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Funcionários do Google pedem explicação sobre projeto de retorno à China

Nas últimas semanas, surgiram rumores de que gigante americana voltaria ao mercado asiático com buscador que aceitaria parâmetros de censura do governo local; presidente executivo Sundar Pichai veio a público após repercussão

Por Agências
Atualização:
Pichai assumiu o comando da Alphabet em dezembro de 2019 Foto: Stephen Lam/Reuters

O Google ainda está longe de lançar uma nova versão de seu serviço de buscas na China, disse Sundar Pichai, presidente executivo da empresa, em uma reunião a portas fechadas na última quinta-feira, 16. A frase foi dita após funcionários do Google criarem um abaixo-assinado sobre um possível retorno da empresa ao país asiático. Nas últimas semanas, surgiram rumores de que a gigante americana estaria negociando com o governo chinês para voltar a oferecer o motor de pesquisas no país – o projeto, chamado de Dragonfly, faria o buscador não indexar termos e sites específicos, obedecendo ao controle chinês de informação e censura. 

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A informação foi publicada inicialmente na última semana pelo site americano The Intercept; nesta semana, funcionários da empresa se organizaram pedindo mais transparência quanto ao projeto – eles temem que o Dragonfly implique em redução da liberdade de expressão e da privacidade dos usuários em todo o mundo. 

Na reunião, Pichai disse que o projeto está em fase inicial de desenvolvimento e que a "equipe está explorando muitas opções". Ele ressaltou, porém, que lançar mais serviços na China faz parte da missão global da empresa – um mercado de mais de 1 bilhão de pessoas não pode ser desprezado. 

Pressão. A criação de um aplicativo não é bem aceita por funcionários do Google e organizações de defesa dos direitos humanos. Eles estão preocupados que, para ter autorização para operar, a empresa concorde com as exigências de censura do governo chinês. 

Funcionários assinaram uma petição pedindo que o Google forneça mais “transparência, supervisão e responsabilidade” no processo. Estratégia semelhante foi feita no começo do ano, quando funcionários discordavam do acordo da companhia com o governo dos EUA para o desenvolvimento de tecnologia de inteligência artificial para drones bélicos. A pressão garantiu o cancelamento da parceria.

"Precisamos urgentemente de mais transparência, um lugar na mesa de reuniões e um compromisso com processos claros e abertos: os funcionários do Google precisam saber o que estão ajudando a construir", diz a petição sobre a China. O jornal The New York Times publicou pela primeira vez sobre o documento na última quinta-feira, 16. O Google se recusou a comentar.

Proposta. No documento, os funcionários também pedem que o Google crie um grupo de revisão ética, nomeie provedores para fornecer uma revisão independente e faça publicações internas de avaliações de projetos que levantam substancialmente questões éticas.

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Em resposta aos funcionários, Pichai disse: "Definitivamente seremos transparentes à medida que nos aproximamos de ter um plano aqui". Ele disse que a empresa guarda informações sobre alguns projetos e que o compartilhamento antecipado pode "causar problemas".

Três ex-funcionários envolvidos com projetos anteriores do Google para a China disseram que a hoje a empresa pode considerar que oferecer uma pesquisa limitada na China é melhor do que fornecer nenhuma informação. Essa mesma lógica fez com que o Google entrasse na China em 2006.

Ex-funcionários disseram que duvidam que o governo chinês receba de volta o Google. Uma autoridade chinesa, que não quis ser identificada, disse à Reuters neste mês que é "muito improvável" que o novo aplicativo esteja disponível ainda este ano.

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