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Opinião|Facebook x Alemanha

Se a decisão alemã virar modelo, a máquina publicitária do Facebook perde seu atrativo

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Governo da Alemanhadeterminou que a rede social deve mudar a maneira como lida com as informações pessoais de seus usuários Foto: Regis Duvignau/Reuters

Há um movimento se iniciando na Alemanha que pode se tornar um problema gigantesco para o Facebook. O Bundeskartellamt, autarquia nacional responsável pela investigação de cartéis, determinou que a rede social deve mudar a maneira como lida com as informações pessoais de seus usuários. Mudar a um ponto tal que pode inviabilizar o negócio de publicidade da rede social.

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Nada mudará tão cedo. O que está ocorrendo, nos EUA e na Europa, é uma dança de cadeiras. Políticos e burocratas estão confluindo na direção do Facebook enquanto se perguntam: precisarão regular? E, caso precisem, qual é a regulação adequada? Ao mesmo tempo, aguardam acenos por parte do Facebook, gestos que demonstrem mudanças de postura que poderiam evitar a necessidade de intervenção governamental.

A Alemanha é, de longe, o país europeu mais obcecado com dar a seus cidadãos garantias de privacidade. Não é à toa. Passou seis décadas do século passado entre a Gestapo nazista e a Stasi comunista. Polícias secretas que, em governos totalitários, se especializavam em investigar a vida dos cidadãos comuns em busca de indícios de traição. Os alemães criaram verdadeiro horror a qualquer tipo de instituição, pública ou privada, que saiba demais sobre suas vidas. Estão sempre preparados para o pior.

A decisão do Bundeskartellamt se divide em duas, paralelas e complementares. A primeira é que dados do Facebook, do Instagram e do WhatsApp não podem ser cruzados jamais. O curtir que alguém dá no Instagram não pode se tornar um dado que informe ao Facebook que aquela usuária anda procurando saias. 

Hoje, a empresa cruza estes dados a toda hora, de forma que nossos amigos de uma rede são recomendados na outra e os anúncios que recebemos são alimentados com informação a respeito de nossas ações em ambas.

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Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook, já anunciou que o sistema de mensagens do Instagram, o Messenger e o WhatsApp vão convergir – até o final do ano, no máximo em 2020. Em teoria, será possível mandar um recado de uma plataforma para alguém que está na outra e, assim, também o WhatsApp poderá informar o conjunto a respeito de nosso comportamento.

A segunda decisão periga ter ainda maior impacto: o Facebook não poderá colher dados fora de suas propriedades. Cada site que permite login com a conta do Face ou que apresenta em suas páginas um botão curtir é acompanhada pela empresa. A rede social não está sozinha nisto – o Google também acompanha o que fazemos pela internet mesmo quando estamos longe de suas propriedades.

Pois, em valendo a determinação da autarquia alemã, dentro da Alemanha o Facebook estará proibido de usar estes dados. Não é final. O Facebook poderá recorrer e seus advogados vão fazê-lo. É bastante provável, porém, que o rigor alemão em relação a privacidade prevaleça. Ou seja, para compreender nossos gostos, a rede social só poderá usar os sinais que distribuímos quando dentro dela. Seria uma máquina publicitária que perde muito de seu atrativo atual. Valerá só para a Alemanha.

De cara, este é um problema técnico. Não é simples adaptar o sistema para agir de uma forma num país e, de outra, noutros países. Mas é possível. Daí, se torna um problema de ordem prática. Se cada país estabelecer suas regras e o Facebook – ou qualquer outra companhia digital – se vir obrigada a fazer pequenas grandes adaptações locais, a gerência do processo se torna alucinada.

O problema se tornará gigante se, animada com o exemplo, a União Europeia decidir instituir a mesma regra em todo seu território. E, daí, se meio mundo a seguir.

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