Tesla vive inferno astral com acidentes e recall

Montadora que já teve o valor de mercado superior ao da GM vê hoje suas ações desabarem e perder um quarto de seu valor em três semanas

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Por Neal E. Boudettemarch
Atualização:
Elon Musk, presidente da Tesla Foto: Stephen Lam/ Reuters

Há apenas um ano, a Tesla parecia uma força crescente destinada a revolucionar a indústria automobilística. Seu sedã modelo S movido a bateria era moda entre os compradores de carros de luxo. Seu sistema de piloto automático parecia muito à frente de seus concorrentes na tecnologia. Seu fundador e presidente, Elon Musk, prometia que o modelo 3, mais acessível, sairia em breve de sua linha de montagem.

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Wall Street estava arrebatada. O valor de mercado da companhia chegou a superar o da General Motors e o da Ford, montadoras com um século de experiência.

Desde então, porém, muitas coisas mudaram e a empresa se vê em dificuldades crescentes.

O desenvolvimento do modelo 3 registrou falhas e atrasos – “inferno industrial”, como disse Musk. Os esforços da empresa com seu carro autônomo foram ofuscados, e a Tesla continuou a perder dinheiro trimestre após trimestre.

Na semana passada, os problemas da Tesla se intensificaram. A agência Moody’s rebaixou a classificação de crédito da empresa. O caso parece ser grave. Alguns analistas estão perguntando se a empresa pode ficar sem dinheiro até o fim do ano. “Eu disse há algum tempo que a Tesla está longe de ser uma aposta certa, ou uma empresa estável”, disse Clement Thibault, analista sênior da Investing.com.

Papéis. As ações da Tesla caíram 8% na terça-feira e mais 8% na quarta-feira, e apesar de terem se recuperado na quinta-feira, os papéis perderam quase um quarto do seu valor em menos de três semanas.

Um representante da Tesla se recusou a fazer comentários sobre as finanças da empresa.

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Mas os problemas vão além do balanço contábil. Investigadores federais apuram um acidente que matou um motorista da Tesla na semana passada na Califórnia, incluindo a possibilidade de que o piloto automático estivesse em uso.

E na quinta-feira a Tesla anunciou um recall de 123 mil carros modelo S fabricados antes de abril de 2016 para substituir parafusos que mantêm no lugar o motor de direção elétrica. Os parafusos podem ficar corroídos e quebrar, deixando os motoristas apenas com a direção manual. A empresa disse que não houve acidentes ou ferimentos relacionados ao problema.

A embicada da Tesla para baixo é uma sacudida tanto para a empresa quanto para o empresário Elon Musk, que construiu uma reputação não apenas como visionário, mas também como empreendedor, planejando uma marca de carros, inaugurando uma fábrica de baterias no que seria o maior prédio do mundo e lançando foguetes por meio de seu empreendimento Space X.

“Há uma grande parte da Tesla que é simplesmente apresentação e não substância, e Elon é um mestre de marketing”, disse Karl Brauer, analista sênior da Kelley Blue Book.

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