Google Maps muda nomes – e as vidas – de bairros nos EUA

Usado como base para inúmeros aplicativos, serviço influencia vizinhanças, imobiliárias e jornais; mudanças ocorrem, em geral, por erros de pesquisadores

PUBLICIDADE

Por Jack Nicas
Atualização:
Nome 'do Google' para bairro em São Francisco é usado em cartaz Foto: NYT

Por décadas, o bairro localizado ao sul do centro de São Francisco, ao longo da baía da cidade, era chamado de Rincon Hill, South Beach ou ainda South of Market. Neste ano, ele apareceu no Google Maps renomeado como East Cut. Foi o suficiente para que o nome se espalhasse imediatamente por sites de hotéis, no Uber e até em aplicativos de namoro – afinal, todos usam a base de dados do Google Maps. Não ficou por aí: depois, o nome East Cut se propagou para o mundo físico. Agora, imobiliárias atraem inquilinos para o local e agências de notícias já se referem à vizinhança com o novo nome. 

PUBLICIDADE

“Estão degradando a reputação da nossa área”, disse Tad Bogdan, que vive no lugar há 14 anos. Em uma pesquisa que ele fez com 271 moradores da região, 90% dos entrevistados disseram não gostar do novo nome. 

A rápida mudança de topologia do bairro, que tem cerca de 170 anos, é apenas um dos muitos exemplos de como o Google Maps se tornou, contemporaneamente, o principal árbitro de nomes de lugares. O mesmo vale para o novo bairro de Detroit, Fishkorn, conhecido antes como Fiskhorn. Ou para a nova área de Nova York, o Midtown South Central. Por decisão da gigante americana, a identidade de um bairro ou uma cidade inteira pode ser reformulada, em uma ilustração simples da influência que o Vale do Silício exerce sobre o mundo real. 

Cartografia. Antes da internet, os nomes de bairros eram criados por meio do boca a boca, artigos em jornais, além de mapas físicos publicados periodicamente. Mas o Google Maps, lançado em 2005, é atualizado continuamente e oferecido a mais de 1 bilhão de pessoas em computadores e celulares. O Google também fornece os dados do mapa para milhares de websites e aplicativos, o que ajuda a ampliar sua influência.

Em maio, mais de 63% das pessoas que acessaram um mapa em um smartphone ou tablet utilizaram o Google Maps, frente a 19,4% que usaram os mapas de gigante da Internet chinesa Alibaba e 5,5% o Apple Maps, de acordo com a comScore.

Como o Google chega a esses nomes nos mapas? É um mistério. Procurada pelo NYT, a empresa diz que cria mapas a partir de dados de terceiros, fontes públicas, satélites e informações de usuários. A empresa não deu detalhes a respeito – e, em alguns casos, é possível perceber erros de pesquisadores ou até mesmo piadas internas. 

É o caso do que aconteceu com Jeffrey Schneider, arquiteto que trabalha na região de Silver Lake, em Los Angeles. 

Publicidade

Ao alugar seu apartamento, ele começou a chamar a colina onde vive de Silver Lake Heights, em parte como uma piada sem graça. No ano passado, porém, a região onde fica o prédio acabou sendo renomeada como Silver Lake Heights apareceu no Google Maps. Nem Schneider acredita: “Agora, para cada lista de imóveis à venda ou para alugar neste bairro, eles citam este nome”, diz. “As pessoas simplesmente veem um nome num mapa e passam a acreditar nele.

Além disso, algumas sugestões são oferecidas por pessoas com pouco conhecimento dos locais, o que ocorre na Índia, por exemplo. 

Em Detroit, alguns moradores ficaram irritados com o mapa da cidade no Google. Segundo o urbanista Timothy Boscarino, o Google usou os nomes baseados em um mapa publicado online em 2002, por alguns moradores, para situar os bairros. O mapa foi criado por Arthur Mullen, um urbanista, como um projeto paralelo. O problema foi que ele trocou as letras K e H no bairro conhecido como Fiskhorn, agora chamado de Fishkorn. “Devo ter cometido um erro; duas décadas depois, as pessoas têm de conviver com isso”, disse ele. 

No caso da cidade conhecida pelas montadoras, as autoridades fizeram uma pesquisa e criaram um mapa oficial dos bairros, o que resolveu casos como o de Fiskhorn – embora o nome errado siga no Google Maps. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.