A chefe de operações do Facebook Sheryl Sandberg e o ex-chefe de comunicações da empresa Elliot Schrage
Uma semana após a revelação de que o Facebook contratou uma empresa de marketing político para atacar críticos e concorrentes, o antigo chefe de políticas públicas e comunicações da rede social, Elliot Schrage, assumiu a culpa pela contratação da empresa. O posicionamento de Schrage foi feito em um memorando interno, obtido pelo site TechCrunch.
Na última quarta (15), o jornal New York Times mostrou que Facebook contratou uma empresa chamada Definers Public Affairs para atacar os críticos da empresa e também para espalhar histórias negativas sobre companhias rivais, como o Google. Entretanto, ao assumir a culpa pela contratação, Schrage defendeu o uso da Definers para pesquisas de oposição. O executivo decidiu sair da empresa em junho deste ano, em meio ao escândalo do Cambrige Analytica, que usou sem consentimento os dados de 87 milhões de pessoas para tentar influenciar as eleições presidenciais americanas de 2016.
Diz parte do memorando: "A responsabilidade por essa decisões é da liderança do time de comunicaçoes. Esse sou eu. O Mark e a Sheryl confiaram em mim para lidar com isso sem controvérsia. Eu sabia e aprovei a contratação da Definers e de empresas similares. Eu deveria ter ficado sabendo da decisão deles de expandir suas ações."
O Facebook rompeu com a Definers Public Affairs um dia após a reportagem do jornal, no dia 15. Em uma conferência com jornalistas também no dia 15, o presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg criticou o trabalho da Definers descrito na reportagem, e disse que ele e a chefe de operações da empresa Sheryl Sandberg não sabia sobre as funções da empresa de marketing político.
Zuck não vair sair. O presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg deu uma entrevista ao canal americano CNN na noite desta terça-feira, 20. Nela, Zuckerberg deixou claro que deixar a presidência do conselho “não é o plano”, mesmo agora após a repercussão do novo escândalo – a possibilidade de saída foi proposta por acionistas no mês passado.
Uma das perguntas feitas a Zuckerberg foi se ele iria manter Sheryl Sandberg no cargo de chefe de operações – principal posto da companhia depois da presidência – , depois que reportagem a apontou como responsável pela maioria das decisões controversas, como, por exemplo, ignorar a investigação interna a respeito da influência russa nas eleições americanas de 2016. O presidente executivo da empresa elogiou o trabalho de Sandberg: “Ela tem sido uma parceira importante para mim nos últimos dez anos. Estou muito orgulhoso do trabalho que temos feito juntos, e espero que trabalhemos juntos nas décadas que virão”
Além disso, na entrevista Zuckerberg defendeu mais uma vez o impacto positivo da rede social que ele criou. "Certamente haverá questões que precisaremos trabalhar ao longo do tempo, mas acho que, enquanto estamos fazendo isso, não podemos perder de vista todas as coisas realmente positivas que acontecem aqui também”, disse na entrevista a CNN.
Entenda o escândalo do uso de dados do Facebook pela Cambridge Analytica
O primeiro capítulo da polêmica aconteceu em 16 de março, uma sexta-feira, quando o Facebook suspendeu a consultoria Cambridge Analytica, conhecida por participar da campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, de sua plataforma. A manobra aconteceu três anos depois que o Facebook descobriu que a consultoria havia obtido dados de forma ilícita de seus usuários – em 2015, porém, o Facebook apenas pediu que a empresa deletasse esses dados e acreditou quando a Cambridge Analytica, presidida por Alexander Nix (foto) afirmou que o tinha feito.
No dia seguinte, os jornais The Observer e The New York Times publicaram as reportagens que revelaram o escândalo a partir de revelações feitas pelo informante Christopher Wylie: dados de 50 milhões de usuários tinham sido obtidos a partir do quiz This is Your Digital Life, do pesquisador da Universidade de Cambridge Aleksandr Kogan. Kogan, por sua vez, os teria repassado á Cambridge Analytica. A suspensão do dia anterior teria sido uma forma do Facebook se adiantar às reportagens – na época, a empresa ameaçou os jornais com processos.
No primeiro dia útil após a revelação dos escândalos, o Facebook perdeu US$ 36 bilhões em valor de mercado após ver suas ações caírem 6,7%, com fuga de investidores preocupados com a repercussão do caso.
No dia seguinte, Mark Zuckerberg começou a ser convocado para prestar esclarecimentos nos EUA e no Reino Unido sobre o assunto; em paralelo, governos ao redor do mundo começam a discutir regulamentação especial para o Facebook e outras empresas de internet. Enquanto isso, o presidente executivo da rede social segue em silêncio.
No mesmo dia, começou a ganhar força o movimento #deleteFacebook – a hashtag publicada em redes sociais conclamava os usuários a abandonarem a rede social. Entre as pessoas que aderiram ao movimento estava Brian Acton, cofundador do WhatsApp, aplicativo de mensagens que foi adquirido em 2014 pela empresa de Mark Zuckerberg por US$ 19 bilhões.
Pela primeira vez, o presidente executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix, admitiu que sua empresa pode ter influenciado drasticamente os resultados das eleições nos Estados Unidos – a consultoria política teria trabalhado em prol do candidato republicano e hoje presidente americano, Donald J. Trump.
No dia 21 de março, Zuckerberg falou pela primeira vez sobre o caso, assumiu a responsabilidade pelos erros cometidos e pediu desculpas aos usuários. Ele ainda esclareceu a situação e divulgou que o Facebook estava mudando suas políticas de acesso de dados de usuários para aplicativos parceiros. As ações da empresa, porém, seguiram em queda.
André Torretta, executivo de marketing político brasileiro, havia assinado uma parceria com a Cambridge Analytica para atuar nas eleições de 2018 no Brasil. Ao saber do escândalo, a parceria foi desfeita, mas o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT) abriu uma investigação para entender qual o envolvimento de Torretta com a Cambridge Analytica – e se ferramentas parecidas tinham sido usadas no Brasil.
Elon Musk, fundador da Space X e da Tesla, foi outro que aderiu ao #deleteFacebook, após ser desafiado por um usuário no Twitter; enquanto isso, a Câmara dos Deputados dos EUA convidou Mark Zuckerberg, bem como outros executivos da área de tecnologia, a depor.
Em meio ao escândalo, uma nova revelação: o Facebook coletou registros de chamadas e mensagens enviadas por SMS feitas por usuários de Android nos últimos anos, a partir do aplicativo de mensagens Facebook Messenger. A coleta foi percebida por usuários da rede social neste domingo, 25, e confirmado pela empresa horas depois. A comprovação foi possível porque a rede social permite que qualquer usuário faça um download dos dados armazenados pela empresa na plataforma.
No dia 26 de março, as ações do Facebook voltaram a despencar, depois que a autoridade regulatória de comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) anunciou que estava oficialmente investigando a empresa por uma quebra de contrato – em 2011, a rede social e a agência assinaram um acordo dizendo que a empresa deveria proteger os dados de seus usuários. Com a revelação do escândalo da Cambridge Analytica, a FTC agora apura se o Facebook feriu os termos do pacto.
Além de pedir desculpas publicamente, o Facebook também começou a se esforçar para realizar mudanças na rede social a fim de convencer usuários, investidores e reguladores de que estava tudo bem. Uma das principais mudanças aconteceu no centro de privacidade da rede social – espaço onde os usuários podem definir suas configurações sobre o tema.
Outro esforço tomado pela rede social foi o de cortar laços com provedores de dados do mundo todo – empresas que reúnem informações pessoais e de pagamento de pessoas. No Brasil, a única empresa do tipo que teve sua parceria encerrada com a rede social foi a Serasa Experian.
Na manhã de 4 de abril, o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou que concordou em ir depor ao Congresso americano e responder às perguntas dos deputados e senadores dos EUA.
No mesmo dia, o Facebook anunciou novas versões de seus termos de uso e políticas de privacidade – os textos, que permaneceram em consulta por uma semana, ficaram maiores, mais claros e com interpretação mais aberta, na opinião dos especialistas, mas não mudaram a natureza da rede social.
Além disso, o Facebook também divulgou informações de suas investigações internas sobre o escândalo da Cambridge Analytica. Ao todo, 87 milhões (e não 50 milhões, como informaram os jornais) podem ter tido seus dados obtidos pela consultoria a partir do quiz feito por Aleksandr Kogan. Mark Zuckerberg também admitiu que a vasta maioria dos 2,13 bilhões de usuários do Facebook podem ter tido seus dados obtidos por terceiros.
No dia 9 de abril, o Facebook passou a notificar todos os usuários que tiveram seus dados compartilhados com a consultoria Cambridge Analytica (cuja sede está na foto acima). Dias antes, a empresa também anunciou que passará a verificar a identidade de todos os usuários que comprarem anúncios para publicações de cunho político e adotará mais transparência para posts pagos em campanhas eleitorais.
No dia 10 de abril, o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, depôs durante cinco horas no Senado americano – ele respondeu a perguntas de todo tipo e complexidade, mas revelou poucas novidades. A principal delas é a de que Aleksandr Kogan vendeu informações de seu quiz para outras empresas. Lembre como foi.
No dia seguinte, mais cinco horas de depoimentos de Mark Zuckerberg – desta vez na Câmara dos Deputados, onde enfrentou maior pressão e admitiu que seus dados estavam entre os dos 87 milhões de usuários afetados pelo escândalo da Cambridge Analytica.
Em 20 de abril, a rede social a divulgar os novos termos de uso para seus usuários nos Estados Unidos e na Europa. Lá fora, o documento recebeu alterações por duas razões: além de esclarecer termos e temas complicados à luz do escândalo do uso ilícito de dados com a Cambridge Analytica, os termos de uso também adequam a rede social à GDPR, nova lei de proteção de dados europeia que vai entrar em vigor em 25 de maio no Velho Continente. Segundo o jornal norte-americano Wall Street Journal, o novo documento tem agora 4,2 mil palavras – em inglês –, contra 2,7 mil do “contrato” anterior, divulgado no final de 2016. Sua linguagem também está mais clara e busca mostrar para os usuários o que é feito com seus dados.
Em 23 de abril, a Federal Trade Comission (FTC), órgão que regula o comércio e as empresas nos EUA, divulgou uma auditoria feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) em relação aos controles de privacidade usados pelo Facebook para garantir a segurança dos dados pessoais de seus 2,13 bilhões de usuários. De acordo com a consultoria, que analisou o período entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2017, tudo estava funcionando em perfeita ordem.
O pesquisador Aleksandr Kogan veio a pública na semana de 24 de abril para falar sobre sua participação no caso. Ele pediu desculpas por seu envolvimento com a Cambridge Analytica, mas disse que os dados que coletou não tinham poder o suficiente para influenciar os rumos de uma eleição com anúncios patrocinados. Além disso, ele argumentou que está sendo usado como bode expiatório e pretende processar o Facebook.
Pela primeira vez, o Facebook divulgou as diretrizes que utiliza em algoritmos e equipe de moderadores para identificar e retirar conteúdo inadequado da rede social; as regras mostram como a rede social enxerga temas como violência, discurso de ódio e nudez. É mais uma onda na avalanche de anúncios feitas recentemente pela rede social para acalmar os ânimos de investidores, usuários e órgãos reguladores
Uma semana depois. Na última quinta-feira, 15, depois de o Facebook ter desmentido a reportagem em nota em seu blog, Sheryl Sandberg, a executiva mais envolvida na polêmica, também se posicionou individualmente em um postagem no seu próprio Facebook.
Sandberg negou a reportagem, e se posicionou quanto à informação publicada de que a chefia do Facebook desprezou investigações internas sobre a interferência de hackers russos na rede social durante as eleições americanas. A executiva reconheceu que ela e Zuckerberg foram lentos na resposta à interferência russa na plataforma, mas disse que “sugerir que não estávamos interessados em saber a verdade, ou queríamos esconder o que sabíamos, ou que tentamos impedir investigações, é simplesmente falso".
Uma reportagem do Wall Street Journal publicada nesta segunda, 19, informou que Zuckerberg chegou a culpar Sandberg pelo escândalo Cambridge Analytica, o que a deixou abalada e a fez temer uma demissão. Em sua última entrevista na CNN, Zuckerberg em nenhum momento sinalizou discordâncias com a executiva.
De acordo com o site Business Insider, Patrick Walker, executivo do Facebook na Europa, Oriente Médio e África, afirmou que Sandberg continua sendo uma figura respeitada internamente na empresa. “Ela faz um trabalho muito difícil”, disse.
Alex Stamos, principal executivo de segurança do Facebook, que foi o responsável por essas investigações internas sobre a interferência de hackers russos na rede social durante as eleições americanas, publicou um artigo no Washington Post no último sábado, 17, em que negou que a chefia da empresa tenha ignorado e desencorajado o seu trabalho. Entretanto, ele reconheceu que a companhia cometeu erros: "O Facebook deveria ter respondido a essas ameaças muito antes e lidado com a divulgação de uma maneira mais transparente".
Um outro episódio da semana foi a conferência de Zuckerberg e os principais executivos da empresa com os funcionários do Facebook de todo o mundo na última sexta-feira, 16. Na ocasião, reportada pelo The New York Times, os líderes do Facebook defenderam a empresa enquanto criticaram a reportagem sobre o escândalo, e alguns funcionários chegaram a dizer que a imprensa está perseguindo o Facebook devido à sua influência.
Quando funcionários perguntaram qual seria a postura da empresa em relação ao vazamento de informações por pessoas dentro da empresa, Zuckerberg deixou claro que o Facebook não hesitaria em demitir funcionários que falassem com o The New York Times ou outras publicações.
O novo escândalo atraiu a atenção até mesmo de anunciantes, o lado financeiro do Facebook. “Agora sabemos que o Facebook fará o que for preciso por dinheiro. Eles têm absolutamente nenhuma moral”, disse Rishad Tobaccowala, diretor da Publicis Groupe, uma das principais empresas de anúncios do mundo, em entrevista ao The New York Times.
Como o escândalo também envolve o poder de lobby do Facebook junto a políticos americanos para tentar amenizar os desdobramentos da crise russa e do escândalo da Cambridge Analytica, a revelação abalou o mundo político. De acordo com o site Recode, senadores americanos pediram para o Departamento de Justiça investigar o Facebook.