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'Nosso rival é o banco vazio em cada carro', diz presidente do Waze

Empresa de Noam Bardim lançou ontem no Brasil serviço de carona, com viagens que começam em R$ 2; meta é tirar veículos das ruas

Por Bruno Capelas
Atualização:
Noam Bardim, presidente executivo do Waze: nem carro autônomo, sozinho, vai resolver o problema do trânsito Foto: Werther Santana/Estadão

À frente do Waze desde 2009, o israelense Noam Bardim tem uma meta clara: acabar com o trânsito nas grandes cidades. No entanto, ele percebeu recentemente que só ajudar as pessoas a encontrarem atalhos, com ajuda do GPS e de internet, não seria suficiente. Era preciso mudar a forma das pessoas se locomoverem pelas grandes cidades – recorrendo, talvez, a um antigo hábito: caronas. Nesta quarta-feira, 22, a empresa começa a rodar no Brasil o Waze Carpool, serviço que busca unir motoristas e passageiros com ajuda da tecnologia.

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"Precisamos usar a carona porque esse é o único jeito de resolver o problema da mobilidade. Mesmo que tenhamos carros autônomos, se houver uma pessoa por carro, teremos o mesmo trânsito que existe hoje", diz ele. Bardim esteve no Brasil para lançar o serviço e conversou com o Estado sobre as dificuldades de fazê-lo – "há um desafio de densidade", diz ele. Além disso, falou sobre os planos para o começo do serviço por aqui e o que espera ver quando o Carpool for um sucesso. A seguir, os principais trechos da entrevista. 

Estado: O Waze Carpool tenta combinar motoristas e passageiros. Como fazer isso? Noam Bardim: Temos um desafio de densidade: precisamos que os usuários morem perto, precisem de viagens em horários parecidos e tenham destinos similares. Com ajuda de tecnologia, conseguimos cruzar esses dados para o usuário. Hoje, nós já temos os motoristas, o que é uma vantagem. E mais: quem dirige não precisa esperar um passageiro, é só sair andando. Se aparecer alguém, é uma vantagem. Queremos aproveitar recursos que já existem, mas são subutilizados.

O Carpool é como o Uber?  Não somos o Uber. Carona é algo voluntário. O dinheiro que o motorista vai ganhar no aplicativo deve ajudá-lo com a gasolina. Tem de ser uma experiência divertida para todos, por isso sugerimos que andem no banco da frente. Sei que ela vai variar de acordo com a sua residência. Se você mora a 100 metros de uma estação de trem, você vai andar. Se você mora a 1 quilômetro, você pode andar ou pegar uma carona. Vamos aprender como as pessoas vão usar o serviço, em cada vizinhança. 

No Brasil, as pessoas já deixam o carro em casa, graças ao Uber, mas usam-o como serviço. Como convencê-las a mudar para a carona?  Quando começamos com o Waze, dizendo que as pessoas iam usar o celular para se guiar por aí, nos chamaram de loucos. Funcionou: hoje, 100 milhões de pessoas usam o Waze. Mudar é difícil, mas pensamos do mesmo jeito com o Carpool. Precisamos usar a carona porque esse é o único jeito de resolver o problema da mobilidade. Mesmo que tenhamos carros autônomos, se houver uma pessoa por carro, teremos o mesmo trânsito que existe hoje. Já com a carona, até mesmo quem não estiver no sistema vai se beneficiar, porque haverá menos carros na rua. 

Por que fazer um lançamento nacional?  Precisamos testar. Acredito que o Carpool será grande em São Paulo e no Rio, mas pode não dar certo no começo. Talvez Fortaleza funcione melhor. Sabemos que vamos desapontar algumas pessoas: às vezes, será difícil achar motoristas ou passageiros, especialmente no início. Mas serão os usuários que podem nos dizer como o serviço pode funcionar. E vamos aprender com isso. 

Outras startups têm serviços parecidos. Como o sr. vê a competição?  Ficamos felizes com a concorrência. No fim do dia, nosso maior competidor não é outra empresa, mas sim o banco vazio em cada carro num congestionamento, o carro que só tem uma pessoa. 

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Se nos encontrarmos daqui a um ano, como saberemos se o Waze Carpool é um sucesso?  Espero que façamos um evento às 9h da manhã em São Paulo e não vejamos congestionamentos na cidade. Espero que seja daqui a um ano, mas talvez seja um pouco mais, mas é como mediremos nosso sucesso: conforme as ruas forem ficando mais vazias. Estamos trabalhando com governos e o setor privado, porque todos vencem se isso acontece. Não é só trânsito: é poluição, é o custo de achar um lugar para estacionar, é tempo que as pessoas perdem para escapar o trânsito. Queremos dar mais tempo às pessoas.

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