Envolvimento de Kosinski com Cambridge Analytica é alvo de polêmica

Pesquisador nega que tenha negociado com a consultoria política, responsável pela maior crise já vivida pelo Facebook – e uma das maiores dos negócios de internet na história

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Por Bruno Romani
Atualização:
Escritório da Cambridge Analytica em Londres: empresa extinguiu atividades semanas após eclosão de escândalo Foto: Reuters/Henry Nicholls

"Não tive nada a ver com a Cambridge Analytica", diz uma mensagem no site do pesquisador Michal Kosinski. Apesar da negativa, as histórias do acadêmico e da empresa se cruzam: em 2013, quando fazia doutorado na Universidade de Cambridge (Inglaterra), o polonês publicou estudo no qual afirmava ser possível, a partir de curtidas e testes no Facebook, traçar a personalidade de um indivíduo. 

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Era algo bem quantificado: com 10 curtidas, o sistema dizia saber mais sobre a pessoa do que seus colegas de trabalho. Com 150, mais do que pais e irmãos. Se dobrasse para 300, mais até do que o cônjuge.

Segundo o jornal inglês The Guardian, o estudo chamou a atenção da firma de marketing político Cambridge Analytica (CA). De acordo com a publicação, que revelou o escândalo da consultoria em 2018, a empresa quis contratar Kosinski em 2014: ele teria pedido US$ 500 mil por IP (um "CEP do usuário" na internet) registrado. O pesquisador refuta. 

"Nunca encontrei ninguém que trabalhasse para a CA. Discuti com o Aleksandr Kogan um financiamento de pesquisa para a universidade”, diz. "Quando descobri os detalhes do projeto, reportei Kogan para o departamento jurídico da universidade – ele ia se envolver com um projeto antiético."

Pesquisador de Cambridge, Kogan replicou o estudo de Kosinski no app This is your digital life, quiz de personalidade veiculado no Facebook, usado para captar dados de 87 milhões de usuários da rede. As informações foram usadas na campanha de Donald Trump nos EUA. 

Na entrevista que concedeu ao Estado, Kosinski negou a impressão de que não gosta de falar sobre a Cambridge Analytica. "Não tenho problemas em falar sobre. É que, de alguma maneira, as pessoas supõe que tenho algum conhecimento secreto sobre como ela operava – e eu não tenho!". 

Entenda o caso

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A consultoria Cambridge Analytica operou oficialmente entre 2013 e 2018. Um de seus fundadores é Steve Bannon, uma das mentes por trás da campanha de Donald Trump à presidência – hoje, Bannon se encontra afastado de Trump, mas é figura bastante próxima do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O fim de suas atividades aconteceu semanas depois que o Guardian, junto com o The Observer e o The New York Times, ter divulgado que a firma utilizava dados de usuários do Facebook ilegalmente. 

O escândalo também afetou gravemente a rede social de Mark Zuckeberg: o caso levou o executivo a ter de depor no Congresso americano durante mais de dez horas e fez o Facebook rever suas políticas de segurança e privacidade. 

Com isso, a rede passou a prever que teria quedas em suas margens de lucro e receita – o que, em julho de 2018, desanimou investidores e levou o Facebook a perder US$ 120 bilhões em valor de mercado em um único dia, a maior queda da história de Wall Street. Nos meses seguintes, o Facebook se envolveu em novos escândalos, mas recuperou sua posição no mercado: hoje, suas ações estão cotadas em US$ 181, apenas US$ 4 abaixo do valor que possuía no estopim do escândalo. 

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