Hit na quarentena, Zoom quer abrir escritório no Brasil no 2º semestre

App de videochamadas já está encaminhando contratações; em entrevista ao Estado, empresa diz que foi pega de surpresa com sucesso e corre para consertar problemas de privacidade e segurança

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Foto do author Bruno Romani
Por Bruno Romani
Atualização:

Popular na quarentena, o aplicativo de videochamadas Zoom planeja abrir um escritório e fazer contratações no Brasil. Em conversa com o Estado, Abe Smith, diretor de mercados internacionais da companhia, afirmou que o País já estava nos planos da empresa, mas que a crise gerada pela covid-19 pode ter potencializado esse interesse.

Explica-se: o Zoom teve uma ascensão meteórica durante a pandemia. Em dezembro de 2019, o serviço tinha 10 milhões de participantes por chamadas por dia. Três meses depois, fechou o mês de março com 200 milhões. A perspectiva é de crescimento ainda maior nos próximos meses, diz o executivo. “Certamente, não há na história da tecnologia um crescimento como esse”, afirma.

Abe Smith, do Zoom: hoje, empresa tem cinco funcionários dedicados ao Brasil em sua sede, em San Jose (Califórnia) Foto: Zoom

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Com grandes poderes, porém, vem grandes responsabilidades. E o Zoom entrou numa espiral de problemas de privacidade e segurança. Quase na mesma proporção em que novos usuários chegavam, a companhia via problemas surgirem: uma ferramenta de login via Facebook passou a transmitir dados para a rede social; chamadas passaram a ser invadidas; a criptografia foi questionada e mais de 500 mil contas, com senhas e dados pessoais, passaram a ser vendidas na dark web. 

Aqui no Brasil, isso levou o Ministério da Justiça e da Segurança Pública a notificar a plataforma, algo que, segundo o Zoom, já está sendo resolvido. O escritório aqui seria então uma forma de aumentar a conversa com os usuários, clientes, investidores e autoridades brasileiras. 

Além de implementar um plano de segurança de 90 dias, no qual todos os outros projetos da companhia foram congelados para dar lugar ao desenvolvimento da privacidade e da segurança, o Zoom acredita que precisa educar melhor os usuários sobre suas ferramentas e recursos que garantem segurança e privacidade. Segundo Smith, o escritório local seria parte desse esforço. “Temos já contratações encaminhadas e o nosso escritório físico deve ser inaugurado no segundo semestre”, diz o executivo. 

Nos EUA, a empresa já conta com cinco funcionários que falam português e estão dedicados ao mercado brasileiro. Entre os 17 servidores de dados da companhia espalhados pelo mundo, um deles está em São Paulo. 

'Pegos de surpresa'

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Segundo Smith, uma das explicações para a enxurrada de problemas aconteceu pelo fato de que a própria empresa se surpreendeu com o tipo de usuário que passou a atender. O foco da empresa sempre foi clientes corporativos, com departamentos de TI capazes de antecipar, solucionar e educar problemas específicos de seus usuários. 

A pandemia trouxe, porém, pessoas comuns, desprotegidas da rigidez de quem desenvolve segurança corporativa. Por isso, surgiu a necessidade de dialogar mais. Ironicamente, os escândalos que teriam nascido com usuários pouco educados sobre a plataforma respingou no mercado corporativo, o filão desejado pelo Zoom. Nos EUA, Google e SpaceX estão entre as empresas que proibiram os funcionários de usar a aplicação. No Brasil, a Anvisa tomou medida parecida. 

“Para ganharmos a confiança desses clientes transparência é fundamental. Fomos os mais abertos e transparentes na história da tecnologia. Publicamos informações quase diariamente. Publicamos um relatório de transparência. Formamos um conselho, que nos permite consultar os melhores especialista do mundo. E contratamos um consultor externo para nos ajudar com segurança e privacidade”, diz Smith. 

Nesse último quesito, ele se refere a Alex Stamos, ex-chefe de segurança digital do Facebook, que atualmente é um consultor independente. Segundo Smith, o especialista procurou o Zoom por sentir que tinha um grande desafio pela frente: tornar confiável o app que via uma alta dose de popularidade injetada em sua marca. 

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