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Google I/O: ‘A tecnologia pode ser uma força positiva’, diz presidente do Google

Na abertura da conferência, Sundar Pichai tentou conciliar visão otimista do futuro com inteligência artificial e preocupações com privacidade e uso excessivo da tecnologia

Por Claudia Tozzeto
Atualização:
O presidente executivo do Google, Sundar Pichai, fala na abertura do evento Google I/O, em Mountain View: foco em inteligência artificial Foto: Reuters/Stephen Lam

“Estamos chegando a um ponto de inflexão na computação”, afirmou o presidente executivo do Google, Sundar Pichai, ao abrir a conferência anual de desenvolvedores da companhia, a Google I/O nesta terça-feira, 8. “A responsabilidade é maior e, embora a tecnologia possa ser uma força positiva, há questões sobre o impacto que ela pode ter na nossa vida e precisamos seguir com cautela.”

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A fala de abertura de Pichai deu o tom dos anúncios do Google no primeiro dia de sua conferência. Por um lado, a empresa mostrou como a inteligência artificial está chegando a muitos de seus serviços oferecidos atualmente; mas, por outro, o gigante das buscas também adotou uma postura mais sóbria em relação à sua responsabilidade em tópicos importantes, como privacidade e uso excessivo da tecnologia. Dois objetivos que, em certa medida, são contraditórios, já que para os sistemas “aprenderem” mais sobre as pessoas, os usuários têm de usá-los mais e mais dados precisam ser coletados.

Logo no início, a empresa mostrou como está integrando mais as capacidades da inteligência artificial e aprendizado de máquina a alguns de seus principais serviços. O Gmail, serviço de e-mail gratuito mais popular do mundo, ganhou uma série de novos recursos, que incluem prever o que o usuário vai escrever. O recurso funciona de forma similar ao auto-completar, usado na busca e, a partir do que os usuários costumam escrever, o sistema sugere a continuação da frase.

Outro recurso muito aplaudido durante a apresentação é o que sugere ações para o usuário de acordo com as fotos que ele está vendo no aplicativo Google Fotos. Se identifica as pessoas que estão presentes na foto, por exemplo, o app sugere compartilhar a foto com elas; se o usuário fotografa um documento, a inteligência artificial identifica isso e pode, num único toque, converter a foto em um arquivo PDF -- hoje, só é possível fazer isso por meio de aplicativos de scanner desenvolvidos por terceiros.

Os dois novos recursos, segundo o Google, vão chegar nos próximos meses. Pichai também aproveitou a oportunidade para mostrar como o Google está avançando no uso de inteligência artificial para a medicina, por exemplo, ajudando os médicos a diagnosticarem doenças e o risco aumentado de, por exemplo, uma pessoa apresentar problemas cardiovasculares ou diabetes. “A tecnologia pode ajudar os médicos a prever problemas”, afirmou Pichai. “Nossos sistemas podem prever a readmissão de pacientes no hospital em 70%.”

O maior desafio em inteligência artificial, segundo o executivo, é aprimorar o assistente pessoal Google Assistant, que está presente em mais de 500 mil dispositivos em todo o mundo. Para isso, além de melhorar a capacidade do software de aprender, é também necessário melhorar o reconhecimento e processamento de voz. No Google I/O, Pichai anunciou que avanços nessa área vão permitir que Assistant ligue para um restaurante ou para o cabeleireiro para reservar um horário para a pessoa. A demonstração impressionou público presente na conferência, pela semelhança com a fala humana.

“Ainda achamos que vamos precisar de mais algum tempo para liberar isso”, disse ele. “Mas se fizermos isso direito, pode ter um impacto enorme na vida das pessoas.” A companhia também planeja usar o recurso internamente para checar informações sobre o horário de funcionamento e outros detalhes sobre estabelecimentos comerciais exibidos pelo Google na busca e em seu aplicativo de mapas.

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Bem-estar. Mas o Google não olhou apenas para o futuro. Com o lançamento da versão de testes do Android P, nova versão do sistema operacional para smartphones mais popular do mundo, a empresa tentou se mostrar preocupada com o uso excessivo de tecnologia pelos seus mais de 2 bilhões de usuários. “Vamos mostrar em um painel de controle quantas vezes você desbloqueou o smartphone, quantas notificações viu ao longo de um dia”, contou Pichai. “Se você assistir vídeos do YouTube durante muito tempo, vamos sugerir uma pausa.”

Como no aplicativo Family Link, criado pelo Google para pais controlarem o uso do celular pelos filhos, o Android terá controles similares para adultos controlarem a si mesmos. Haverá um recurso para determinar um tempo máximo de uso de um aplicativo e o smartphone fará a tela ficar em preto e branco para desestimular as pessoas a usarem o aparelho depois das 22 horas -- se assim usuário quiser. Ao virar a tela do smartphone para baixo na mesa, ele automaticamente vai desligar as notificações.

Apesar de ter citado a privacidade na abertura do evento, porém, pouco se viu -- além dos esforços em reduzir o uso excessivo de tecnologia -- sobre como o Google está trabalhando para reduzir a coleta excessiva de dados pessoais dos usuários. Talvez o gigante das buscas ainda não tenha se dado conta, apesar do escândalo sobre o uso ilícito de dados de 87 milhões de usuários do Facebook e do início da vigência da nova lei de proteção de dados pessoais da União Europeia (GDPR, na sigla em inglês), que o assunto está mais perto de bater à sua porta do que imagina.

*A repórter viajou a Mountain View (EUA) a convite do Google

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