Uber estreia na Bolsa com valor das ações abaixo da meta

Depois de 10 anos como empresa privada, Uber estreia com preço das ações em US$ 42; na noite de quinta, companhia tinha determinado valor em US$ 45

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Por Bruno Romani
Atualização:
Uber estreou na bolsa com protesto nesta sexta, 10 Foto: Andrew Kelly/Reuters

A jornada de 10 anos do Uber como empresa privada acabou nesta sexta, 10. A corrida da empresa agora é como uma empresa pública, com ações negociadas na Bolsa de Nova York.  A estreia foi por volta das 12h50, com ações negociadas em torno de US$ 42, abaixo da meta da empresa - 33 milhões de ações foram negociadas nos primeiros minutos.

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Na noite de quinta, 9, a empresa determinou o preço das ações em US$ 45 cada, próximo ao mínimo de sua meta que era de US$ 44 a US$ 50, e colocou à venda 180 milhões de ações. Dessa maneira, o Uber levantou US$ 8,1 bilhões, o que coloca o IPO  como o maior desde a do Facebook, em 2013. Os números colocaram o valor da companhia em US$ 82,4 bilhões. Com a estreia em US$ 42, o Uber é o primeiro unicórnio, startup com valor  de US$ 1 bilhão, a estrear com valor abaixo do seu preço de IPO.  

Na tradicional cerimônia de abertura, na qual executivos tocam o sino, estava Dara Khorsowshahi, presidente da empresa desde 2017, e, para desgosto de executivos e investidores da empresa, era observado das galerias da bolsa de Nova York por Travis Kalanick, o fundador da companhia. 

Kalanick foi obrigado a deixar o comando da empresa após uma série de escândalos, incluindo acusações de instaurar uma cultura machista na empresa de assédio moral e sexual. Ele também leva a fama por ser o mentor  da postura agressiva, de iniciar operações em diferentes cidades ignorando legislações locais, o que gerou muito atrito entre governos e empresa, principalmente em seus primeiros anos de atividade - ainda hoje, a companhia gasta cada vez mais com lobby, atividade legalizada nos EUA: em 2018, a companhia investiu US$ 2,3 milhões apenas na esfera federal dos EUA, segundo registros do senado do país.  

No novo caminho, o Uber tem uma equação complicada para resolver. Por um lado, ela precisa mostrar que seu negócio é sustentável e que pode gerar lucro, algo ainda inédito em sua história.  Somente nos primeiros três meses do ano, ela perdeu US$ 1,1 bilhão, segundo seus próprios dados. Em entrevista à CNBC, nesta sexta, Khorsowshahi disse que imagina que 2019 seja o "pico de perdas" da companhia. 

Para financiar suas operações, a empresa contou com o investimento do capital de risco. Segundo o Crunchbase, desde a fundação o Uber já recebeu US$ 24 bilhões em aportes. Entre a lista de investidores estão o Paypal, Google Ventures, Jeff Bezos, Softbank e Baidu - até Shawn Fanning, fundador do Napster, o pioneiro programa para compartilhar ilegalmente arquivos de MP3, investiu na companhia em seus primeiros anos.  

Por outro lado, o Uber enfrenta pressões para melhorar as condições dos motoristas, que ajudaram a tornar a empresa a se tornar gigante global. Nesta semana, motoristas protestaram em diversas cidades do mundo, incluindo no Brasil, pedindo por uma fatia maior nos repasses das tarifas. Analistas avaliam que é possível que a empresa aumente o valor das corridas, mas que isso pode resultar em perda de espaço para concorrentes locais, como Lyft (EUA) e 99 (Brasil).  Houve protesto também em frente à Bolsa de Nova York nesta sexta. Só no Brasil, apps como Uber e iFood empregam mais de 4 milhões de pessoas. 

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O dilema para gerar lucro, e a ausência de um caminho claro para que isso aconteça, fez alguns analistas compararem a chegada do Uber à bolsa com a venda de ações de empresas da era da bolha da internet, no final dos anos 1990, o que inclui nomes hoje tradicionais, como Google e Amazon, e fracassos retumbantes como o Pets.com. A diferença, apontam, é que o Uber e outros unicórnios atuais passaram mais tempo como companhias privadas para definir que caminho devem seguir. Recentemente, a companhia já afirmou que estima perdas durante anos, e que pretende se estabelecer como uma "espécie de Amazon": uma plataforma tecnológica diversificada: além das caronas, ela foca em entrega de comida, bicicletas, patinetes elétricos e carros autônomos.

Hoje, umas das companhias mais valiosas do mundo, a Amazon demorou a reverter lucro. O Uber espera o mesmo destino antes que seus motoristas cancelem a corrida.  

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