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Serviço de música da Apple estreia em mercado concorrido

Apple Music começa a funcionar amanhã no Brasil com acesso gratuito por três meses; mesmo ‘atrasada’, nova plataforma será beneficiada pela tradição musical e enorme base de clientes da empresa

Por Camilo Rocha
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Divulgação

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“Não pedimos iPhones de graça para vocês. Por favor, não nos peça para que disponibilizemos nossa música sem nenhuma compensação”, escreveu a cantora Taylor Swift em carta aberta à Apple há cerca de uma semana. Ela reclamava contra o fato da empresa ter dito que não iria pagar artistas durante os três primeiros meses de teste de sua nova plataforma Apple Music, que poderia ser acessada gratuitamente durante este tempo. Sendo Taylor Swift a principal força da música pop atual, a Apple prestou atenção e voltou atrás da sua decisão: os artistas seriam pagos, sim. Ato contínuo, Taylor, que ameaçava não colocar sua música no novo serviço, como já tinha feito com o Spotify, anunciou sua adesão à Apple Music.

A controvérsia e a publicidade que veio com ela serviu bem à Apple Music logo antes de sua estreia, que acontece amanhã em 100 países, incluindo o Brasil. A chegada da gigante é esperada com ansiedade no mercado de streaming musical pago, onde diversas empresas disputam um filão incipiente e que ainda opera em grande parte no vermelho. Em entrevista ao Estado em maio, Gustavo Diament, diretor para América Latina do Spotify, disse que “ainda está em aberto quem será a grande empresa do setor. Hoje, tem mais de 20, mas daqui a algum tempo, haverá bem menos”.

Sueca, a Spotify é hoje a líder mundial desse segmento, tendo recentemente anunciado a marca de 75 milhões de usuários ativos (sendo apenas 20 milhões de pagantes). Outras empresas do setor incluem Deezer e Rdio, ambas atuantes no Brasil. O segmento ainda é pequeno por aqui: pessoas do mercado ouvidas pelo Estado acreditam que o total de usuários no País não chegue a um milhão (milhões de ouvintes ainda preferem o gratuito YouTube).

Mas aqui e lá fora, a música por assinatura é a grande aposta da indústria para combater a pirataria digital, coisa que o download pago não conseguiu fazer. Em 2014, o crescimento global do streaming de música foi de 39%.

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Beats Music

O serviço da Apple é tocado por um veterano da indústria musical, o produtor Jimmy Iovine. Ao lado do também produtor e rapper Dr. Dre, Iovine é fundador da Beats Music, serviço de streaming comprado pela Apple por US$ 3,2 bilhões em maio do ano passado e que é a base da Apple Music. Esta ligação mais próxima com a música que a Apple Music apresenta pode ser uma vantagem competitiva, acreditam pessoas do meio ouvidas pelo Estado. “Outras empresas falam tanto em tecnologia que esquecem a parte artística”, aponta Carlos Taran, que trabalha com artistas como Dado Villa-Lobos e Titãs. “A Apple chega e diz ‘nosso nome é música’, você está tratando com uma empresa de música.”

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“O primeiro momento de recuperação da indústria foi graças à Apple com o iPod”, diz o executivo Marcelo Castello Branco, em referência ao aparelho lançado pela empresa de Steve Jobs em 2001 e que não foi só o primeiro tocador de MP3 de grande alcance como facilitou e organizou o consumo de música digital de forma legalizada em conjunto com a plataforma iTunes, focada no download.

Outro trunfo da Apple seria a base de dados global de quase 800 milhões de cartões de crédito que a empresa tem cadastrados. No Brasil, porém, isso pode não significar necessariamente uma vantagem. Para Marcos Passarini, sócio-diretor da Elemess, empresa especializada em gestão de carreiras e negócios artísticos, a Apple não pode seguir o modelo vigente no iTunes, que só aceita compra de músicas com cartão de crédito internacional. “Eles terão que tropicalizar, aceitar cartão de crédito nacional, (ter) modelos de assinatura mais acessíveis.” Ele cita como exemplo a parceria entre o serviço Rhapsody e a operadora Vivo como forma de alcançar um público maior. “A grande massa no Brasil usa celular pré-pago”.

Curadoria. Segundo pessoas familiarizadas com a plataforma ouvidas pelo Estado, a Apple praticamente não mudou a interface, os recursos e a lógica do app da Beats Music, trazendo apenas ajustes visuais.

A plataforma será dividida em três partes: “música”, onde o usuário poderá procurar canções, montar playlists e dividir suas escolhas, exatamente como acontece em plataformas concorrentes como Spotify e Rdio; “Rádio”, que conterá programas de rádio divididos por gênero como Dance, Sertanejo ou Indie, mais o canal especial Beats 1, com apresentadores como Zane Lowe, ex-estrela da Radio One, da BBC; e “Connect”, uma plataforma social em que artistas terão perfis e poderão interagir com fãs.

O serviço também apostará em playlists com curadoria de músicos, produtores e DJs internacionais conhecidos. Não se sabe como será a participação de curadores brasileiros neste primeiro momento, apenas que será pequena, de acordo com as fontes ouvidas pelo Estado.

Nos EUA, a Apple Music terá duas opções de planos: o individual, a US$ 9,99, e o familiar a US$ 14,99. Preços para o Brasil não foram divulgados. / COLABOROU MURILO RONCOLATO

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