Alex Stamos é ex-chefe de segurança do Facebook
O ex-chefe de segurança do Facebook, Alex Stamos, aproveitou o evento de tecnologia e cultura South By Southwest (ou SXSW, como é mais conhecido) que acontece em Austin, nos Estados Unidos, para comentar o plano de Mark Zuckerberg de unificar os aplicativos do Facebook e focar em comunicações por mensagens protegidas por criptografia. Para Stamos, a jogada de Zuckerberg pode resolver alguns dos principais problemas que a empresa tem hoje: ser responsável por controlar os conteúdos das plataformas, que contêm uma série de notícias falsas e postagens inapropriadas.
O plano de integração de plataformas deve deixar de lado a lógica do Feed de Notícias e seus algoritmos. A ideia de Zuckerberg é unir as redes sociais em uma plataforma criptografada, em que somente os usuários teriam acesso às informações ali coladas – o que teoricamente exime o Facebook de resposabilidade do conteúdo, já que a empresa não estaria mais vendo o conteúdo trocado pelos usuários.
“Mark Zuckerberg decidiu que ele não pode estar mais nesse meio porque, se ele seguir desta forma, continuará perdendo”, disse Stamos, referindo-se ao comportamento do Facebook de tentar controlar a plataforma balanceando conteúdos inapropriados e liberdade de expressão. O ex-chefe de segurança do Facebook acredita que o foco em mensagens deve resolver para o Facebook questões como desinformação e mau comportamento.
O Facebook vive um impasse: enquanto a rede social é criticada por não punir a disseminação de notícias falsas na plataforma, há quem conteste o poder da empresa de decidir o que 2,3 bilhões de usuários podem dizer ou não.
Stamos também afirmou que o maior desafio para o Facebook seguir este plano será financeiro, já que as mensagens criptografadas limitariam o potencial de anúncios que o Feed de Notícias tem hoje. “A grande questão é em qual velocidade que vai acontecer a mudança”, disse, “e se, ao abrir mão dessa receita de anúncios, o Facebook conseguirá achar outra fonte de recursos para substituir.”
Relembre os escândalos do Facebook de 2018
Em abril, os jornais The Observer e The New York Times publicaram reportagens que mostraram o uso indevido de dados do Facebook, que tinham sido obtidos a partir do quiz This is Your Digital Life, do pesquisador da Universidade de Cambridge Aleksandr Kogan, e depois repassados por Kogan à consultoria Cambridge Analytica. O resultado dessa história é que dados de 87 milhões de usuários do Facebook foram usados na campanha eleitoral do presidente Donald Trump.
Logo após a divulgação do escândalo, começou nas redes sociais um movimento defendendo que as pessoas deletassem o Facebook – Elon Musk, presidente da Tesla, foi um dos que aderiu à hashtag #deleteFacebook. Um mês e meio após a notícia do caso, a Cambridge Analytica, chefiada por Alexander Nix, fechou as portas.
Por causa do caso Cambridge Analytica, o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, teve que depor no Senado e no Congresso dos Estados Unidos em abril. Ele assumiu a responsabilidade pelos erros da empresa e chegou a admitir que seus dados estavam entre os dos 87 milhões de usuários afetados pelo escândalo.
O escândalo obrigou o Facebook a mostrar esforços de mudança de suas regras de privacidade, transparência e segurança. Logo em abril a empresa redesenhou seus controles de privacidade, para acalmar os ânimos dos usuários e de investidores. A empresa também prometeu lançar uma ferramenta de limpeza do histórico de navegação – entretanto, o recurso só deve ficar pronto em 2019.
No auge do caso Cambridge Analytica, o Facebook perdeu US$ 95 bilhões em valor de mercado. Entretanto, o resultado mais grave dos escândalos apareceu três meses depois da revelação do caso: as ações da empresa caíram 19% e o Facebook perdeu US$ 119 bilhões em valor de mercado, a maior queda diária da história de Wall Street.
Em setembro, o Facebook revelou que uma falha de segurança dentro de sua plataforma colocou em risco dados de usuários da rede social. Após investigações, a empresa afirmou que 29 milhões de usuários tiveram seus dados pessoais roubados por hackers devido ao problema de segurança. A rede social confirmou que dados como nome, telefone celular e localização dos usuários foram acessados pelos criminosos.
Uma reportagem do The New York Times publicada em novembro revelou que o Facebook contratou uma empresa de marketing político chamada Definers Public Affairs para atacar os críticos da empresa, como George Soros, e também para espalhar histórias negativas sobre companhias rivais, como o Google. Além disso, segundo o jornal, a chefia do Facebook desprezou investigações internas sobre a interferência de hackers russos na rede social durante as eleições americanas e também minimizou sua culpa quando o Facebook se defrontou com o escândalo Cambridge Analytica.
A executiva mais envolvida na polêmica foi Sheryl Sandberg, que ocupa o cargo de chefe de operações do Facebook, o segundo mais importante, depois do presidente executivo Mark Zuckerberg. Uma semana após a publicação da reportagem do The New York Times, o antigo chefe de políticas públicas e comunicações da rede social, Elliot Schrage, assumiu a culpa pela contratação da Definers – o executivo decidiu sair da empresa em junho deste ano, em meio ao escândalo do Cambrige Analytica.
Este ano uma série de linchamentos aconteceu na Índia a partir da disseminação de notícias falsas no WhatsApp, aplicativo que pertence ao Facebook. Em julho, o governo indiano alertou a empresa sobre sua responsabilidade no problema. Em resposta, a empresa limitou o encaminhamento de mensagens para até cinco contatos na Índia – o que na sua visão diminui a propagação de boatos – e lançou outras iniciativas para conter a desinformação dentro do aplicativo.
O Facebook foi acusado de influenciar o genocídio feito pelo Estado de Mianmar. Segundo uma reportagem do The New York Times publicada em outubro, a rede social, o Facebook foi usado por militares como uma “ferramenta para limpeza étnica” e que autoridades do país foram “os principais operadores por trás de uma campanha sistemática no Facebook que se estendeu por meia década e teve como alvo o grupo minoritário rohingya, de maioria muçulmana”.
Em dezembro, o Facebook informou que uma falha na rede social expôs fotos privadas de cerca de 6,8 milhões de usuários a desenvolvedores de aplicativos. Terceiros tiveram acesso a imagens não autorizadas, como as publicadas no recurso Marketplace, comunidade de compra e venda dentro da rede social, no Facebook Stories e também as fotos que foram carregadas na rede social mas nunca postadas de fato. Segundo a empresa, mais de 1,5 mil aplicativos de 876 desenvolvedores tiveram acesso inapropriado às fotos dos usuários.
Em dezembro, o jornal The New York Times revelou que o Facebook compartilhou dados de usuários com gigantes de tecnologia. A reportagem afirmou qque rede social tinha parcerias com mais de 150 companhias para partilhar dados sem consentimento. Netflix e Spotify, por exemplo, podiam acessar até mensagens privadas dos usuários. O Facebook rebateu as acusações e disse que as parcerias estão de acordo com as regras dos Estados Unidos.