Google enfrenta três processos administrativos no Cade por monopólio

Gigante de buscas foi condenada pela Comissão Europeia, no início da semana, por usar sua posição dominante para favorecer sua ferramenta de compras online, o Google Shopping

PUBLICIDADE

Por Claudia Tozzeto e Carolina Ingizza
Atualização:
Google é investigado em quatro processos em aberto no Cade. Foto: Arnd Wiegmann/Reuters

Na manhã da última terça-feira, 27, o Google foi multado em € 2,4 bilhões pela Comissão Antitruste da União Europeia por favorecer o seu próprio comparador de preços para compras online, o Google Shopping. Mas engana-se quem pensa que somente na Europa o buscador está sendo investigado por monopólio. No Brasil, a companhia enfrenta atualmente três processos administrativos e um inquérito administrativo no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Os processos ainda estão sob análise da superintendência-geral do órgão e, segundo apurou o Estado, não há prazo para conclusão dos trabalhos.

PUBLICIDADE

Um dos casos é um processo iniciado em 2011 a partir de uma denúncia feita pelo grupo Naspers, dono dos sites de comparação de preços Buscapé e Bondfaro. No Cade, o processo está registrado no nome da E-Commerce, empresa que era dona dos sites até 2009. Segundo a assessoria de imprensa do Buscapé, a divergência se deve a um atraso na mudança do registro da razão social. 

No processo, o Google é acusado de beneficiar sua própria ferramenta de compras online, o Google Shopping, em detrimento dos sites de comparação de preços locais. De acordo com a denúncia, a prática teria acontecido de duas formas: por meio do posicionamento privilegiado do Google Shopping na busca do Google e através da apresentação do link para a loja do Google em posição de destaque patrocinado com fotos na busca.

O Google não comenta o processo. Contudo, em documento protocolado no Cade em 2015, o Google alegou que o Buscapé poderia pagar pelo destaque patrocinado na busca e afirmou que a oferta do serviço não constitui uma prática discriminatória.

Já em 2013, a empresa detentora do Buscapé voltou a denunciar o Google junto ao Cade. Neste caso, as acusações eram as de que o Google Buscas estaria se apropriando do conteúdo dos sites de comparação de preços para usar a informação no Google Shopping americano, prática conhecida como scraping. Em resposta no processo, o Google alega que o conteúdo foi apresentado apenas uma vez, por conta de um erro, e que não houve motivação econômica por trás do ocorrido.

Procurado pelo Estado, o Buscapé afirmou, em nota, “que não pretende utilizar a decisão da Justiça da União Europeia contra o Google” e reforça que tem desenvolvido uma série de projetos com o Google, que hoje é uma empresa parceira do site. A reaproximação entre as duas empresas, segundo o Buscapé, aconteceu quando Sandoval Martins assumiu como presidente executivo do comparador de preços em abril de 2016, trazendo novas diretrizes estratégicas para a companhia.

Outros casos. Existem, ainda, outras duas denúncias correndo no Cade contra o Google. Elas foram protocoladas pela Microsoft e pelo serviço de recomendação de locais Yelp e são de naturezas diferentes. A primeira, feita pela empresa por trás do Windows, segue como um processo administrativo. Já a denúncia feita pelo Yelp ainda está na fase de inquérito e a investigação ainda está acontecendo.

Publicidade

Procurada, a Microsoft disse que “não comenta processos em andamento”. De acordo com o site do Cade, porém, o processo foi iniciado em 2013 e a Microsoft acusava o Google de impor restrições à operação conjunta de plataformas de buscas patrocinadas, como o Google Ad Words e o Bing Ads. Segundo a fabricante, as restrições estariam nos termos e condições da API (interface de programação de aplicativos, na sigla em inglês) do Google AdWords e impediam a veiculação da mesma campanha em mais de uma plataforma.

Já no caso do inquérito aberto pelo Yelp em 2016, o Google é acusado de usar seu poder de mercado para favorecer o seu próprio mecanismo de buscas locais sobre estabelecimentos no Brasil. De acordo com a empresa, os resultados do Google mostram no topo da página, junto com a lista de sites, uma série de resenhas com endereço, números de telefone e mapas de restaurantes, lojas e hotéis, o que prejudicaria os sites concorrentes. Procurado pelo Estado, o Yelp ainda não enviou um posicionamento sobre o caso.

Demora. Segundo André Franchini, advogado do Siqueira Castro Advogados, os processos administrativos no Cade costumam ser bastante demorados, levando entre cinco e dez anos para serem finalizados. “Mas a questão de tempo varia muito e depende da ação, das partes e do tipo de informação que está sendo tratada”, afirma o advogado.

A decisão da Comissão Europeia em multar o Google pode ser usada pelas empresas que denunciaram o Google como mais uma prova nos processos em andamento no Brasil. “As partes do processo brasileiro podem levar os termos da decisão e as informações que foram utilizadas pela Comissão Europeia para o processo e para a análise do Cade, embora ele seja um órgão independente que vai usar de suas convicções para julgar os casos”, explica Franchini.

O Cade, por sua vez, informa que “não comenta aspectos relacionados ao mérito de casos em análise pelo órgão”.

*É estagiária, sob supervisão da editora Claudia Tozetto

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.