?Queremos ser protagonistas na Olimpíada do Rio?; diz gerente-geral do Airbnb

Com 80 mil leitos disponíveis por noite no Rio de Janeiro, startup de hospedagem alternativa vê Jogos como vitrine

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Por Bruno Capelas
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“O importante não é ganhar, mas hospedar” parece ser a palavra de ordem do Airbnb no Brasil em 2016. Parceiro oficial dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o serviço que permite alugar temporariamente uma casa, quarto ou cama em qualquer lugar do mundo espera ajudar a cidade a receber até 80 mil pessoas por noite durante o evento, em agosto desse ano.

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Até agora, segundo a empresa, mais de 7,5 mil reservas já foram feitas para a Olimpíada – em bairros que vão dos tradicionais Ipanema e Leblon até regiões pouco afeitas a receber turistas. “Queremos ajudar o Brasil a crescer, gerando riquezas para locais fora do eixo turístico”, diz Leonardo Tristão, diretor-geral do Airbnb no País.

Para o executivo, que já chefiou as operações de Google e Facebook por aqui, os Jogos Olímpicos são uma oportunidade para a empresa se tornar mais conhecida pelos brasileiros – hoje, apenas 53% das reservas feitas para locações no País são de “habitantes locais”.

Na entrevista a seguir, Tristão fala sobre os planos da empresa para 2016 e comenta as comparações com o Uber, serviço de carona paga que também aposta na economia colaborativa. O executivo fala também sobre a regulamentação do serviço no Brasil, que pode se tornar realidade nos próximos meses.

Estado: Como o Airbnb está se preparando para atender a demanda durante os Jogos Olímpicos?Leonardo Tristão: Queremos ser protagonistas da Olimpíada, até porque firmamos uma parceria com o Comitê da Rio-2016. Mais do que receber estrangeiros, no entanto, nossa meta é criar alternativas de hospedagem para os brasileiros: não queremos que eles deixem de participar dos jogos por ter pouco dinheiro para hospedagem. Além do Rio de Janeiro, reconhecemos que cidades próximas, como Angra dos Reis e Búzios, também devem ter demanda por acomodações. Outras cidades, como São Paulo e Brasília, estão na nossa mira, já que vão receber partidas. Já temos mais de 7,5 mil reservas para a Olimpíada, e muitas delas estão em bairros não turísticos do Rio de Janeiro.

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Como foi o desempenho do Airbnb na Copa do Mundo? Qual foi a importância do evento para a expansão do serviço no País? A Copa do Mundo foi muito importante para nós: em cidades como Cuiabá, o Airbnb foi essencial para acomodar os turistas e os jornalistas que viajaram para assistir os jogos. No Rio de Janeiro, nós adicionamos muitos leitos no período. Segundo o Ministério do Turismo, 20% dos estrangeiros que visitaram o Brasil na Copa usaram o Airbnb, gerando mais de US$ 40 milhões. Com isso, o Rio de Janeiro se tornou nosso maior mercado, com 20 mil anúncios e cerca de 80 mil leitos por noite. No Brasil como um todo, temos mais de 50 mil anúncios de acomodações atualmente.

Sem contar com os leitos oferecidos no Airbnb, o Rio de Janeiro poderia passar por uma crise hoteleira durante a Olimpíada? Acredito que o motivo pelo qual o comitê criou a categoria de hospedagem alternativa e fez uma parceria conosco foi para aumentar a capacidade de leitos no Rio. Um ano antes da realização dos jogos, 80% dos leitos de hotéis já estavam comprometidos.

De que maneira a crise econômica pode afetar o desempenho do Airbnb nos próximos meses? A crise é uma oportunidade para nós, tanto pelo lado da demanda como pelo lado da oferta de acomodações. Quem está recebendo pessoas em sua casa vê no Airbnb uma chance de ter uma renda extra. As pessoas que querem viajar, por outro lado, conseguem achar uma hospedagem que cabe no orçamento. Nos últimos meses, mais de 5 mil anúncios foram criados na plataforma a cada mês. Nesse momento, em que o serviço ainda é relativamente pouco conhecido no País, temos um grande espaço para explorar. Queremos ajudar o Brasil a crescer, gerando riquezas para bairros e cidades fora do eixo turístico. No Rio, quando uma pessoa se hospeda em Marechal Hermes, certamente vai movimentar a economia local tomando café da manhã na padaria ou uma cerveja no bar. Essa riqueza descentralizada é uma oportunidade.

Há uma proposta para regulamentar o Airbnb em discussão no Ministério do Turismo. Como você vê isso? Trabalhamos com cada autoridade local para ter a maior transparência possível. É preciso muito diálogo para que as pessoas entendam o nosso modelo de negócios e que não queremos competir com os hotéis. Nossa visão é de que a regulamentação do passado não pode ser aplicada a um modelo de negócios novo. O consumidor precisa ter uma regulamentação que permita a livre escolha e a inovação. No Brasil, há alguns elementos que nos favorecem: a ideia do aluguel por temporada é muito disseminada e está amparada pela lei do inquilinato. O próprio Ministério do Turismo declarou que o Airbnb não deve ser enquadrado na Lei Geral do Turismo e achamos que há espaço para uma regulamentação específica. Infelizmente, ainda não há propostas concretas na mesa.

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O Airbnb quer evitar ser taxado como o “novo Uber”? Há uma tendência em colocar as empresas da economia do compartilhamento dentro do mesmo saco e generalizar a discussão. Minha visão é que Airbnb e Uber adotam modelos de negócio diferentes em indústrias totalmente distintas. Acho difícil comentar o caso deles. Nossa atitude, como empresa, é proativa ao diálogo. Cada empresa deve buscar uma solução que funcione para seu mercado.

Airbnb e Uber são empresas bilionárias que apostaram na ideia do compartilhamento. Por que essa “nova economia” está dando certo? Há estudos que dizem que os jovens de hoje se interessam mais pela experiência do que pela posse. O Airbnb se baseia nisso: é a experiência que importa mais, a dica de um programa legal que o anfitrião dá ou a conversa no trajeto para o aeroporto. No Brasil, porém, a média de idade dos anfitriões é de 41 anos, e a dos viajantes, de 35 anos. Além da experiência, na minha opinião, o poder de comunidade é o elemento mais importante do Airbnb. O anfitrião tem interesse em prestar um bom serviço, porque depois será avaliado e sua nota permitirá que ele continue a oferecer esse serviço.

Há muitos brasileiros comprando casas ou apartamentos para oferecer por meio do Airbnb, isto é, transformando o site em um negócio? No Brasil, há poucas pessoas fazendo isso. Trabalhamos junto com as autoridades locais para entender qual é o impacto nas cidades por causa desse tipo de movimentação. Não julgamos uma pessoa que oferece um imóvel que foi comprado para colocar no Airbnb ou se só fez o anúncio porque estava com sua casa disponível no período. O importante para nós é que a pessoa preste um bom serviço como anfitrião.

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Por que você deixou o cargo de diretor-geral no Facebook e foi para o Airbnb? Foi uma decisão simples. Gosto de ajudar empresas que têm propósitos e que buscam mudar o comportamento das pessoas a se tornarem relevantes no Brasil. Fiz isso no Google em 2005, quando pouca gente entendia o potencial dos links patrocinados no País. E ajudei a fazer isso no Facebook, quando os brasileiros só falavam do Orkut. Esses fatores fizeram com que eu me apaixonasse pelo Airbnb, que tenta resgatar a experiência pessoal que os nossos avós tinham quando viajavam. O brasileiro é um povo hospitaleiro por natureza e muito engajado com tecnologia. Vejo oportunidades enormes para o Airbnb por aqui.

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