HC vai usar inteligência artificial para analisar pulmão de doente com coronavírus

Projeto oferecerá algoritmo para diagnóstico a partir de imagens de tomografia e raio-x

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Por Bruno Romani
Atualização:

O Hospital das Clínicas (HC) está liderando uma iniciativa para usar inteligência artificial (IA) na detecção de casos de novo coronavírus. Batizado de RadVid19, o projeto está construindo um banco de imagens de tomografia e exames de raio-x de pulmões de pacientes com casos confirmados e suspeitos de covid-19. Com a ferramenta em mãos, médicos de diferentes partes do Brasil poderão ter auxílio no diagnóstico da doença, algo crucial no atual contexto de falta de exames específicos para o novo vírus. 

O RadVid19 tem duas etapas paralelas. Uma delas é emergencial e visa colocar nas mãos de médicos brasileiros, da maneira mais rápida possível, uma ferramenta de detecção da doença. Assim, o projeto vai disponibilizar um algoritmo criado pela chinesa Huawei, uma das empresas parceiras do projeto.

Imagem de pulmão analisado por algoritmo oferecido pelo HC Foto: HC/Divulgação

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O algoritmo foi criado e testado na China com mais de mil imagens de pacientes infectados pelo coronavírus – quando o paciente chega ao hospital com sintomas respiratórios, o índice de acerto da IA é de acima de 90%. O número, porém, cai para cerca de 50% quando não há sinais de problema na respiração, como falta de ar.

“Esse algoritmo permite que radiologistas tenham mais rapidez e precisão. Além disso, permite que radiologistas menos experientes possam fazer o mesmo diagnóstico que profissionais mais experientes”, explica ao Estado Giovanni Cerri, presidente do InovaHC, braço de inovação do HC, e presidente do Conselho Diretor do Instituto de Radiologia.

O análise de imagens para diagnóstico é uma das áreas mais promissoras da IA em saúde. A partir de milhares de exemplos, a IA consegue detectar padrões e fazer estimativas sobre quando há ocorrências de doenças. No mundo, existem diferentes pesquisas com IA para detectar diferentes tipos de câncer, doenças cardíacas e até mesmo problemas nos olhos. 

“O pulmão afetado pelo coronavírus ganha um aspecto de vidro fosco. O algoritmo determina não apenas isso, mas qual a porcentagem do pulmão foi comprometida”, diz Cerri. “Existem estudos que indicam que o comprometimento de 50% do pulmão somado a outros fatores de risco podem caminhar para o agravamento da condição do paciente”, explica. 

A vantagem de usar IA é que ela consegue identificar padrões de imagem que nem sempre são perceptíveis aos olhos de todos os médicos, além de poder fazer isso com mais velocidade e com maior abrangência no número de pacientes. 

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No caso do algoritmo escolhido pelo HC, o tempo de diagnóstico é de apenas dois minutos. A plataforma deverá ser disponibilizada na semana que vem para qualquer instituição médica que fizer contato com o HC – entre os parceiros já estão o Sírio-Libanês, Sírio-Libanês, o Hospital do Coração (HCor), o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e os grupos de saúde Fleury, Americas Serviços Médicos. 

Até a abertura total do projeto, alguns testes serão realizados com instituições parceiras, incluindo algumas de Manaus e Belém, onde o sistema de saúde já está entrando em colapso por causa do vírus.

Para usar a ferramenta, o hospital precisará mandar as imagens de tomografia numa espécie de site interno do projeto. Já na nuvem, gerida pela Amazon, o processamento será feito e o resultado devolvido ao médico responsável - faz parte do projeto também a GE Healthcare. 

Banco de dados

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Já a segunda parte do projeto é a razão principal de sua existência: criar um banco de dados com pacientes brasileiros para gerar algoritmos 100% nacionais. Embora importante, o algoritmo da Huawei reflete a realidade da China. Para maior precisão nos hospitais daqui, é necessário o treinamento com dados de pacientes brasileiros.

“Queríamos desenvolver primeiro algoritmo internamente, mas vimos a necessidade de criar algo assistencial para dar apoio na ponta”, explica Cesar Higa Nomura, diretor do Centro de Diagnóstico por imagem do InCor. “Com a criação do nosso dataset, iremo abrir para que startups e parceiros possam trabalhar em suas soluções. 

Por isso, o projeto está convocando hospitais e radiologistas por meio do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem para que possam contribuir com exames de seus pacientes. Atualmente, oRadVid19 já tem informações de 600 pacientes com covid-19. A expectativa é ampliar esse número para oferecer as informações para os parceiros, o que deve ocorrer nos próximos 30 dias. 

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Quando chegar nesse estágio, o projeto espera que startups e empresas desenvolvam algoritmos sofisticados e soluções para os pacientes brasileiros. Cerri espera que possam aparecer algoritmos capazes de associar os exames por imagem com outras informações clínicas, como idade e peso, para diagnósticos mais avançados.

Em relação à privacidade dos pacientes, explicam os médicos, os dados são anonimizados antes de entrarem para o banco de informações. Assim, não há nomes ou outras informações que possam identificar o dono do exame. 

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