Facebook ignora impacto do Instagram na saúde mental de adolescentes, mostra jornal

Documentos acessados pelo Wall Street Journal revelaram que 1 em cada 3 meninas se sente ainda pior com sua imagem corporal no app

PUBLICIDADE

Por Redação Link
Atualização:
Os documentos do Facebook mostram que o esforço para melhorar o app para essa parcela dos usuários é mínimo Foto: Dado Ruvic/Reuters

Documentos relacionados a pesquisas internas do Facebook demonstraram que a empresa tem conhecimento de que o Instagram pode ser nocivo para  a saúde mental adolescentes, sendo uma fonte de distúrbios de ansiedade e de alimentação - meninas são as maiores vítimas. A informaçlão foi revelada pelo jornal americano The Wall Street Journal, que teve acesso à pesquisa e publicou as informações em uma reportagem nesta terça-feira, 14. 

PUBLICIDADE

Segundo os documentos, alguns levantamentos foram feitos pelo Instagram para entender o comportamento e a forma como adolescentes estavam expostos aos conteúdos de suas timelines. 

Em uma das pesquisas, a empresa descobriu, em março de 2020, que 32% das meninas que se sentiam mal com o próprio corpo ficavam ainda pior ao acessar o Instagram. O resultado foi publicado em um painel interno, na época. De acordo com o The Wall Street Journal, 40% dos usuários do app são menores de 22 anos.

“Tornamos os problemas de imagem corporal piores para uma em cada três meninas adolescentes”, dizia um slide de 2019, resumindo pesquisas sobre meninas adolescentes que vivenciam esses problemas. “Os adolescentes culpam o Instagram pelo aumento da taxa de ansiedade e depressão”, podia ser visto em outro slide. “Essa reação foi espontânea e consistente em todos os grupos”. 

Isso porque a cultura de comparação de estilos de vida e corpos está presente entre as usuárias, que frequentemente têm acesso a conteúdos de promoção de corpos considerados "esteticamente padrões”: magros, malhados e super produzidos. 

Em declarações públicas, Mark Zuckerberg chegou a explicar, durante um congresso realizado em março deste ano, que a rede era benéfica para a saúde mental e Adam Mosseri, presidente do Instagram, afirmou, posteriormente, que os danos no bem-estar desses adolescentes era “muito pequeno”. 

O que se passa dentro da empresa, porém, não condiz com as afirmações. Os documentos mostram que o esforço para melhorar o app para essa parcela dos usuários é mínima e que parte do sucesso da rede vem da “competição” entre usuários — um dos sinais mais nocivos de transtornos para meninas. 

Publicidade

Em outros comentários em um painel interno da empresa, um funcionário questionou uma possível mudança na forma como os conteúdos aparecem na plataforma. “O Instagram não é sobre isso, principalmente? Olhar para a vida (muito fotogênica) dos 0,1% do topo? Não é essa a razão pela qual os adolescentes estão na plataforma?”. Em outra publicação, um ex-executivo da empresa também recusou uma “reforma” na política do app. “As pessoas usam o Instagram porque é uma competição. Essa é a parte divertida”. 

A pesquisa, feita em 2019 e 2020, reuniu diversos grupos de foco para entender o comportamento desses adolescentes e concluiu que alguns dos efeitos do Instagram, como a comparação entre fotos de usuários, é um dano exclusivo da rede social. 

Ainda, sob esse efeito, o Facebook afirma, no estudo, que um contraponto encontrado em outras plataformas é o fato dos algoritmos focarem no rosto do usuário, como o TikTok, por exemplo, enquanto o Instagram prioriza, majoritariamente, o corpo e o estilo de vida do perfil. 

Procurado pela reportagem do The Wall Street Journal, o Facebook não quis comentar sobre o caso nem sobre os documentos. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.