Link Estadão

 
  •  inovação
  •  cultura digital
  •  gadgets
  •  empresas
  •  games
formulário de busca

O brasileiro que caçava unicórnios

Após sucessos e fracassos como empreendedor, Veras viu sua 99, vendida aos chineses da Didi, chegar ao valor de US$ 1 bilhão

07/01/2018 | 05h00

  •      

 Por Claudia Tozetto, Bruno Capelas e Mariana Lima - O Estado de S. Paulo

Para Veras, venda da 99 foi como ver um filho crescido partindo

Werther Santana/Estadão

Para Veras, venda da 99 foi como ver um filho crescido partindo

Leia mais

  • App de transporte chinês Didi Chuxing recebe US$ 4 bilhões em aporte
  • 'Uber chinês', Didi Chuxing pode voltar a investir na 99
  • Didi e Uber vão travar guerra pelo Brasil

O paulistano Paulo Veras, de 45 anos, tem vivido uma mistura de sentimentos nos últimos dias, desde que acertou com a gigante chinesa Didi Chuxing a venda do controle do aplicativo de transporte 99, que ele ajudou a criar em 2012, por US$ 600 milhões. Se por um lado Veras conseguiu um feito inédito, ao levar a primeira startup brasileira a chegar a US$ 1 bilhão em valor de mercado, por outro foi como ver um filho crescido partindo. “A princípio eu não queria sair do negócio”, diz o cofundador da startup, com certo pesar, em entrevista ao Estado. “Mas a 99 precisa de muito capital para crescer e toda vez é muito difícil conseguir. A aquisição eliminou esse risco.”

O medo de a startup ficar sem dinheiro sempre rondou Veras. No concorrido mercado de aplicativos de transporte, ganha a disputa quem tiver mais dinheiro para subsidiar corridas. Em julho de 2016, ele viveu seu momento mais tenso à frente da empresa: havia um ano que a 99 não recebia um novo aporte e a empresa dava prejuízo. Um dia, ele abriu o jogo numa reunião com todos os funcionários e disse que fecharia as portas em três meses, caso a startup não desse lucro. “Eu disse que a gente não podia morrer na praia, que tínhamos de virar o jogo”, afirma. Um mês de intenso trabalho depois, o primeiro mês da companhia no azul chegou. “Ficamos com a sensação de que poderíamos fazer qualquer coisa.”

Essa capacidade de mover as pessoas em torno de um objetivo comum é uma das marcas de Veras, segundo pessoas próximas ao executivo. “Ao mesmo tempo em que ele é obcecado como empreendedor, ele se preocupa em desenvolver as pessoas que estão ao redor”, afirma Mate Pencz, cofundador e presidente executivo da gráfica online Printi. “É alguém que acolhe e motiva.”

A empreendedora Karen Kanaan, que trabalhou diretamente com Veras quando ele foi diretor-geral da organização de apoio a empreendedores Endeavor (veja a trajetória do executivo ao lado), relembra seus métodos de gestão. “O Veras dava apoio e segurança para que a equipe marcasse os gols”, diz.

Ferro e fogo. Com a venda da 99, Veras saiu com os bolsos cheios, assim como os outros cofundadores – Ariel Lambrecht e Renato Freitas – e os fundos que apostaram na startup logo no início. Porém, engana-se quem pensa que a trajetória de Veras é feita apenas de êxitos.

Em 1996, pouco depois de deixar a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde se formou em Mecatrônica, ele se juntou a outros amigos “nerds” para criar uma empresa de desenvolvimento de sites, a Tesla. O problema é que a maioria das pessoas no Brasil nem tinha acesso a internet. “Eu tinha certeza que a internet ia revolucionar o mundo”, diz ele. “Mas a gente não sabia nem como prestar o serviço, não conseguíamos clientes.”

Depois de uma temporada na Endeavor, ele criou o site de compras coletivas Imperdível, contemporâneo de Peixe Urbano e Groupon. Assim como os rivais, o Imperdível decolou, mas entrou em declínio pouco tempo depois. “A história do Imperdível é diferente da 99”, conta Guimarães, cofundador do site com Veras e que hoje lidera a startup de planejamento financeiro Fiduc. “O mercado quebrou e fomos arrastados para a mesma vala.”

Para Veras, o fracasso foi fundamental para sua carreira. “Isso completou minha formação de empreendedor”. Mas também o fez ficar ressabiado com as novas “modinhas” da internet. E esse receio quase o fez perder a oportunidade de sua vida. “Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça”, diz Veras, rindo.

Quando Lambrecht e Freitas lhe mostraram o primeiro protótipo do aplicativo da 99, ainda em 2012, ele disse de cara que não queria participar do projeto. “Eu só conseguia pensar que ia ser a ‘nova compra coletiva’ e que o mercado seria inundado por concorrentes”, conta. Por fim, decidiu mergulhar de cabeça no projeto e não parou mais.

Só parou de pensar no negócio na última quarta-feira, 3, quando celebrou de shorts e camiseta a venda do aplicativo que ajudou a criar. Em meio a boias infláveis em formato de unicórnios – em referência ao apelido dado às startups que valem US$ 1 bilhão –, ele se despediu daquela que foi sua casa pelos últimos seis anos. Por ora, ele diz não querer começar outra empresa do zero. Seu novo projeto, a partir de agora, é tirar um bom tempo de férias.

    Tags:

  • Paulo Veras
  • Didi Chuxing
  • 99

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.

Assine o Estadão Já sou Assinante

Tendências

  • Galaxy S21 x iPhone 12: veja comparação entre os rivais
  • Google lança fundo de US$ 3 mi contra fake news sobre a vacina da covid-19
  • CES 2021: Confira os produtos 'contra covid-19' apresentados na feira
  • Por que a China se voltou contra Jack Ma, chefe do Alibaba?

Mais lidas

  • 1.Como Signal e Telegram viraram alternativa a Facebook e WhatsApp
  • 2.Apple testa tela dobrável para iPhone, diz agência
  • 3.A seção 230 norte-americana
  • 4.Índia pede que WhatsApp cancele sua nova política de privacidade
  • 5.No ano da pandemia, Netflix teve o maior aumento de assinantes da história
  • Meu Estadão
  • Fale conosco
  • assine o estadão
  • anuncie no estadão
  • classificados
  •  
  •  
  •  
  •  
  • grupo estado |
  • copyright © 2007-2021|
  • todos os direitos reservados. Termos de uso

compartilhe

  • Facebook
  • Twitter
  • Linkedin
  • WhatsApp
  • E-mail

Link permanente