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Remota e inclusiva, startup americana quer mostrar como será ‘trabalho do futuro’

Há sete anos, a Ultranauts desenvolve maneiras criativas de contratar, gerir e motivar uma mão de obra diversificada e distante – algo que muitas empresas precisam fazer hoje

Por Steve Lohr
Atualização:
Jamie e a Ultranauts também trabalham remotamente seguindo um modelo que as diferencia da maioria das empresas Foto: Amanda Lucier/The New York Times

Da sua casa em Beaverton, Oregon, Jamie Davila dirige uma equipe de oito engenheiros em sete Estados americanos diferentes para a startup de tecnologia Ultranauts. Como milhões de outras pessoas durante estes tempos de trabalho em casa, ela depende de ferramentas de comunicação muito conhecidas como Zoom e Slack. Mas Jamie e a Ultranauts também trabalham remotamente seguindo um modelo que as diferencia da maioria das empresas. Eles adotaram um conjunto distinto de políticas e práticas para promover a diversidade e a inclusão entre os funcionários.

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Todas as reuniões em vídeo têm legendas ocultas, para os funcionários que preferem absorver as informações que estão na forma de texto. As agendas das reuniões são distribuídas de antemão, de modo que as pessoas que não se sentem à vontade para falar podem contribuir com um texto anteriormente escrito. Os funcionários precisam dar diariamente o seu feedback, por exemplo, se acreditam que os seus pontos fortes são valorizados e se sentem solidão no trabalho. “A ideia é criar um espaço seguro que permita que todos sejam ouvidos”, disse Jamie, de 36 anos.

A Ultranauts trabalha há anos nos desafios enfrentados por inúmeras companhias durante a pandemia, e provavelmente além: como trabalhar de maneira eficiente remotamente, e fazer progressos no que se refere aos objetivos de diversidade e inclusão, além de construir uma forte cultura organizacional.

A companhia, fundada em 2013 por dois antigos colegas de sala do Massachusetts Institute of Technology (MIT), usa força de trabalho remota desde o primeiro dia. A firma foi fundada também para usar o talento de pessoas autistas, antes não utilizado, que frequentemente pensam e processam as informações de maneira diferente do restante da população. Hoje, 75% dos funcionários da Ultranauts se encontram no espectro do autismo.

A pequena startup oferece aulas para as empresas do país sobre contratação, gestão e motivação de funcionários que trabalham de forma remota, cujo desempenho e carreiras podem sofrer sem as conversas diretas e de corredor típicas da vida do escritório.

“A criação proposital da Ultranauts de um local de trabalho que dê suporte de verdade às pessoas é algo extraordinário”, observou Susanne Bruyere, diretora acadêmica do Instituto Yang-Tan de Emprego e Necessidades Especiais da Cornell University. “As suas técnicas e instrumentos poderiam perfeitamente ser aplicadas de maneira mais ampla”.

Entre os clientes da startup estão grandes corporações como AIG, BNY Mellon e Cigna. Ela começou atuando no mercado fazendo testes de usabilidade dos sites e aplicativos, mas hoje está voltada particularmente para trabalhos mais avançados, como engenharia da qualidade de dados, testes de software automatizado e análise de dados.

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Durante a pandemia, empresa viu altos e baixos

Quando a pandemia se instalou no país, a Ultranauts, sediada em Nova York, perdeu negócios porque grandes clientes fizeram cortes para conter os gastos. Mas ela rapidamente pegou novos trabalhos de empresas que estão acelerando projetos digitais, apesar da crise. Ela agora tem 90 funcionários, em comparação com 60 no ano passado. E o seu objetivo é chegar a 200 em dois anos.

A Ultranauts tem o respaldo de investidores de impacto social – que buscam retornos financeiros, mas não lucros inesperados – como o The Disability Opportunity Fund, Sustain VC, Wasabi Ventures e Moai Capital. Eles investiram US$ 5,7 milhões até o momento.

A companhia enfatiza que a sua força de trabalho é uma vantagem competitiva.O benefício, afirma, não está tanto no fato de que cérebros autistas estão aptos para tarefas na área de computação, mas que as pessoas no espectro autista são um grupo diferenciado.

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Uma pessoa pode reconhecer padrões rapidamente, enquanto outra tem um estilo cognitivo mais controlado, mas chega a diferentes padrões e maneiras de fixar um código. O segredo está em controlar os vários talentos das equipes.

As reuniões são gravadas, transcritas e arquivadas não só para os funcionários que preferem ler a ouvir, mas também para promover uma organização mais aberta. Isto se estende às reuniões semanais da equipe de liderança da Ultranauts, composta por seis pessoas. As notas destas sessões, como as decisões tomadas e as razões que as determinaram, são publicadas em um canal do serviço de comunicação corporativa Slack para toda a companhia.

“É uma transparência muito maior do que aquela em que a maioria das pessoas que trabalha em uma empresa se sente confortável”, afirmou Art Shectman, um dos fundadores e presidente da companhia.

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Os diretores da Ultranauts acreditam que o seu estilo de comunicação explícita aberta – e não de normas que não estão escritas – pode beneficiar qualquer empresa. A Ultranauts está distribuindo um valioso produto de software que ela mesma produziu, o Biodex, como parte de um teste para verificar até que ponto as suas ferramentas e práticas podem se encaixar na prática corrente das empresas.

Cada empregado da Ultranauts tem um perfil Biodex que informa as preferências da função, comunicação e feedback de uma pessoa. Qual é o tempo de nossa resposta típica às mensagens: alguns minutos, algumas horas, no mesmo dia? Se um colega faz críticas construtivas, como você quer receber o feedback: oralmente ou por escrito?

Todas as manhãs, a Biodex envia uma mensagem gravada com duas perguntas:Quão “interativo” – pronto para se comunicar com os outros – você se sente hoje? Qual é o seu nível de energia hoje? Os funcionários devem responder em uma escala de 1 a 10.

Rajesh Anandan, um dos fundadores e presidente executivo da Ultranauts, descreve o Biodex como “um guia de ação rápida para o trabalho com uma pessoa”. A Ultranauts permite que equipes de cerca de dez organizações das grandes às startups, experimentem uma versão de teste da Biodex. Se os testes com pessoas de fora correrem bem, a Ultranauts planeja tornar a Biodex um programa de download gratuito na loja de aplicativos Slack até o fim do ano. Outros aplicativos da Ultranauts, como o seu programa para sondar o sentimento e o bem-estar do trabalhador, viriam a seguir.

“Construímos um motor que abre oportunidades para pessoas que não tiveram uma chance antes”, afirmou Anandan. “Mas se fizermos isto somente para nós mesmos, ele não produzirá um grande impacto”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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