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Na nuvem, a Oracle busca sua reinvenção

Há 40 anos no mercado de tecnologia, empresa conhecida por serviços de bancos de dados faz transformação e aposta em ‘segunda geração’ da tecnologia, mais segura e rápida

Por Bruno Capelas e enviado a São Francisco (EUA)
Atualização:
Fundador da Oracle, Ellison segue na ativa como diretor de tecnologia Foto: Olesya Stryzhak/Oracle

Com mais de quatro décadas de atuação, a Oracle é o que pode se chamar de uma veterana no mercado de tecnologia. Conhecida por serviços como bancos de dados e servidores para empresas, a companhia fundada por Larry Ellison segue fazendo sua própria transformação digital para manter-se relevante. Nesta semana, durante o Oracle Open World, evento que realizou para 60 mil pessoas em São Francisco, na Califórnia (EUA), a empresa mostrou que seu caminho está nas nuvens – ou melhor, na computação em nuvem. 

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Em uma apresentação liderada pelo próprio Ellison, um raro pioneiro da computação que segue ativo – ao contrário de colegas de geração, como Bill Gates e Steve Wozniak –, a Oracle trouxe ao mundo o que chama de “segunda geração da computação em nuvem”. 

Em tese, ela vai suceder a primeira “onda”, à qual a empresa chegou atrasada, depois de rivais como IBM, Microsoft e a Amazon Web Services – a última é a líder de mercado nos Estados Unidos. Segundo Pietro Delai, analista da consultoria IDC Brasil, a corrida da substituição dos velhos data centers físicos começou em 2005 e se intensificou nesta década. A Oracle vê chances de recuperar terreno agora que a disputa entra em nova fase.

Segundo Ellison, a nova geração de serviços em nuvem da empresa é mais rápida e segura do que a da concorrência. Além disso, a Oracle aposta em uma utilização mais “esperta” da tecnologia: mais do que apenas usar servidores hospedados em qualquer lugar do mundo para guardar dados de clientes, a empresa quer tornar a nuvem “inteligente”. Isto é: suas aplicações não vão apenas guardar informações, mas também para processá-las e torná-las úteis. 

É um modelo conhecido no mercado como “plataforma como serviço”, contra o que se chama de “infraestrutura como serviço”. Durante a apresentação do conceito, em São Francisco, Ellison afirmou que sua tecnologia é mais barata que a da Amazon – informação não confirmada por analistas. “Ainda é cedo para dizer, mas é algo que vai ajudar a manter clientes perto deles, pelo menos”, avalia Adrian Merv, vice-presidente da consultoria Gartner. 

A Oracle também bateu na tecla da segurança: “As principais empresas de tecnologia, incluindo Google e Facebook, têm sido hackeadas. Precisamos fazer algo”, disse Ellison.

Transição. Apostar na nuvem não é algo exatamente novo para a Oracle. A questão é que a empresa ainda não conseguiu “pegar” neste segmento. A companhia faturou US$ 1,6 bilhão com computação em nuvem no primeiro trimestre de 2018, menos de um terço do que a Amazon arrecadou em igual período. A Oracle também ficou atrás da Microsoft no segmento.

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No entanto, seguir esse caminho é um passo necessário para a veterana continuar relevante no setor. “Não há mais espaço para os velhos data centers de empresas”, diz Merv, da Gartner. “Eles têm investido bastante e podem colher frutos, mas ainda não viram isso acontecer globalmente.”

Na América Latina, onde a empresa completou 30 anos de atuação, a Oracle diz que a transição está mais avançada. Segundo Luiz Meisler, presidente da Oracle na região, 70% dos novos contratos da companhia aqui já são em nuvem. 

Todos os tamanhos. Durante o evento, a empresa enumerou diversas outras apostas: softwares de gestão integrada, marketing, blockchain e inteligência artificial, entre outros. A gigante americana estabeleceu também a meta ter mais clientes entre as pequenas e médias empresas – hoje, é conhecida por atender grandes corporações. 

“Com a nuvem, você não precisa mais de um data center caríssimo dentro da sua empresa. Você só paga pelo que utilizar”, disse Steve Miranda, vice-presidente de aplicações da Oracle, durante uma das palestras.

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A gigante americana também tenta se aproximar de startups – no Brasil, já está na segunda turma de seu programa de aceleração de empresas iniciantes de tecnologia. O projeto é considerado um sucesso e deve ganhar novas versões em outros países da América Latina. 

“Achávamos que as startups queriam só ganhar nossos créditos para serviço de nuvem”, diz Rodrigo Galvão, presidente da empresa no Brasil. “O que não sabíamos é que eles queriam as conexões que temos com grandes empresas”. Segundo o executivo, que se envolveu pessoalmente no projeto, a parceria com as novatas tem rendido frutos. “Em alguns casos, ganhamos concorrências porque levamos startups junto conosco para conquistar os clientes.”

Desafios. Na visão de Fernando Meirelles, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), a empresa vai precisar se desdobrar para ser bem-sucedida. “Existem companhias que já atendem pequenas e médias empresas, e que têm se integrado (com outras empresas de tecnologia). A Oracle trilha o caminho contrário: tenta oferecer todas as soluções, de software de gestão (ERP) à nuvem, e resolver tudo dentro de casa”, explica o professor. 

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Segundo o especialista, o sucesso de outras empresas na nuvem hoje se deve à capacidade de formar alianças. “A Microsoft, por exemplo, tem se dado bem porque integra seus sistemas. O mesmo vale para a IBM, que achou um mercado com o Watson”, comenta. “Já a Oracle precisa de foco. Hoje, a maior rival dela é ela mesma.”

* O repórter viajou a convite da Oracle.

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