Sergey Brin e Larry Page, fundadores do Google
Responsáveis por criar o motor de buscas que deu origem ao Google, o russo Sergey Brin e o americano Larry Page, ambos com 46 anos, estão deixando o comando da Alphabet, holding que controla a gigante de tecnologia americana. Amigos desde a década de 1990, quando se conheceram na Universidade Stanford, os dois fundaram a empresa em uma garagem de Palo Alto em 1998. Agora, saem do dia a dia da companhia e serão substituídos por Sundar Pichai, que hoje comanda o Google. Segundo comunicado oficial, ambos seguirão no conselho de administração.
“Tem sido um privilégio estarmos no gerenciamento cotidiano da empresa por tanto tempo. Agora, é hora de assumir o papel de pais orgulhosos, oferecendo amor e conselhos, mas não atrapalhando diariamente”, escreveram Brin e Page no comunicado, divulgado após o fechamento das bolsas de valores.
O mercado reagiu com tranquilidade ao anúncio: depois do fim do pregão, as ações da Alphabet eram negociadas com ligeira alta de 0,63%, em US$ 1.303,50. Antes do anúncio, a empresa encerrou o dia na bolsa Nasdaq cotada a US$ 892 bilhões – é a terceira maior companhia do mundo, atrás de Apple (US$ 1,17 tri) e Microsoft (US$ 1,13 tri).
Hoje, a companhia tem uma estrutura bem mais complexa que em seu início. Parte disso se deve aos planos ambiciosos dos fundadores. Em 2015, eles criaram a Alphabet para tocar projetos como a empresa de carros autônomos Waymo ou a firma de ciências da vida Verily sem afetar os lucros do Google perante os investidores.
Nos últimos anos, Page esteve focado em desenvolver estes novos negócios, conhecidos como Outras Apostas (Other Bets, em tradução literal), enquanto o dia a dia do Google era supervisionado pelo indiano Pichai, ex-executivo do sistema operacional Android. “Com a Alphabet agora bem estabelecida e as duas áreas funcionando como companhias independentes, é hora de simplificar nossa estrutura. Mas vamos continuar conversando com Sundar regularmente”, escreveram os fundadores no comunicado.
Hoje, Page e Brin ocupam o 10º e o 11º lugares entre as pessoas mais ricas do mundo, respectivamente, de acordo com a revista Forbes – sua fortuna conjunta é de US$ 110 bilhões. Além disso, eles mantém mais de 50% das ações ordinárias da empresa. Segundo uma porta-voz do Google, os dois não têm planos de vender ações da empresa.
Antes conhecidos por fazer grandes aparições públicas, como a do anúncio do Google Glass – em que Brin surgiu dos céus utilizando um par dos óculos de realidade aumentada –, os dois fundadores têm ficado cada vez mais reclusos nos últimos anos, cedendo os holofotes a Pichai, que lidera as principais conferências.
Além de simplificar a governança corporativa da empresa, a saída de Brin e Page do cotidiano da Alphabet pode ter razões políticas. Nos últimos tempos, o Google entrou na mira de reguladores e legisladores no mundo todo, por conta de seu poder de mercado. Page, no entanto, têm participado pouco das discussões, colocando Pichai na linha de frente, o que também fez o fundador ser bastante criticado. Não é difícil imaginar que a promoção do indiano pode mitigar esse problema.
“O próximo capítulo da empresa será bastante sobre política, privacidade de dados e regulamentação”, disse o analista da Loup Ventures Gene Munster em entrevista à Bloomberg. “Não é uma surpresa pensar que os fundadores não queiram ter de se dedicar ao que pode se aproximar para o Google nos próximos anos. Eles confiam em Pichai para fazer esse trabalho difícil, senão não o indicariam.” / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Os criadores do Google, Larry Page e Sergey Brin se conheceram na faculdade enquanto cursavam PhD e, em pouco tempo, mudariam a maneira com que os internautas navegam na internet para sempre. Um dos principais dilemas da época era como se aventurar por uma infinidade de páginas sem se perder no meio do oceano digital. Já existiam softwares capazes de encontrar textos específicos na rede, mas eles eram muito primitivos. O programa criado por Larry Page e Sergey Brin para pesquisar páginas da internet começou a funcionar em março de 1996 e foi usado para um trabalho na Universidade de Stanford. Em vez de privilegiar a quantidade de vezes que as palavras procuradas eram citadas nos textos, eles propuseram um método baseado na quantidade de links e referências de outras páginas relevantes para criar um ranking. Esse foi o princípio que diferenciou a busca do Google de outros serviços semelhantes anos depois.
O domínio google.com foi criado em setembro de 1997, pois até então o buscador funcionava atrelado ao site da Universidade de Stanford. A empresa, no entanto, foi fundada formalmente apenas no ano seguinte, em 4 de setembro de 1998. Ao final desse ano, já tinha 60 milhões de páginas em seu acervo.
A primeira patente do Google foi registrada em agosto de 1999, e tratava de um mecanismo de proteção de dados para arquivos de áudio, vídeo, texto ou imagens.
O Google começou a vender anúncios baseados em palavras chave, depois que seu buscador ganhou popularidade entre os usuários de internet da época.
A primeira aquisição do Google foi da Deja News, um sistema de busca que encontrava mensagens específicas na plataforma de discussões Usenet. Esse mecanismo era inovador na época por permitir acesso público e fácil, com uma interface simples para os usuários, a debates em fóruns online.
A empresa, que já havia se mudado para Palo Alto em 1999, passou a habitar sua sede definitiva em 2003: um complexo de edifícios em Mountain View, no Vale do Silício, próximo a São Francisco. O sonho da casa própria só se realizou, contudo, em 2006, com a compra do imóvel, que era propriedade da Silicon Graphics, por módicos US$ 319 milhões.
Um engenheiro turco, funcionário do Google, chamado Orkut Büyükkökten, projetou uma plataforma de relacionamento entre usuários com seu próprio nome e revolucionou a maneira de muitas pessoas interagirem na internet. A rede social -- o Orkut -- foi um sucesso no Brasil e na Índia, e permaneceu ativa por uma década. No entanto, pouco popular nos EUA e na Europa, ela acabou perdendo força e foi superada pelo Facebook.
Um dos eventos mais aguardados da história do setor de tecnologia foi a abertura de capital da Google, que aconteceu poucos anos após o estouro da bolha da internet. O faturamento anual da empresa na época era de US$ 1,5 bilhão.
No mesmo ano, a Google começou a se lançar em projetos diferentes e passou a oferecer serviços muito além da tradicional busca. Em 2004, lançou um serviço de webmail, o Gmail, que passaria a ganhar ainda mais importância anos mais tarde, com a unificação das contas dos usuários de diversos produtos da empresa.
Apesar de o Android ser conhecido hoje como o mais popular sistema operacional de smartphones no mundo, essa história começou em 2005, quando o Google incorporou uma empresa com esse mesmo nome. O produto final foi lançado ao público apenas em 2008, no HTC Dream, o primeiro celular a rodar o sistema.
O serviço de compartilhamento de vídeos YouTube foi comprado pelo Google apenas um ano e meio do registro de seu domínio em uma transação de US$ 1,65 bilhão. Na época, 65 mil vídeos eram hospedados no site diariamente.
Para competir com o Internet Explorer, então principal navegador do mundo, a empresa lançou o Chrome, que implementava diversos recursos exclusivos graças aos mecanismos de pesquisa do Google.
O lançamento do primeiro smartphone do Google foi um acontecimento de grandes proporções para o setor. O Nexus One foi, na verdade, produzido pela HTC, e inaugurou uma linha tradicional que sempre teve como característica a alternância de fabricantes e a demonstração de novidades do Android, o sistema operacional para dispositivos móveis da empresa.
Uma das mais bem-sucedidas fabricantes de smartphones, a Motorola foi comprada pela Google em 2011, e ficou menos de três anos sob os cuidados da gigante de Mountain View, tendo sido vendida em 2014 para a Lenovo.
Após alguns anos de lobby, o estado de Nevada, nos Estados Unidos, aprovou uma lei permitindo o uso de carros autônomos para testes, e a Google colocou no asfalto o seu projeto de carro sem motorista. O plano do Google é desenvolver a tecnologia de veículos autônomos e lançá-la comercialmente até 2020.
Todo mundo pensou que o futuro havia chegado quando o Google Glass foi anunciado. Os óculos hi-tech da empresa prometeram muitas possibilidades, mas as expectativas não sobreviveram ao lançamento. Problemas com privacidade, preço alto e qualidade que deixou a desejar marcaram um dos principais fiascos da empresa.
Sundar Pichai torna-se o novo presidente-executivo do Google na maior reorganização da história da empresa. Ela passou a atuar sob o guarda-chuva da Alphabet, uma holding criada por Larry Page que controla não apenas o Google como seus serviços e empresas relacionadas – caso da Google Ventures, braço de investimento da empresa, e do Laboratório X, responsável por projetos de inovação como o carro sem motorista.
A principal novidade da empresa em 2016 foi a mudança de sua linha de smartphones do Nexus para o Pixel e o Daydream, sua plataforma de realidade virtual, que será lançada em 10 de novembro.
Sergey Brin e Larry Page deixam comando da Alphabet, dona do Google – os dois seguem no conselho de administração. Quem assume é Sundar Pichai