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Zoom só terá criptografia de ponta a ponta para assinantes, diz CEO

Empresa diz que quer ajudar autoridades em investigações; serviço de videochamadas deve ter receita de US$ 1,8 bilhão em 2020, dobro do que a companhia esperava para o período

Por Redação Link
Atualização:
Zoom dobrou a expectativa de receita em 2020 Foto: Dado Ruvic/Reuters

Hit da quarentena, o serviço de vídeochamadas Zoom tem uma má notícia para a segurança e a privacidade dos usuários que pretendem continuar usando o serviço gratuitamente: em um futuro próximo, quando a empresa passar a oferecer criptografia de ponta a ponta em sua plataforma, apenas usuários pagos (assinantes) terão acesso ao benefício. O anúncio foi feito por Eric Yuan, presidente executivo do Zoom, durante conferência com investidores – nesta terça-feira, 2, a empresa revelou seus resultados financeiros para o primeiro trimestre de 2020 (leia mais abaixo). 

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Segundo Yuan, o motivo para que o Zoom ofereça criptografia de ponta a ponta só para usuários pagos é para que a empresa possa colaborar com as autoridades em investigações. "Para usuários gratuitos, com certeza, não queremos dar isso. Porque queremos trabalhar também com o FBI e as autoridades locais, caso algumas pessoas usem o Zoom para propósitos maléficos", disse o executivo. Antes da quarentena, o Zoom afirmava ter criptografia de ponta a ponta em todas as chamadas, até que uma reportagem do The Intercept mostrou que isso não era verdade. A empresa então comprou a Keybase, uma startup de criptografia, para desenvolver seu próprio sistema de proteção. 

É uma questão polêmica: a criptografia de ponta a ponta, que se popularizou em apps como o WhatsApp nos últimos anos, evita que autoridades e até mesmo as empresas tenham acesso ao conteúdo das mensagens de seus usuários – o que afeta investigações, mas também evita espionagem ou vigilância governamental sob os cidadãos. É um tema em debate atualmente no Supremo Tribunal Federal  brasileiro, por exemplo. Em caso que julga a legalidade dos bloqueios judiciais ao WhatsApp, o ministro Luiz Edson Fachin chegou a se pronunciar sobre o tema. “(A criptografia) é o mecanismo por excelência de garantia do relevantíssimo direito à privacidade”, escreveu Fachin. “Por ora, penso que esta Corte deva reconhecer que fragilizar a criptografia é enfraquecer o direito de todos a uma internet segura.” 

Consultor de segurança para o Zoom e ex-chefe de segurança do Facebook, Alex Stamos defendeu a empresa em sua conta no Twitter. "O Zoom está lidando com questões sérias de segurança e não grava ativamente as chamadas realizadas pelo serviço. Mas trabalhamos com as autoridades da lei para repelir os piores criminosos", disse. É um tema complexo, mas não necessariamente é necessário ter acesso ao conteúdo das conversas para ter informações sobre os criminosos – no Brasil, o Marco Civil da Internet afirma que a Justiça pode requisitar os metadados de uma conversa (como IPs dos usuários, data e hora da chamada) para identificar um suspeito. É uma questão que varia de país para país, por conta da legislação local. 

Empresa teve crescimento forte no primeiro trimestre

O Zoom quase dobrou as expectativas de receita anual nesta terça-feira, 2, à medida que mais pessoas trabalham em casa e se conectam com amigos online durante os bloqueios por coronavírus. As ações da empresa da Califórnia subiram quase 5% no after-market depois que a receita e o lucro no primeiro trimestre também superaram as estimativas do mercado por uma ampla margem.

A empresa foi criticada no período por questões de privacidade e segurança, o que a levou a investir em atualizações do serviço. Mas o relatório trimestral mostrou que a empresa agora tem cerca de 265.400 clientes com mais de 10 funcionários, um aumento de quase quatro vezes em relação à base de um ano antes.

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A companhia concorre com o Webex, da Cisco, com o Teams, da Microsoft, e com o Meet, do Google, oferecendo uma versão gratuita para consumidores.

O Zoom teve receita de US$ 328,2 milhões, superando as estimativas de analistas de US$ 202,7 milhões, segundo dados da Refinitiv. Embora a receita do Zoom tenha subido, seus custos aumentaram ainda mais. O custo da receita da empresa aumentou 330%, para US$ 103,7 milhões, o que reduziu a margem bruta para 68,4%, ante 80,2% um ano antes.

Um dos maiores custos do Zoom são os data centers e a banda para hospedar chamadas. A empresa administra algumas de suas centrais de processamento de dados, mas também paga pelos serviços de computação em nuvem da Amazon Web Services e da Microsoft, e em abril adicionou a Oracle como fornecedor.

Em termos ajustados, a empresa ganhou US$ 0,20 por ação no trimestre, superando a estimativa de analistas de US$ 0,09. O Zoom elevou a previsão de receita para o ano, da faixa de US$ 905 milhões a US$ 915 milhões para a de US$ 1,78 bilhão a US$ 1,8 bilhão. Analistas, em média, previam receita de US$ 935,2 milhões. Neste ano, as ações do Zoom mais que triplicaram de valor. / COM REUTERS

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