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Rival do Uber, Lyft sofre com ‘bom-mocismo’

Apesar de respeitar regulações e ter diálogo com motoristas e prefeituras, o Lyft tem fracassado em vencer o adversário agressivo nos EUA

Por Agências
Atualização:

NYT

 

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Heather SomervilleDan LevineREUTERS

No fim de 2014, os aplicativos de transporte Uber e Lyft escolheram Portland, nos Estados Unidos, como o próximo lugar para lançar seus serviços. Agressivo, o Uber entrou com toda força na cidade, dizendo ao prefeito local que operaria mesmo sem permissão. Já o Lyft se ateve às regras, discutiu pacientemente a política imposta e esperou a cidade aprovar as normas necessárias. Apesar disso, a estratégia cordial do Lyft não deu resultado.

“Tentamos encontrar uma maneira de recompensar o Lyft por não violar nossas normas legais”, disse Josh Alpert, chefe de gabinete do prefeito Charlie Hales, falando sobre o contato com as duas empresas. “Infelizmente, no final, isso não fez muita diferença”. A cidade aprovou em abril de 2015 uma lei regulamentando aplicativos de transporte particular. Hoje, o Uber lidera o mercado em Portland – bem como em todos os EUA.

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É uma diferença clara de estilos: o Lyft coloca-se como uma alternativa mais simpática ao Uber nas relações com motoristas e clientes, e também com os órgãos reguladores. Já a agressividade do Uber, apesar de deixar as autoridades irritadas, tem permitido à companhia se expandir mais rápido, tornando-se um serviço mais conhecido e com maior fatia de mercado. Depois de quatro anos de concorrência, o Lyft se posiciona num distante segundo lugar, apesar de a empresa afirmar que mais recentemente aumentou seu espaço operacional.

Não é só no número de passageiros que o Lyft fica atrás, mas também nos investimentos. O Uber já recebeu US$ 10 bilhões em financiamentos, cinco vezes mais que o obtido pelo Lyft, segundo dados das duas empresas. O porta-voz do Uber, Matt Kalmman, reconheceu que a Lyft ampliou sua fatia de mercado, mas disse que o avanço é resultado de grandes despesas em incentivos para motoristas e passageiros que não podem ser sustentadas por uma companhia não lucrativa. Presidente-executivo do serviço, Travis Kalanick já disse que o Uber contabiliza lucros nos EUA, mas perde US$ 1 bilhão por ano no mercado chinês.

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Ambas empresas são de capital fechado e não estão obrigadas a publicar sua contabilidade financeira. Segundo a Lyft, em outubro a companhia estava a caminho de registrar uma receita bruta anual de US$ 1 bilhão, baseada nas corridas feitas naquele mês. Diante do aumento das corridas desde então, a receita bruta será ainda maior em 2016. O Uber, por outro lado, em uma apresentação para investidores no ano passado, projetou uma receita bruta que chegaria a US$ 10,84 bilhões globalmente em 2015 e US$ 26,12 bilhões este ano.

Avanços. À medida que mais pessoas abandonam os táxis comuns e seus carros pessoais, preferindo o serviço de chamada por aplicativo, Uber e Lyft se beneficiam.

O crescimento da Lyft desde o ano passado silenciou os críticos que insistiam que o mercado só tinha espaço para um serviço. Segundo o cofundador e presidente da Lyft, John Zimmer, a companhia hoje possui 315.000 motoristas, mais do que o triplo dos 100.000 que possuía em agosto de 2015, segundo informou. O Lyft também triplicou as corridas no ano passado em comparação com 2014, disse Zimmer.

Em Nova York, por exemplo, as corridas do Lyft aumentaram mais de seis vezes entre abril de 2015 e janeiro de 2016 – de 11,6 mil para 76,2 mil. O ritmo de crescimento foi maior que o do Uber, saltando de 3,3% para 7,7% das corridas de aplicativos particulares. No entanto, o Lyft ainda come poeira: o Uber tem 506 mil viagens semanais, controlando 53% do mercado.

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Hoje, o Lyft opera em mais de 200 cidades americanas, empatando com o Uber nos Estados Unidos. A diferença é que o Lyft ainda tem pouca presença internacional – o serviço, por exemplo, ainda não tem data para chegar ao Brasil. “Nosso crescimento nos EUA tem sido mais rápido. Acho que a vantagem é que estamos tratando melhor nossos motoristas e com isso eles tratam melhor os seus passageiros”, disse Zimmer.

Além disso, a Lyft mantém uma relação cordial com as autoridades. Em Broward County, na Flórida, o administrador Chip LaMarca perdeu a paciência com o Uber depois de o serviço voltar atrás no último minuto num acordo envolvendo uma nova regulamentação. “Eles não queriam ouvir e se comprometer. O Lyft é diferente”, disse ele.

Resultado. A imagem de serviço cordial com o cliente do Lyft difere da intensa pressão para competir com o Uber nos preços das corridas. Na prática, Lyft com frequência usa muitas das mesmas táticas do rival, como lutar para manter os motoristas autônomos sem benefícios. No entanto, o Lyft tenta reduzir o impacto disso adotando medidas para se expandir e oferecendo benefícios para os motoristas. Permite gorjetas por meio do aplicativo, ao contrário do Uber, e oferece um bônus para os taxistas mais produtivos em número de corridas, que ficam com a comissão de 20% arrecadada pelo serviço.

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Os motoristas apreciam o esforço do Lyft, mas preferem o Uber quando pesa no bolso. O motorista Da Xi, de San Francisco, trabalhava com os dois aplicativos, mas deixou o Lyft há duas semanas, em parte por que não conseguiu se qualificar para o programa de bônus. “O Lyft está crescendo. Mas não estou ganhando nada”, disse ele. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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