‘Os jovens de hoje não sabem o que é uma pasta’, diz presidente do Evernote

Para Chris O'Neill, executivo de app de produtividade, é preciso repensar o mundo do trabalho; Brasil é terceiro maior País na plataforma

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Por Bruno Capelas
Atualização:
  Foto: JF DIORIO | ESTADÃO CONTEÚDO

Diz o ditado que “um elefante nunca esquece”. Para o canadense Chris O’Neill, a frase é um lema de trabalho: ele é o presidente executivo do Evernote, app cujo símbolo é o mamífero – e tem como missão ser um bloco de notas inteligente. “Nosso público alvo é de qualquer um que precise usar sua mente para pagar as contas”, explica ele.

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Esse público é cada vez maior no Brasil, onde a empresa está desde 2011. Hoje, 12 milhões de brasileiros têm contas na plataforma para guardar suas ideias e projetos. Criado em 2007, o serviço tem mais de 200 milhões de usuários no mundo – à frente do Brasil, estão só EUA e China.

Ex-chefe do laboratório secreto do Google, o Google X, O’Neill assumiu a operação da empresa há cerca de um ano e meio, com a missão de recolocá-la nos trilhos. “Estávamos fazendo coisas demais. Não eram ideias ruins, mas estavam tirando o nosso foco.” Ao chegar, O’Neill cortou 13% das vagas e eliminou projetos paralelos – como um aplicativo de receitas. O importante, diz ele, era fazer um serviço mais rápido e simples para ser usado por qualquer pessoa – e não só pelos fãs de tecnologia.

Em um mundo com cada vez mais informação, ele vende seu peixe: “Nossos cérebros não foram inventados para lembrar tantas coisas. Precisamos de ajuda para fazer nosso cérebro funcionar”. Otimista, O’Neill aposta que uma das fontes de auxílio pode vir da inteligência artificial. Por outro lado, ele sabe que há muito a fazer até lá.

Seu maior rival no mercado tem séculos de preferência do consumidor – o papel. Além disso, O’Neill reconhece que o mundo do trabalho mudou – e que é preciso construir novos símbolos. “Os jovens de hoje nem sabem mais o que é uma pasta ou um arquivo”, diz.

Uma de suas metas é levar o Evernote a um público amplo. Como explica o app e quem é seu alvo?Todo mundo que está neste planeta tem ideias. O Evernote é onde você pode guardar essas ideias – um desenho do seu filho, uma receita ou uma ata de reunião. Antigamente, o conhecimento costumava dobrar a cada 25 anos. Agora, ele dobra a cada 30 horas. Nossos cérebros não foram inventados para lembrar de tantas coisas ao mesmo tempo. Nosso público é qualquer pessoa que use sua mente para pagar as contas – e que não pode perder tempo pesquisando dados valiosos a toda hora.

O sr. assumiu o Evernote há um ano e meio. O que mudou? Fazíamos algumas coisas bem e outras nem tanto. Decidi que tínhamos de focar no nosso produto principal. Já temos os fãs de tecnologia. Agora, precisamos criar algo simples e fácil para a maioria dos usuários.

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Já tentei usar o Evernote e fiquei perdido. Que conselho o sr. me dá para utilizá-lo? Qualquer app de produtividade requer um investimento de uso. É preciso plantar para colher: não adianta anotar algo que você não vai usar depois. Meu conselho é tentar descobrir uma forma de usar o Evernote para uma parte da sua vida – como uma lista de livros para ler ou lugares para comer. Depois disso, crie outra lista.

O mercado de apps de produtividade é disputado por gigantes como Microsoft e startups como Slack. Como o sr. os vê?São uma representação de que o trabalho mudou. Hoje, a produtividade no trabalho ainda é definida pelo Microsoft Office – mas apenas 5% das pessoas usam seus programas em pleno potencial. O Office também tem uma linguagem antiga: arquivos, pastas. Os jovens não sabem mais o que é isso.

A primeira vez que ouvi falar em pastas na minha vida foi usando o Windows 95. Depois é que descobri o objeto real.Pois é. Os millenials têm expectativas muito altas. Ninguém vai aceitar usar no trabalho um software de mensagens que seja inferior ao WhatsApp. Estamos vendo o começo de uma nova era.

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Quem são seus rivais?Pode rir, mas nosso maior competidor hoje é o papel. Tenho pena de quem ainda usa papel e caneta para fazer suas anotações – o processo de busca é muito analógico quando você precisa de uma informação.

O que o sr. pensa sobre inteligência artificial?Estou ansioso. Quando tenho uma ideia, hoje não consigo digitar muito rápido no celular e registrá-la na velocidade que quero. É frustrante. O melhor jeito de mudar isso será com a voz. Estamos perto de um momento em que a inteligência artificial conseguirá entender o que dizemos e colocará num texto. Com isso, qualquer reunião será mais proveitosa. O futuro parece muito incrível.

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