Uber e cofundador do Google brigam por carro voador

App de carona anunciou que seu modelo, feito em parceria com Embraer, será autônomo; já Larry Page anunciou apoio à Kitty Hawk, empresa de ex-engenheiro do Google que testa carros voadores na Nova Zelândia

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Por Bruno Capelas , de São Paulo e e Claudia Tozetto
Atualização:
O Cora, carro voador da Kitty Hawk, pode levar até duas pessoas Foto: Kitty Hawk

Viajar pelos ares, em carros voadores, como no desenho animado ‘Os Jetsons’, é a próxima ambição do mercado de tecnologia – depois, claro que, os carros sem motorista estiverem rodando por aí. Ontem, dois nomes que disputam o mercado de veículos autônomos mostraram novidades para os carros voadores, reprisando no ar uma disputa que já acontece em terra.  De um lado, está a Kitty Hawk, apoiada por Larry Page, cofundador do Google. Na manhã de ontem, a empresa assinou um acordo com o governo da Nova Zelândia para iniciar a aprovação de testes de seu carro voador no país. 

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Do outro, está o Uber, que fez parcerias com companhias como a brasileira Embraer para criar um veículo do tipo. Poucas horas após o anúncio da Kitty Hawk, a empresa de transporte por aplicativo revelou que seu carro voador, com testes previstos para 2020 e operação comercial em 2023, também será autônomo. O anúncio foi feito durante o SXSW, evento de tecnologia que acontece nesta semana em Austin, no Texas. 

Segredo. Criada por Sebastian Thrun, ex-engenheiro do Google que ajudou a empresa a conceber seu projeto de carro autônomo, a Kitty Hawk já vinha operando secretamente na Nova Zelândia os testes de seu primeiro carro voador, o Cora, com ajuda de uma companhia de fachada, a Zephyr Airworks. 

Com capacidade de transportar duas pessoas por vez, o Cora levanta voo verticalmente, como um drone. Ele tem velocidade máxima de 183 quilômetros por hora e autonomia de 100 quilômetros. Além disso, o veículo é totalmente elétrico. “Estamos desenhando um veículo aéreo para o dia a dia, que pode voar a partir de terraços e estacionamentos”, disse a empresa ao jornal inglês The Guardian

O Cora tem sido desenvolvido há oito anos e testado desde 2016 na Nova Zelândia. Agora, a meta de Page e Thrun é de que a empresa possa operar comercialmente no transporte de passageiros em até três anos, passando à frente do Uber na corrida pelos carros voadores. 

Sem piloto. Horas após o acordo da Kitty Hawk com o governo neozelandês se tornar público, o Uber anunciou durante o SXSW que seu sistema de carros voadores vai dispensar piloto. No entanto, isso será a segunda fase do projeto – na primeira, prevista para começar em 2020 em Dallas (EUA) e Dubai (Emirados Árabes Unidos), o veículo ainda terá motorista. 

“Vamos fazer com as aeronaves o mesmo que estamos fazendo com o carro sem motorista,”, diz o diretor de engenharia para aviação do Uber, Mark Moore. “Voaremos por milhões de horas com um piloto até garantir que o software é seguro para transportar as pessoas sem supervisão.”

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Segundo Antonio Campello, presidente executivo do Embraer X, centro de inovação da fabricante brasileira sediado na Flórida, nos Estados Unidos, esse será um processo gradual. Segundo as empresas, inicialmente o carro voador terá autonomia para fazer viagens de até 100 quilômetros de distância. Uma viagem entre São Paulo e Campinas, por exemplo, poderia custar cerca de US$ 24. 

Na apresentação em Austin, o Uber não perdeu a oportunidade de alfinetar o novo rival. “Apresentei essa oportunidade ao Larry Page há oito anos”, disse Moore. “Mas os veículos da Embraer e da Kitty Hawk são completamente diferentes.”. 

Já para Campello, da Embraer, a competição é bem vinda: “ter mais empresas tentando desenvolver a mesma tecnologia é positivo”. Além do Uber e da Kitty Hawk, nomes como a startup chinesa Ehang e as tradicionais fabricantes de aviões Airbus e Boeing tem projetos de carros voadores

Para Fernando Osório, professor de computação da Universidade de São Paulo (USP), os projetos das empresas representam mais uma vez, “a aspiração humana de voar”. “Nós já temos carros voadores hoje. São os helicópteros, mas eles são bastante regulados, exigindo, por exemplo, um plano de voo”, diz. “O desafio desses veículos é criar algo que seja barato e possa ser usado sem grandes empecilhos por qualquer pessoa para se locomover por aí.” 

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