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Quem é Sundar Pichai, o indiano que vai substituir os fundadores do Google

Executivo de 47 anos terá a tarefa árdua de substituir a dupla dinâmica Larry Page e Sergey Brin à frente da holding Alphabet; desafios incluem países emergentes e batalhas regulatórias

04/12/2019 | 19h27

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 Por Bruno Capelas - O Estado de S. Paulo

Infância humilde e trajetória de desafios levaram Sundar Pichai a se credenciar para substituir fundadores da empresa

Max Whittaker/NYT

Infância humilde e trajetória de desafios levaram Sundar Pichai a se credenciar para substituir fundadores da empresa

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O indiano Sundar Pichai, de 47 anos, ganhou nesta semana uma missão bastante complexa: substituir os ex-chefes Larry Page e Sergey Brin à frente da Alphabet, a holding que controla o Google. Se qualquer sucessão em empresas já é difícil, neste caso é mais ainda: amigos desde os anos 1990, quando estudaram juntos na Universidade Stanford, Page e Brin criaram o motor de buscas que deu origem à terceira maior empresa do mundo. Mais que isso, os dois são ícones do Vale do Silício e da nova economia, tendo criado o ideal da empresa do século XXI, com benefícios e jornadas de trabalho flexíveis. Desde a noite da terça, os bilionários de 46 anos serão apenas “pais orgulhosos”, mantendo-se no conselho de administração, enquanto caberá a Pichai fazer a empresa andar com suas próprias pernas.

Além do desafio pessoal, a ascensão de Pichai traz duas características interessantes ao mundo da tecnologia. Primeiro, porque ele não é o primeiro indiano a assumir o posto de líder maior em uma gigante do setor – desde 2014 no comando da Microsoft, o compatriota Satya Nadella conseguiu fazer a empresa ter uma bem-sucedida transição para o mundo da computação em nuvem.

Segundo, porque consolida uma geração de executivos à frente das grandes empresas de tech – é a primeira vez que, no quinteto formado ainda por Amazon, Apple e Facebook (as cinco maiores companhias do mundo), há mais “funcionários” do que fundadores na liderança. É uma diferença financeira, também: enquanto Page e Brin acumulam juntos fortuna de US$ 110 bilhões, Pichai tem cerca de US$ 600 milhões. 

Origem

Nascido Pichai Sundararajan, o executivo teve uma infância humilde em Madurai, leste da Índia. Filho de uma estenógrafa e um engenheiro, ele cresceu em um apartamento alugado e não tinha geladeira nem TV quando era criança. “Minha vida era simples, se comparada ao mundo de hoje”, disse ele em entrevista ao New York Times em 2008. Chegou até a ver sua casa inundada. “Faltou água. Até hoje, durmo com uma garrafa do lado da cama por conta disso”, contou ao NYT. Seu sonho era ser jogador de críquete – além do esporte tipicamente indiano, Pichai também é fã de futebol. Como a carreira esportiva não deu certo, ele se formou em Engenharia Metalúrgica na Índia. 

Após a graduação, ele raspou as economias da família para seguir sua educação nos Estados Unidos. Ao ser aprovado no mestrado de ciências materiais da Universidade Stanford, também inverteu a ordem de seu nome. Na faculdade da Califórnia, foi contemporâneo de Brin e Page, mas só passou a trabalhar com eles em 2004, depois de passar pela consultoria McKinsey. 

Ao longo de sua primeira década no Google, Pichai trabalhou em diversos produtos que hoje são a espinha dorsal da empresa, como o navegador de internet Google Chrome, a suíte de produtividade Google Drive e o serviço de e-mail Gmail. Também teve de substituir lendas da tecnologia: em 2013, passou a liderar a área de desenvolvimento do sistema operacional Android, ocupando o posto de Andy Rubin, engenheiro considerado o pai da plataforma. 

19 fatos sobre o Google

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1996

Foto: Reuters

Os criadores do Google, Larry Page e Sergey Brin se conheceram na faculdade enquanto cursavam PhD e, em pouco tempo, mudariam a maneira com que os internautas navegam na internet para sempre. Um dos principais dilemas da época era como se aventurar por uma infinidade de páginas sem se perder no meio do oceano digital. Já existiam softwares capazes de encontrar textos específicos na rede, mas eles eram muito primitivos. O programa criado por Larry Page e Sergey Brin para pesquisar páginas da internet começou a funcionar em março de 1996 e foi usado para um trabalho na Universidade de Stanford. Em vez de privilegiar a quantidade de vezes que as palavras procuradas eram citadas nos textos, eles propuseram um método baseado na quantidade de links e referências de outras páginas relevantes para criar um ranking. Esse foi o princípio que diferenciou a busca do Google de outros serviços semelhantes anos depois.

1998

Foto: Reddit

O domínio google.com foi criado em setembro de 1997, pois até então o buscador funcionava atrelado ao site da Universidade de Stanford. A empresa, no entanto, foi fundada formalmente apenas no ano seguinte, em 4 de setembro de 1998. Ao final desse ano, já tinha 60 milhões de páginas em seu acervo. 

1999

Foto: Reprodução/YouTube

A primeira patente do Google foi registrada em agosto de 1999, e tratava de um mecanismo de proteção de dados para arquivos de áudio, vídeo, texto ou imagens. 

2000

Foto: Pixabay

O Google começou a vender anúncios baseados em palavras chave, depois que seu buscador ganhou popularidade entre os usuários de internet da época.

2001

Foto: Divulgação

A primeira aquisição do Google foi da Deja News, um sistema de busca que encontrava mensagens específicas na plataforma de discussões Usenet. Esse mecanismo era inovador na época por permitir acesso público e fácil, com uma interface simples para os usuários, a debates em fóruns online.

2003

Foto: Reuters

A empresa, que já havia se mudado para Palo Alto em 1999, passou a habitar sua sede definitiva em 2003: um complexo de edifícios em Mountain View, no Vale do Silício, próximo a São Francisco. O sonho da casa própria só se realizou, contudo, em 2006, com a compra do imóvel, que era propriedade da Silicon Graphics, por módicos US$ 319 milhões. 

2004

Foto: Reprodução

Um engenheiro turco, funcionário do Google, chamado Orkut Büyükkökten, projetou uma plataforma de relacionamento entre usuários com seu próprio nome e revolucionou a maneira de muitas pessoas interagirem na internet. A rede social -- o Orkut -- foi um sucesso no Brasil e na Índia, e permaneceu ativa por uma década. No entanto, pouco popular nos EUA e na Europa, ela acabou perdendo força e foi superada pelo Facebook.

2004

Foto: Pixabay

Um dos eventos mais aguardados da história do setor de tecnologia foi a abertura de capital da Google, que aconteceu poucos anos após o estouro da bolha da internet. O faturamento anual da empresa na época era de US$ 1,5 bilhão.

2004

Foto: Reuters

No mesmo ano, a Google começou a se lançar em projetos diferentes e passou a oferecer serviços muito além da tradicional busca. Em 2004, lançou um serviço de webmail, o Gmail, que passaria a ganhar ainda mais importância anos mais tarde, com a unificação das contas dos usuários de diversos produtos da empresa.

2005

Foto: Pixabay

Apesar de o Android ser conhecido hoje como o mais popular sistema operacional de smartphones no mundo, essa história começou em 2005, quando o Google incorporou uma empresa com esse mesmo nome. O produto final foi lançado ao público apenas em 2008, no HTC Dream, o primeiro celular a rodar o sistema. 

2006

Foto: Pixabay

O serviço de compartilhamento de vídeos YouTube foi comprado pelo Google apenas um ano e meio do registro de seu domínio em uma transação de US$ 1,65 bilhão. Na época, 65 mil vídeos eram hospedados no site diariamente. 

2008

Foto: Pixabay

Para competir com o Internet Explorer, então principal navegador do mundo, a empresa lançou o Chrome, que implementava diversos recursos exclusivos graças aos mecanismos de pesquisa do Google.

2010

Foto: Divulgação

O lançamento do primeiro smartphone do Google foi um acontecimento de grandes proporções para o setor. O Nexus One foi, na verdade, produzido pela HTC, e inaugurou uma linha tradicional que sempre teve como característica a alternância de fabricantes e a demonstração de novidades do Android, o sistema operacional para dispositivos móveis da empresa. 

2011

Foto: Pixabay

Uma das mais bem-sucedidas fabricantes de smartphones, a Motorola foi comprada pela Google em 2011, e ficou menos de três anos sob os cuidados da gigante de Mountain View, tendo sido vendida em 2014 para a Lenovo. 

2012

Foto: Reuters

Após alguns anos de lobby, o estado de Nevada, nos Estados Unidos, aprovou uma lei permitindo o uso de carros autônomos para testes, e a Google colocou no asfalto o seu projeto de carro sem motorista. O plano do Google é desenvolver a tecnologia de veículos autônomos e lançá-la comercialmente até 2020. 

2013

Todo mundo pensou que o futuro havia chegado quando o Google Glass foi anunciado. Os óculos hi-tech da empresa prometeram muitas possibilidades, mas as expectativas não sobreviveram ao lançamento. Problemas com privacidade, preço alto e qualidade que deixou a desejar marcaram um dos principais fiascos da empresa. 

2015

Foto: Reuters

Sundar Pichai torna-se o novo presidente-executivo do Google na maior reorganização da história da empresa. Ela passou a atuar sob o guarda-chuva da Alphabet, uma holding criada por Larry Page que controla não apenas o Google como seus serviços e empresas relacionadas – caso da Google Ventures, braço de investimento da empresa, e do Laboratório X, responsável por projetos de inovação como o carro sem motorista. 

2016

Foto: Reuters

A principal novidade da empresa em 2016 foi a mudança de sua linha de smartphones do Nexus para o Pixel e o Daydream, sua plataforma de realidade virtual, que será lançada em 10 de novembro. 

2019

Foto: Stuart Ramson/Associated Press

Sergey Brin e Larry Page deixam comando da Alphabet, dona do Google – os dois seguem no conselho de administração. Quem assume é Sundar Pichai

Em dois anos, o indiano fez o sistema, lançado em 2008, saltar de 1 bilhão para 1,8 bilhão de dispositivos em todo o mundo. Os bons resultados o credenciaram a assumir o comando do Google, em 2015, quando Brin e Page decidiram criar a estrutura corporativa da Alphabet – com ela, os dois poderiam se dedicar a pensar (e gastar em) tecnologias do futuro como carros autônomos, sem afetar os lucros e dividendos da corporação perante os investidores. 

Mais do que uma alteração de governança, a novidade fez Pichai assumir o lugar sob os holofotes: é ele hoje, quem comanda os principais eventos do Google e responde pela empresa em depoimentos em Washington, onde Page e Brin não pisam há anos. “Efetivamente, Pichai é o porta-voz da empresa já há algum tempo”, disse Alan Davidson, ex-funcionário do Google que abriu o primeiro escritório da empresa na capital americana, ao jornal Washington Post. 

Fase difícil

E é justamente em Washington que estará o primeiro grande desafio de Pichai como líder único da companhia: nos últimos anos, o Google tem sido bastante atacado por reguladores e legisladores por conta de temas como seu poder no mercado, concorrência desleal, uso de dados e até mesmo influência política da empresa em diversos países e pleitos. 

Neste momento, o Congresso americano e o Departamento de Justiça investigam práticas antitruste da empresa em diversos mercados, enquanto Donald Trump tem se revelado um crítico ferrenho da companhia. Candidatos à presidência democratas como Elizabeth Warren e Bernie Sanders também já colocaram a companhia na mira. Na União Europeia, a situação do Google não é melhor: o bloco já processou a empresa três vezes por concorrência desleal, com multas que somam mais de US$ 8 bilhões. 

Países emergentes também são outro desafio da empresa. É em lugares como Brasil, Índia, Nigéria e Singapura, por exemplo, que o Google aposta que pode continuar crescendo seu número total de usuários, ao mesmo tempo em que também deve enfrentar o escrutínio local. Por sua nacionalidade, Pichai pode conseguir navegar melhor esses mares do que seus antigos chefes. O indiano terá ainda de descobrir como fazer a companhia seguir faturando com publicidade direcionada, em um momento em que temas como privacidade de dados são cada vez mais polêmicos, e como colocar de pé negócios como a empresa de carros autônomos Waymo. 

Como se não fosse suficiente, ele terá de lidar com a pressão interna dos funcionários: nos últimos meses, intensificaram-se os protestos dos “Googlers”, os empregados da empresa. Os motivos são vários: do envolvimento da empresa com o governo chinês em um projeto secreto às condições de trabalho de terceirizados, passando pela política interna para lidar com questões de assédio moral e sexual. Um exemplo é o fato de que o Google é frequente alvo de críticas por ter deixado que Andy Rubin, o antecessor de Pichai no Android, tenha saído da empresa com milhões no bolso mesmo após ser acusado de forçar uma colega a ter relações com ele. Cenas dos próximos capítulos, em breve. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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