Pressionado por mais transparência, Facebook pede que funcionários guardem informações

A prática, conhecida como 'retenção legal', acontece na sequência de uma intensa investigação legal em relação aos danos causados pela rede social

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Por Ryan Mac e Mike Isaac
Atualização:
Holding do Facebook mudou de nome e logotipo na última quinta-feira Foto: Noah Berger/AFP

O Facebook disse aos funcionários para “guardar os documentos internos e mensagens desde 2016” que digam respeito a seus negócios, já que governos e órgãos legislativos começaram investigações sobre suas operações, de acordo com um e-mail enviado pela empresa na semana passada. 

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A prática, conhecida como “retenção legal”, acontece na sequência de uma intensa investigação legal, feita pela imprensa e pelos órgãos reguladores, em relação aos danos causados pela rede social. Tanto os políticos como o público ficaram revoltados após Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook que denunciou a empresa, entregar milhares de documentos internos aos legisladores, mostrando o quanto a rede social sabia sobre alguns de seus efeitos nocivos, como espalhar informações erradas e exacerbar problemas de imagem corporal em alguns adolescentes. Esses documentos, conhecidos como “Facebook Papers”, foram publicados primeiramente pelo Wall Street Journal.

“Como vocês provavelmente sabem, neste momento somos o foco de uma ampla cobertura da imprensa com base em uma série de documentos internos”, disse o Facebook no e-mail aos funcionários, ao qual o New York Times teve acesso. “Como costuma acontecer após esse tipo de notícia, diversas investigações de governos e órgãos legislativos foram instauradas nas operações da empresa.”

De acordo com o Facebook Papers, os pesquisadores da empresa debateram como solucionar muitos dos problemas que surgiram em alguns de seus produtos ao longo dos anos. Com o tempo, os principais recursos da rede social - como curtidas, compartilhamentos, grupos e recomendações - não foram usados apenas para expandir a empresa, mas foram manipulados por alguns para prejudicar os usuários, mostraram os documentos. Muitos funcionários do Facebook lutaram para controlar as consequências, segundo os arquivos.

Frances apresentou as denúncias à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês). Ela também testemunhou no Congresso este mês e falou aos legisladores do Parlamento britânico na segunda-feira.

Uma porta-voz do Facebook confirmou que o pedido de retenção legal foi enviado aos funcionários na noite de terça-feira passada, mas se recusou a entrar em detalhes sobre o que motivou a ação. “Os pedidos de preservação de documentos fazem parte do processo de resposta a inquéritos legais”, afirmou.

O Facebook já havia distribuído instruções legais para os funcionários. No ano passado, depois que a Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) e os procuradores-gerais estaduais processaram o Facebook por dar fim ilegalmente a seus concorrentes, a empresa aconselhou os trabalhadores a evitarem discutir questões relacionadas ao processo e exigiu que eles fizessem cursos online para entender as políticas de compliance concorrencial.

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A empresa também está envolvida em uma investigação de fixação de preços de anúncios online com o Google, como parte de uma ação judicial antitruste contra o gigante das buscas, movida por 10 procuradores-gerais estaduais no ano passado.

O Facebook também tentou tomar medidas drásticas em relação aos vazamentos por funcionários. Neste mês, a empresa disse aos trabalhadores que tornaria confidenciais os grupos internos focados na plataforma e em segurança eleitoral. Isso dificultaria que eles vissem as discussões relacionadas a esses temas e limitaria a participação.

“Essas são as ações de uma empresa que tenta resistir à fiscalização, não adotando a transparência”, escreveu o senador democrata por Connecticut Richard Blumenthal, que liderou uma investigação do subcomitê do Senado sobre o Facebook, em uma carta ao CEO da empresa, Mark Zuckerberg, sobre a ação.

No e-mailenviado na terça-feira, o Facebook disse aos funcionários para guardar tudo desde o dia 1º de janeiro de 2016. Também advertiu que as mensagens criptografadas deveriam ser mantidas e que eles devem evitar a troca de mensagens efêmeras para fins de trabalho até novo aviso.

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Não houve nenhuma “ação específica dessa vez”, dizia o e-mail, mas os funcionários não devem discutir ou postar sobre a retenção legal em qualquer lugar do Workplace, o quadro de mensagens interno da empresa.

Nem todos os aspectos dos negócios do Facebook estavam sujeitos à retenção legal, de acordo com o e-mail. A empresa disse aos funcionários que apenas os documentos relacionados ao WhatsApp, seu serviço de mensagens; ao Spark AR, seu estúdio de realidade aumentada; e ao grupo New Product Experimentation, uma incubadora interna, estavam isentos da retenção legal.

“Vocês não precisam guardar documentos ou mensagens que sejam exclusivamente sobre o WhatsApp como um produto da empresa”, dizia o e-mail. “Vocês devem manter todas as mensagens do WhatsApp relacionadas a outros temas.”/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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