As tecnologias para quem quer dormir melhor

Travesseiro antirronco e cama que ajusta temperatura são apostas de empresas e startups; setor pode gerar até US$ 81 bi este ano

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Por Giovanna Wolf
Atualização:
Travesseiro inteligente de startup coreana detecta ronco e ajusta sua própria altura para acabar com ruído Foto: 10minds/Divulgação

Ter uma boa noite de sono, aprende-se desde cedo, é essencial para o corpo. Muitas vezes, porém, rotinas aceleradas, estresse e o uso frequente de telas luminosas (como as de celulares e PCs) atrapalham as preciosas horas de descanso. Mas a indústria de tecnologia está de olho em como resolver esse problema usando suas próprias armas. É um mercado chamado de “sleeptech” (tecnologia do sono) e que pode valer até US$ 81 bilhões este ano, segundo previsão da consultoria Persistence. 

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Na última edição da Consumer Eletronics Show (CES), feira de tecnologia realizada no início do mês em Las Vegas (EUA), startups e grandes empresas ocuparam a maior parte da área dedicada à saúde e bem-estar para mostrar suas novidades para melhorar o sono. Um exemplo é o travesseiro MotionPillow, da coreana 10minds, que promete acabar com o ronco noturno. 

Para funcionar, o travesseiro precisa estar integrado a um pequeno dispositivo, também vendido pela startup, capaz de detectar o volume do ronco do usuário ao longo da noite. Ao detectar um ruído intenso, o MotionPillow pode ajustar sua altura, como se fosse um “airbag”. Assim, o dispositivo muda a posição da cabeça do usuário e melhora sua respiração, acabando com o barulho indesejado. 

Durante testes realizados pela reportagem em Las Vegas, o travesseiro demorou cerca de dois minutos para reagir ao comando de mudança de posição e ajustou os airbags com tal sutileza que não despertaria o mais dorminhoco dos usuários. 

Ajuste fino

Ser sutil é uma característica importante na evolução da tecnologia. Na primeira geração de soluções para o sono, surgida há alguns anos, nem sempre era assim – dados coletados por apps de celular ou dispositivos “de vestir” por vezes não eram precisos o suficiente. Além disso, o próprio uso dos aparelhos podia afetar a qualidade do sono. 

Anos de experiência, porém, tornaram as inovações mais sutis. É uma tendência. Segundo João Ferreira, gerente de desenvolvimento de negócios em inteligência artificial (IA) do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPQD), uma meta da tecnologia nos últimos anos é tornar a relação das pessoas com dispositivos cada vez mais natural, sem afetar sua rotina. 

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Essa é justamente a meta da cama inteligente Climate 360, também presente na CES. Feita pela empresa americana SleepNumber, o móvel tem sistema que permite ao usuário controlar a temperatura do colchão de acordo com sua vontade. A tecnologia é sofisticada a ponto de permitir que cada lado de uma cama de casal possa ter temperatura específica – ajustando-se ao gosto dos diferentes usuários. 

Abajur da Philips emite luz para despertar usuário Foto: Philips/Divulgação

O sistema também pode regular sua temperatura ao longo da noite, de acordo com o ambiente. De quebra, tem a capacidade de aprender os hábitos do usuário ao longo do tempo, ajustando automaticamente o colchão para deixá-lo mais confortável. Mas é um produto para poucos: segundo a SleepNumber, a cama só deve chegar ao mercado em 2021, por US$ 8 mil. 

Grandes empresas de tecnologia também estão de olho no setor, como a holandesa Philips. Em Las Vegas, a companhia apresentou uma série de produtos de sono. O mais interessante é uma espécie de abajur de cabeceira que ajuda o usuário a adormecer mais rápido e acordar com mais facilidade, controlando a luz para cada etapa do sono e até emitindo sons propícios para o despertar.

“Unimos o conhecimento profundo da experiência do consumidor com um trabalho em conjunto com a comunidade médica”, afirma Annete Kapitan, diretora global de produtos para saúde do sono da Philips

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Validação

Para o médico Luciano Drager, vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS), o setor de tecnologias para sono vive uma fase interessante de evolução, mas que deve ser olhada com cautela. “Assim como novos remédios, essas tecnologias precisam ser validadas do ponto de vista médico para sabermos se realmente ajudam as pessoas a dormirem bem”, diz. “Nesse cenário de inovação podem surgir invenções que não necessariamente são úteis.”

Outra preocupação é a obsolescência da tecnologia. Será que travesseiros e camas inteligentes terão atualizações constantes? Afinal, um colchão não tem o mesmo tempo de vida que um iPhone: é um objeto do quarto que costuma durar por anos e seria problemático ver a tecnologia de uma cama se tornar ultrapassada em pouco tempo.

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Há ainda que se pensar na privacidade. Para se tornarem eficientes, os objetos do “quarto conectado” precisam captar dados dos usuários. Saber como uma pessoa dorme é uma informação sensível e deve ser tratada com responsabilidade. 

Caso isso ocorra, porém, o setor de sleeptech pode trazer impactos relevantes não só para o bem estar, mas para a evolução da medicina. “Grande parte desses aparelhos tem sistemas de monitoramento que podem trazer informações úteis aos médicos”, diz Drager. “É uma forma de democratizar o diagnóstico de problemas como apneia, uma vez que as análises não ficarão restritas aos laboratórios.” 

*A jornalista viajou a convite da Intel 

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