O TikTok durou mais que Trump e agora quer testar Biden

Não está claro como o novo presidente lidará com as empresas chinesas de tecnologia

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Por David McCabe
Atualização:
O futuro do TikTok cairá nas mãos de Biden Foto: Mike Blake/Reuters

O TikTok durou mais que o presidente Donald Trump. Agora, o aplicativo pode se tornar um teste inicial da postura do novo presidente dos EUA, Joe Biden, em relação às empresas de tecnologia chinesas.

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Trump exigiu no ano passado que a proprietária chinesa do TikTok, a ByteDance, vendesse o aplicativo de vídeos virais. Ele disse que o TikTok levanta questões urgentes de segurança nacional, alegando que o governo chinês poderia ter acesso aos dados dos usuários. A disputa prejudicou a ascensão estratosférica do aplicativo no país.

A ByteDance e o governo Trump conversaram até o fim do mandato do republicano, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. Mas o certo é que o destino do aplicativo não será decidido por Trump, que anunciou suas demandas com grande alarde durante o verão, desistiu de um acordo que aprovou um mês depois e, então, voltou sua atenção para outro lugar.

Em vez disso, o futuro do TikTok cairá nas mãos de Biden, que pouco tem dito a respeito da empresa ou das preocupações mais amplas e bipartidárias em relação à crescente influência das empresas de tecnologia chinesas.

A administração Trump chegou a concordar em estender o prazo em uma batalha judicial sobre as restrições que têm como alvo o TikTok. O novo prazo é 18 de fevereiro - quase um mês após a posse de Biden.

“Minha intuição é que eles esperam superar isso e têm esperança de que isso esteja em segundo plano e eles possam escapar do radar”, disse Samm Sacks, que trabalha na plataforma de pesquisa e inovação New America, sobre a abordagem da ByteDance até os últimos momentos do governo Trump.

Biden tem dito que os EUA devem ser mais rígidos com Pequim, chamando o presidente da China, Xi Jinping, de "criminoso". Mas ele ofereceu poucos detalhes sobre como essa abordagem funcionaria. Ele disse apenas que tentará ter uma política mais consistente em relação ao país - em contraste com a miscelânea de ataques de Trump - enquanto o pressiona em questões como o roubo de propriedade intelectual americana.

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Um porta-voz da equipe de transição de Biden se recusou a comentar os planos do presidente eleito. O TikTok também não quis se pronunciar.

Uma porta-voz do Departamento do Tesouroda era Trump disse em um comunicado que os riscos associados ao aplicativo "não mudaram e a ordem que exige a desapropriação está de pé".

O governo tem trabalhado com a ByteDance e outros para resolver as preocupações, disse a porta-voz, acrescentando: “Esse trabalho continua e o procurador-geral está autorizado a tomar todas as medidas necessárias para fazer cumprir a ordem”.

Negociação 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O TikTok está longe de ser a única empresa com interesse na abordagem de Biden aos gigantes da tecnologia chinesa, que cada vez mais tentam alcançar clientes em todo o mundo. O governo de Trump passou anos pressionando as operadoras americanas e seus aliados no exterior a retirar os equipamentos de telecomunicações chineses das redes 5G. E tentou manter equipamentos essenciais dos fabricantes chineses de semicondutores. Em seguida, voltou seu olhar para os aplicativos de consumidor, tentando banir o TikTok e o WeChat e forçando a venda do aplicativo de relacionamento Grindr.

Neste ano, Trump baniu o Alipay, que pertence à gigante chinesa Alibaba, e uma coleção de outros aplicativos. As proibições têm 45 para entrar em vigor, o que significa que projetá-las e colocá-las em prática ficará a cargo do governo Biden.

Algumas pessoas do lado da ByteDance na mesa de negociações acreditavam que havia vantagens em fechar um negócio antes da saída de Trump. Isso daria à empresa mais certeza quanto ao futuro do aplicativo, em vez de esperar para ver o que Biden faria.

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Se ele quisesse oferecer ao TikTok algum alívio imediato da pressão, Biden poderia rescindir o decreto executivo que foi projetado para isolá-lo das empresas americanas. Ele também poderia rescindir o decreto que ordenava que a ByteDance vendesse o aplicativo.

O governo de Biden também poderia considerar uma gama mais ampla de medidas, na falta de uma venda definitiva, para mitigar as preocupações do painel federal quanto ao TikTok, disseram os especialistas.

Isso pode demorar algum tempo. A nova administração ainda está escolhendo quem ocupará cargos importantes para resolver o problema, o que significa que pode levar meses até que a ByteDance seja capaz de resolver a ordem de desapropriação do governo. E sem rescindir as políticas destinadas a TikTok, o governo Biden pode achar difícil recuar na defesa do governo dessas políticas no tribunal.

Biden também pode decidir seguir uma linha mais dura contra o aplicativo, enquanto busca equilibrar o desejo por uma política coerente da China com a pressão de legisladores de ambas as partes que se preocupam com os riscos associados às empresas chinesas de tecnologia. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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