Dorsey enfatizou a formação de Agrawal em engenharia e o fato de que ele subiu na hierarquia ao longo de uma década no Twitter, ao considerá-lo a escolha ideal para liderar a influente empresa de mídia social.

Contudo, vários funcionários atuais e ex-funcionários, que falaram sob condição de anonimato para discutir assuntos delicados, disseram que internamente, Agrawal foi uma escolha inesperada – embora não necessariamente indesejada – para uma das funções de liderança mais difíceis no Vale do Silício. Tendo aderido ao Twitter antes de completar seu programa Ph.D. da Universidade de Stanford em 2011, ele passou lá grande parte de sua gestão sem subordinados diretos, disseram dois desses funcionários.

Na condição de diretor de tecnologia, ele também tinha limitada vivência para lidar com as espinhosas questões da política de conteúdo – o que as pessoas podem postar nas redes sociais – que tornam o Twitter uma influente força no discurso global e um alvo de críticas e de regulamentação por parte de governos e atores políticos ao redor do mundo.

“Agrawal precisa encontrar a forma como o Twitter deveria responder a uma enxurrada de projetos de lei no Congresso, que buscam controlar as empresas de mídia social, e a uma nova presidente (da Comissão Federal de Comércio — FTC, na sigla em inglês), que fixou um alvo nas plataformas proeminentes”, bem como ataques do ex-presidente Donald Trump e da direita, disse Paul Barrett, vice-diretor do Centro Stern para Empresas e Direitos Humanos da Universidade de Nova York, por e-mail. Se Trump se candidatar novamente, “a pressão para readmiti-lo na plataforma será enorme. Profundos conhecimentos de engenharia não resolverão esse problema”.

Em vez disso, dizem os insiders, suas incríveis habilidades de engenharia, seu alinhamento com a visão de Dorsey de um futuro "descentralizado" para a mídia social e sua reputação relativamente incontroversa dentro da empresa ajudaram a torná-lo uma escolha sobre outros candidatos internos talvez mais óbvios em um processo de sucessão muito bem protegido e não transparente.

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Embora Dorsey tenha dito aos funcionários de todos os níveis que a empresa havia "derrotado" os acionistas ativistas e que a decisão de se demitir era unicamente dele, pelo menos uma pessoa de fora da empresa — que estava familiarizada com o processo —sugeriu que teria sido a pressão desses acionistas e membros do conselho que pensam como ele, o que acabou levando à sua saída. Embora esse timing dependesse de Dorsey, disse a pessoa que falou sob condição de anonimato, sua saída da empresa foi “o ápice de uma conversa que a Elliott Management iniciou quando fez seu investimento no Twitter no início de 2020”.

A porta-voz do Twitter, Liz Kelley, divulgou um comunicado dizendo que o conselho havia formado um comitê independente em 2020 para avaliar a liderança do Twitter e criar um plano de sucessão de CEO. O Twitter também reiterou que a decisão foi de Dorsey.

Kelley rejeitou a ideia de que Agrawal é ingênuo em política ou sem experiência em gestão. Ela disse que ele foi fundamental para revisar um documento de 2020 que apresentou a abordagem estratégica da empresa à política e que liderou o processo de construção de um software de aprendizado de máquina que remove automaticamente o conteúdo que viola as regras do Twitter. Em um recente treinamento de gestão, ela acrescentou, Agrawal liderou a equipe de engenharia da plataforma da empresa – uma grande equipe técnica com centenas de colaboradores.

Neste momento, Agrawal se torna o rosto público de uma plataforma que é frequentemente criticada pela direita por moderar o discurso de forma muito agressiva e pela esquerda por não moderar o discurso de forma agressiva o suficiente. Sua decisão de encobrir um tuíte de Trump no ano passado – antes que qualquer outra empresa de tecnologia agisse contra ele – exemplificou o poder político descomunal do papel que Agrawal assume. Dorsey foi chamado ao Capitólio cinco vezes, e é provável que Agrawal também o seja em breve, já que o Congresso continua de olho em novos regulamentos sobre plataformas de mídia social.

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Agrawal trará uma mente aguçada, dizem aqueles que o conhecem, mas pouca ou nenhuma experiência na esfera política. Apesar disso, outros poucos CEOs de Big Techs tinham experiência política quando chegaram ao cargo principal. E a pressão que o conselho do Twitter enfrentou dos investidores foi menos sobre as nuances de suas decisões políticas e mais sobre o desenvolvimento de novos produtos populares que estimulariam o crescimento do usuário, bem como ofereceria um apelo mais convencional.

Uma razão para a seleção de Agrawal, dizem os insiders, é que ele parecia estar em sintonia com Dorsey em uma visão para o futuro da empresa. Esse futuro enfatizará a descentralização e o software de código aberto. Agrawal foi o principal proponente de um projeto financiado pelo Twitter, chamado Bluesky – uma organização independente criadora de softwares que poderiam ser compartilhados por diferentes empresas de mídia social.

Um dos funcionários descreveu Agrawal como um "cara de grandes ideias"mas que não se afirmou como gestor, não gosta de lidar com detalhes e "não é o melhor no trato com as pessoas". Mesmo assim, aquele funcionário ficou “bastante feliz” com a escolha, porque Agrawal tem uma postura atenciosa e respeitosa.

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“As pessoas geralmente parecem que estão felizes com Parag, mas principalmente porque ele é a melhor escolha entre uma porção de opções ruins”, disse outro funcionário.

Não foram divulgados os nomes dos outros candidatos considerados para o cargo e o Twitter se recusou a comentar. Mas o nome que surgiu em especulações internas e externas foi o de Kayvon Beykpour, chefe de produtos de consumo da empresa, que supervisionou o lançamento de vários novos recursos nos últimos anos, incluindo as salas de áudio ao vivo: o Twitter Espaços.

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Três desses funcionários concordaram que o estilo agressivo de gestão de Beykpour o teria tornado uma escolha fragmentadora. Um deles disse que estavam preparados para sair do emprego se Beykpour fosse escolhido. E dois observaram que Beykpour e Agrawal nem sempre estiveram de acordo.

A pessoa de fora da empresa que disse estar familiarizada com o processo de decisão confirmou que a sólida reputação da Agrawal entre as bases teria sido um fator.

“Ele é como ‘prata da casa’, internamente, altamente respeitado dentro da empresa e não causaria disrupção”, na condição de novo CEO, disse a pessoa. A fonte também citou o CEO da Microsoft, Satya Nadella, e o CEO do Adobe, Shantanu Narayen, como exemplos de candidatos internos com pouco reconhecimento de nomes que emergiram como líderes capazes em suas respectivas empresas.

Vijaya Gadde, chefe de política do Twitter, também é alguém altamente respeitado internamente, disseram os atuais e ex-funcionários, e teria sido uma escolha forte para lidar com o Congresso e os legisladores. Mas ficou claro que os líderes e investidores da empresa preferiam alguém com experiência em engenharia ou desenvolvimento de produtos.

Embora Agrawal não tenha experiência formal em gerenciamento de equipe de política, ele tem sido um importante implementador de iniciativas que tentam equilibrar a liberdade de expressão com a proteção de usuários contra danos como intimidação e desinformação, bem como iniciativas para abrir os algoritmos da empresa ao escrutínio público, disse um executivo sênior do Twitter, que falou sob condição de anonimato.

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Por exemplo, o Twitter foi a primeira das principais plataformas a cobrir o conteúdo com etiquetas de advertência que avisam as pessoas que um tuíte interessante pode ser problemático e a criar um pop-up pedindo às pessoas que reservem um momento para verificar se desejam retuitar um tuíte específico. 

“Parag seria a pessoa que traria tudo isso à vida internamente”, disse o executivo. “O Twitter sempre foi uma 'empresa focada no produto', mas conforme o futuro da Internet se volta mais sobre padrões para algoritmos e descentralização, ele tem sido uma voz importante na construção de ferramentas para transformar essas metas políticas em realidade”.

Um dos outros funcionários do Twitter ofereceu uma avaliação menos brilhante. “Ele não é ativamente prejudicial”, disse o funcionário. “Já vi homens piores irem adiante com menos”./TRADUÇÃO DE ANNA MARIA DALLE LUCHE

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