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Musk se oferece para comprar 100% do Twitter por US$ 43 bilhões

Bilionário formalizou desejo de controlar a empresa e acrescentou que precisa fechar capital da companhia para realizar mudanças necessárias

Foto do author Guilherme Guerra
Foto do author Bruno Romani
Por Guilherme Guerra e Bruno Romani
Atualização:
Elon Musk, fundador da SpaceX; bilionário quer comprar 100% do Twitter Foto: Mike Blake/ Reuters

O bilionário Elon Musk, dono da Tesla e SpaceX, formalizou na quarta-feira 13 o desejo de tomar controle do Twitter e comprar integralmente a empresa, a US$ 54,20 por ação ou a US$ 43 bilhões no total. Os documentos foram protocolados nesta quinta à autoridade de regulamentação de capitais dos Estados Unidos (a SEC), equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil.

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Em carta enviada ao presidente do conselho da plataforma, Bret Taylor, Elon Musk escreve que o Twitter tem um “potencial extraordinário” a se destravar. Apesar disso, em crítica à atual gestão da companhia, o bilionário afirmou que a empresa “não irá ter sucesso nem servir ao imperativo da sociedade em sua forma atual”. 

Outro ponto na carta é o desejo em tirar o Twitter do mercado aberto de capitais, tornando-se empresa fechada. “O Twitter precisa ser transformado em uma companhia privada”, acrescentou. A abertura de capital do Twitter ocorreu em 2013.

“Esta é a minha oferta final e, se não for aceita, devo reconsiderar minha posição como acionista”, escreveu Musk em texto. “Isso não é uma ameaça. Apenas não seria um bom investimento sem as mudanças que precisam ser feitas."

Após a revelação da carta, as ações do Twitter antes da abertura da Bolsa subiam a mais de 10% por volta das 8 horas do horário de Brasília.

Oferta hostil 

Em nota a investidores, o analista Dan Ives, da consultoria americana WedBush, acrescenta que se trata de uma proposta irrecusável para o conselho do Twitter e que, agora, a “novela” deve terminar, escreveu. “O conselho será forçado a aceitar esta proposta ou correr para iniciar um processo de venda do Twitter”, diz. “Vamos pegar nossa pipoca, já que deve haver muitas mudanças de eventos nas próximas semanas, conforme Twitter e Musk caminhem para o casamento."

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Os próximos capítulos prometem, pois existem dúvidas sobre os interesses do executivo sobre a rede social - parte da extrema direita americana já correu para rede social para celebrar um possível relaxamento nas regras da plataforma. "Essa foi uma oferta hostil. Ou seja, não foi combinada com o conselho e os executivos da empresa. Isso pode levar ele a fechar o capital da empresa, o que pode resultar diferentes cenários", diz José Albino, sócio-fundador da Catarina Capital. "Uma das possibilidade é o Twitter pode virar uma espécie de empresa sem fins lucrativos, servindo muito mais como um objeto para fins pessoais", diz ele.  

No início deste mês, o homem mais rico do mundo, com patrimônio superior a US$ 260 bilhões, havia comprado quase 10% das ações da plataforma de rede social, em movimento que surpreendeu o mercado de tecnologia do mundo. 

Ao longo desta semana, após ser apontado para o conselho da companhia e ouvir críticas de funcionários da gigante da tecnologia, o bilionário desistiu do cargo. Antes disso, Musk havia feito críticas à rede social, em especial às políticas de moderação de conteúdo da plataforma.

Mesmo que o executivo tome posse da empresa, o caminho para mudanças não deverá ser tão simples, especialmente considerando que reguladores e autoridades nos EUA estão com as grandes empresas de tecnologia sob suas miras. "A liberdade de expressão é um tema que o congresso americano está de olho e já chamou Jack Dorsey (ex-CEO e fundador da rede social) no passado para conversar. Não creio que o Musk vai atropelar tudo e todos tão facilmente para mudar de forma radical a rede. Isso sem contar possíveis resistências internas vindas dos funcionários", afirma Edney Souza, diretor acadêmico da Digital House Brasil.   

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Situação difícil para o Twitter

Do lado do Twitter, a proposta coloca a empresa contra a parede. Quando uma oferta hostil acontece para uma empresa de capital aberto, o conselho da empresa normalmente busca ofertas concorrentes de compra - é algo que não parece estar no horizonte da empresa no momento. 

Caso nenhuma oferta seja aceita, o conselho deverá explicar aos acionistas porque a decisão é mais lucrativa. Isso significa a apresentação de um plano de reestruturação que possa aumentar o valor da empresa, algo com o qual o Twitter vem lutando nos últimos anos. No último trimestre, o Twitter registrou US$ 1,57 bilhão em receita, alta de 22% em relação a 2020 – o número, porém, ficou abaixo do US$ 1,58 bilhão esperado por analistas. "Ficar como está não é mais uma possibilidade. Ou a empresa vai ser vendida ou terá que apresentar um plano", explica Albino. 

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Há ainda um outro componente complexo na equação da venda: "O premium oferecido pelo Musk no valor das ações não é significativo. Em operações como essa, costuma se oferecer valores entre 30% e 40% acima do valor das ações. O premium é bem menor, até porque o valor já tinha subido quando ele anunciou a primeira compra de ações", diz Albino.   

Número mágico

Apesar da importância da operação, há quem considere que Musk não perdeu a oportunidade de brincar ao fazer a oferta para controlar 100% do Twitter. Isso porque o valor oferecido de US$ 54,20 por cada ação da rede social contém o número 420, frequentemente utilizado para fazer referência à maconha e à cultura canábica, e que já apareceu em outras operações do bilionário, um entusiata da erva.

Em 2018, Musk anunciou que considerava fechar o capital da Tesla assim que os valores das ações da empresa chegassem a US$ 420. Ele também já apareceu fumando maconha em uma transmissão ao vivo na Internet em 2018, quando participava de um podcast e, em 2020, um foguete da SpaceX levou folhas de maconha até a Estação Espacial Internacional

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