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Na era do coronavírus, este ‘coach’ de influenciadores nunca trabalhou tanto

Em meio ao isolamento social, mercado de produtores de conteúdo digital está aquecido e cada vez mais disputado, o que abre espaço para profissionais como Josh Zimmermann

Por Taylor Lorenz
Atualização:

Alyson Stoner, de 26 anos, é uma atriz que já participou de várias produções da Disney e da Nickelodeon. Ela também desenvolveu por conta própria um público online de mais de 1 milhão de seguidores, que a acompanham em busca de conselhos sobre bem-estar e criatividade. No mês passado, quando os estúdios de Hollywood apagaram as luzes, sua segunda carreira deu um salto. Em meados de março, ela estava se sentindo presa numa “rodinha de hamster” de trabalho. Foi então que ela recebeu uma ligação de Josh Zimmerman, seu coach de vida.

Zimmerman, de 35 anos, ajudou Stoner a priorizar seus projetos e restringir o escopo de suas responsabilidades. Em menos de 24 horas, ela criou o plano para uma oportuna série de vídeos sobre luto, gratidão e autorreflexão chamada “14 Dias de Atenção Plena” (veja mais abaixo), que ela viria a compartilhar no Instagram e no YouTube.Ela arquivou outros projetos que estavam tomando muito tempo. “Recuperei minhas manhãs e essa estrutura me permitiu manter uma sensação de estabilidade e sanidade durante a quarentena”, disse ela.

Inspirado no pai, que era coach de grandes executivos, Josh Zimmerman criou seu próprio negócio para os influenciadores Foto: NYT

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No decorrer de dois anos, Zimmerman se tornou conselheiro obrigatório para criadores de conteúdo. Por meio de sessões de coaching individuais, conduzidas via Zoom mesmo antes da pandemia, ele ajudou dezenas de pessoas a organizar suas vidas de influenciadores. “O que muitas pessoas não entendem é que o processo de criação de conteúdo é estressante e muito solitário”, disse Zimmerman.

Criando conteúdo na crise

Zimmerman não é agente. Não ajuda seus clientes a negociar acordos de marca, nem fica com uma porcentagem de seus rendimentos. E também não é terapeuta. É coach de vida – e faz questão de deixar muito claro qual é a diferença. “Eu trabalho em qualquer frente que o talento queira trabalhar, a menos que a coisa se desvie para a saúde mental”, disse ele.

Enquanto o terapeuta ajuda o influenciador a diagnosticar problemas de saúde mental que surgem do peso emocional de estar sempre exposto aos seguidores, Zimmerman desenvolve soluções táticas, como planejamento de carreira e técnicas de foco.

“Quando vejo o que Josh está fazendo, fico com a impressão de que é uma coisa muito particular, mas o fato é que ele preenche uma necessidade muito específica na comunidade de criadores”, disse Earnest Pettie, executivo líder de tendências no YouTube. “Não é segredo para ninguém que alguns dos executivos com melhor desempenho têm coaches de carreira. Os criadores são uma classe emergente de profissionais de mídia, então é ótimo vê-los procurar especialistas que possam fornecer suporte e recursos para ajudá-los a continuar produtivos de uma maneira positiva”.

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O papel de Zimmerman parece especialmente vital agora, em meio a uma crise de saúde que mandou metade do mundo para casa por período indeterminado e colou muita gente nos celulares. A pandemia tem sido uma dádiva para os influenciadores que dão conselhos práticos aos seguidores na era do coronavírus – como influenciadores fitness, blogueiros de alimentos e profissionais da área médica, por exemplo. Mas os influenciadores de outros setores, como viagens e moda, perderam milhões em contratos com marcas e receitas de anúncios.

A maioria dos criadores continuou trabalhando normalmente – ou até mais do que o normal. “Numa época em que está tudo fechado e isolado, a população em geral está se voltando mais para o entretenimento e a mídia”, disse Stoner. 

E a concorrência é feroz. “Você publica mais conteúdo, mas sua audiência se dilui, porque todo mundo está fazendo lives ao mesmo tempo ou lançando coisas novas”, disse Zimmerman. “Você tenta chamar atenção de todas as maneiras, mas o dinheiro não está chegando como deveria, e talvez os acordos com marcas de que você dependia tenham desaparecido”.

O custo de criar uma marca

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Muitos criadores recorrem a Zimmerman por causa de seu currículo: ele trabalha com influenciadores há anos e conhece bem os meandros do negócio. Em 2013, Zimmerman conseguiu emprego no YouTube Nation, um programa de notícias do YouTube com mais de 2 milhões de assinantes, e mergulhou de cabeça no mundo das estrelas da plataforma. “Eu não tinha ideia de quem eram esses criadores, mas comecei a admirá-los de verdade”, disse ele. Três anos depois, Zimmerman fundou sua própria empresa, a JZ Management.

Ele gostou de trabalhar com criadores e ficou impressionado com o custo de produzir conteúdo e criar uma marca pessoal. Seu pai trabalhava desde muitos anos como coach de vida para executivos de alto nível e, em 2018, Zimmerman decidiu seguir seus passos. Ele fundou o CreatorCoach.com e declarou que era “o primeiro coach de vida dedicado aos criadores”.

Nesse mesmo ano, a síndrome de burnout se tornou um tema de debate recorrente. Alguns dos principais YouTubers anunciaram que dariam um tempo da plataforma. Muitos influenciadores abandonaram o negócio ou desistiram completamente da internet. A razão de ser do CreatorCoach ficou mais clara.

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Os influenciadores enfrentam um conjunto único de desafios. “Os criadores não conseguem separar vida e trabalho porque o trabalho é a vida deles”, disse Zimmerman. “Nós desligamos o computador e vamos para casa. Mas eles são sua própria marca. São seu próprio IP. Eles nunca desligam, o que os leva ao esgotamento e a um monte de coisas que não são úteis para o processo criativo”.

É o fim dos influenciadores?

Algumas pessoas sugeriram que a pandemia pode marcar o fim da cultura de influenciadores. Mas Collin Colburn, analista sênior da Forrester, uma empresa de pesquisa e consultoria de mercado, discorda. “Não acho que seja o fim de nada”, disse ele. “Pode haver um colapso na publicidade impressa, pode haver um colapso na publicidade de mídias exteriores, pode haver um colapso no marketing dos influenciadores. Mas não acho que eles vão acabar”.

A pandemia transformou ainda mais pessoas em criadores online. Os apresentadores de TV agora estão fazendo vlogs e até gente comum começou a fazer live no Instagram. Os vídeos com #withme, nos quais as pessoas mostram suas tarefas diárias aos espectadores, viram um aumento de 600% nas visualizações desde o começo da pandemia.

Mas, sem dúvida, a receita com anúncios diminuiu, e certos setores da comunidade de criadores podem enfrentar problemas. “Se você der uma olhada nas crises e recessões passadas, vai ver que é apenas uma calibragem do orçamento de marketing”, disse Colburn. “Talvez os influenciadores estejam com menos controle sobre seus orçamentos, mas sempre haverá marcas querendo se ligar a essas pessoas que influenciam seus seguidores”.

Zimmerman disse que começou a trabalhar com alguns clientes de graça devido à perda de receita. Ele quer ajudar o maior número de pessoas durante estes tempos incertos e caóticos. “A indústria está se movendo na velocidade da luz e se transforma a cada hora”, disse ele. “Todo mundo está tentando dizer: ‘é uma maratona, não uma corrida’. Mas a verdade é que é uma maratona a 200 quilômetros por hora”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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