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Twitter decide encerrar anúncios políticos em rede social

Segundo presidente executivo Jack Dorsey, permitir propaganda política na rede pode trazer riscos e influenciar o voto de 'milhões de pessoas'

Por Bruno Capelas
Atualização:
Presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey Foto: Reuters

A partir do próximo dia 22 de novembro, o Twitter não vai mais permitir o impulsionamento de tuítes de caráter político em sua plataforma. Em termos práticos, isso significa que a rede social não vai mais aceitar anúncios de teor político – seja de candidatos, partidos ou grupos interessados em fazer lobby a favor ou contra uma determinada causa. 

A decisão foi anunciada pelo presidente executivo da rede, Jack Dorsey, em sua própria conta, na tarde desta quarta-feira, 30. "Acredito que o alcance de uma mensagem política deve ser conquistado e não comprado", declarou o executivo em um fio. 

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Segundo Dorsey, permitir o impulsionamento de determinados assuntos de teor político na rede social pode trazer um risco significativo à rede, influenciando o voto e afetando a vida de milhões de pessoas. "Os anúncios políticos apresentam desafios ao discurso cívico, com microdirecionamento de anúncios, envio de informações falsas e deep fakes, em uma escala rápida e veloz", declarou o executivo. 

Em suas declarações, Dorsey deu uma alfinetada em Mark Zuckerberg, que disse recentemente que permitirá que um político veicule um anúncio com uma mentira no Facebook. "Não é crível para nós dizermos que queremos parar de permitir que a desinformação esteja na nossa plataforma, ao mesmo tempo que alguém nos paga para direcionar um anúncio político para qualquer pessoa!", disse o presidente executivo do Twitter. 

Zuckerberg defendeu sua posição em prol da "liberdade de expressão", algo que Dorsey também criticou: "o que estamos fazendo não é sobre liberdade de expressão, é sobre pagar para veicular discurso político de uma forma que a infraestrutura democrática ainda não está preparada para lidar." 

É um tema bastante polêmico no Vale do Silício: nesta semana, um grupo de 250 empregados do Facebook assinaram um abaixo assinado direcionado a Mark Zuckerberg, para que ele reveja sua decisão. É algo que o próprio Dorsey chega a mencionar em seu fio. "Sabemos que somos só uma parte pequena de um ecossistema de anúncios enorme. Confio que essa mudança poderá crescer", afirmou. 

Nesta quarta-feira, 30, o Facebook divulgou seus resultados financeiros com números positivos. Durante conferência com investidores, ao ser questionado sobre a mudança de política do Twitter, Zuckerberg defendeu sua própria postura e disse que não pretende mudar. "Em tempos de tensão social, há uma urgência frequente em atacar a liberdade de expressão. Vamos resistir e defender a liberdade de expressão", disse. "Para nós, é melhor incrementar a transparência em torno de anúncios políticos." O executivo afirmou ainda que, em 2020, menos de 0,5% do faturamento do Facebook virá de anúncios políticos – algo em torno de US$ 350 milhões por ano.

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Medida acende debate nas redes e no mercado

A medida de Jack Dorsey recebeu o apoio instantâneo de Hillary Clinton, candidata democrata derrotada nas eleições de 2016 – em uma campanha afetada pela desinformação. Em sua conta no Twitter, ela disse que a iniciativa “era a coisa certa a se fazer pela democracia nos EUA” e perguntou ao Facebook o que a empresa vai dizer. 

Por outro lado, Alex Stamos, ex-chefe de segurança do Facebook, criticou a decisão. “Ao banir anúncios de causas políticas, o Twitter afeta as causas bem intencionadas de ONGs, dando espaço para que só as empresas consigam pagar por anúncios na TV, piorando a qualidade do debate.”

A notícia também desagradou ao mercado: após a divulgação da novidade, os investidores reagiram com desânimo e as ações do Twitter apresentavam queda de 2% depois do fechamento do pregão da bolsa de valores de Nova York. 

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