Uso indevido de dados pode levar Facebook a perder até 40 milhões de usuários

Análises obtidas mostram que o crescimento da rede social será afetado principalmente nos Estados Unidos e na Europa

PUBLICIDADE

Por Victor Rezende
Atualização:
Rede social vai tentar conter disseminação de notícias falsas e vai melhorar a transparência de anúncios para conter tentativas de interferência nas eleições Foto: Ralph Orlowski/Reuters

O escândalo sobre o uso de dados de milhões de usuários do Facebook pela Cambridge Analytica colocou em dúvida o nível de confiança depositado pelas pessoas na rede social. Pesquisas de opinião apontam que usuários estão abandonando os serviços do grupo e algumas empresas já fizeram críticas abertas à companhia após o escândalo. Análises obtidas pelo Broadcast apontam que o crescimento no número de usuários deve ser afetado, e, no pior cenário, os produtos do Facebook poderão perder até 40 milhões de contas - um golpe que poder ter impacto ainda não mensurado sobre seus resultados financeiros. Tentando reverter a imagem negativa da empresa após o escândalo, o executivo-chefe do Facebook, Mark Zuckerberg, pediu desculpas pela "quebra de confiança" em anúncios colocados em jornais de todo o mundo. "Temos a responsabilidade de proteger suas informações. Se não pudermos, não merecemos isso", apontou o anúncio, que apareceu em texto simples num fundo branco, com um pequeno logotipo da marca. Nesta manhã, a empresa informou que está adotando medidas para fortalecer as configurações de privacidade. "A maior parte dessas atualizações estava sendo trabalhada há algum tempo, mas os eventos dos últimos dias ressaltaram sua importância", escreveu o vice-presidente e diretor de privacidade e política do Facebook, Erin Egan, no blog da rede social. A quebra de confiança citada por Zuckerberg, entretanto, transparece em pesquisas de opinião divulgadas no fim de semana. Segundo levantamento feito pelo Instituto Ipsos, em parceria com a Reuters, menos da metade dos americanos confia que o Facebook obedecerá às leis de privacidade dos Estados Unidos. Já um levantamento publicado pelo jornal alemão Bild revela que 60% dos alemães temem que o Facebook e outras redes sociais tenham impacto negativo na democracia. O cenário negativo para o crescimento do número de usuários da rede social deve ter efeito já no balanço da empresa referente ao primeiro trimestre, de acordo com o economista Ziyaad Manie, do Rand Merchant Bank. Manie construiu um modelo de caso de estresse com suposições pessimistas em relação ao desempenho futuro do Facebook e aponta que a companhia pode registrar perda líquida de 20 milhões de usuários nos Estados Unidos e no Canadá neste ano com o escândalo. Esse valor equivale à saída de 8,4% dos usuários ativos mensais do Instagram, Messenger, Whatsapp ou do próprio Facebook. Manie também estima que, na Europa, deve haver perda líquida de outros 20 milhões de usuários no pior cenário, o que equivale a 5,4% dos usuários ativos mensais. "Fora das economias de mercado desenvolvidas, eu ficaria muito surpreso em ver os usuários deixando as aplicações do Facebook tão agressivamente quanto na Europa, nos EUA e no Canadá. Como alguém de uma economia de mercado em desenvolvimento, acredito que há muito menos cobertura do escândalo do Facebook do que nos países desenvolvidos", comenta.Anúncios. Ao perder usuários, a empresa de Zuckerberg pode enfrentar outro problema: a fuga de anunciantes. Por ora, no entanto, a avaliação de analistas da Shareholders Unite é de o impacto do escalando não será tão agressivo sobre a publicidade. "O Facebook é uma ótima ferramenta de persuasão. Se você está tentando influenciar as pessoas de determinada maneira ou se você está vendendo um produto, o Facebook funciona em grande escala", afirmam. Para eles, o segredo está nos 2 bilhões de usuários que fornecem voluntariamente os dados pessoais mais detalhados sobre eles mesmos, com os algoritmos de segmentação e tecnologia. Apesar disso, a imagem arranhada da rede social pode pesar na decisão de algumas grandes companhias. Na semana passada, o Commerzbank suspendeu as campanhas publicitárias no Facebook e o diretor de estratégia de brand do Commerzbank, Uwe Hellman, afirmou ao jornal Handelsblatt que "segurança da marca e segurança de dados são muito importantes para nós". Decisão semelhante foi tomada pela Mozilla, que decidiu suspender a publicidade no Facebook até que a companhia de Zuckerberg tomasse medidas para reforçar as configurações de privacidade padrão. "Embora acreditemos que há muito para saber, descobrimos que nossas configurações padrão atuais deixam o acesso aberto a muitos dados, principalmente em relação a configurações de aplicativos de terceiros", afirmou a Mozilla em um post em seu blog. Já o bilionário Elon Musk, dono da companhia aeroespacial Space X e da montadora Tesla, excluiu na semana passada as páginas das duas empresas no Facebook. Apesar disso, o empresário afirmou que continuará utilizando o aplicativo de compartilhamento de fotos Instagram, que é de propriedade do Facebook. Musk e Mark Zuckerberg já enfrentaram divergências no passado. O executivo-chefe do Facebook, que defende a inteligência artificial, foi questionado no ano passado sobre a posição de Musk sobre o assunto. Para o CEO da Tesla, tecnologias como a inteligência artificial podem se tornar tão poderosas que tratariam as pessoas como "ratos". Zuckerberg disse que Musk foi "pessimista" e classificou a opinião do concorrente como "irresponsável". A resposta de Musk surgiu logo depois, ao dizer que o CEO do Facebook não entendia as implicações da inteligência artificial. "Eu já conversei com Mark sobre isso e a compreensão dele sobre o assunto é limitada", comentou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.