Na pandemia, smartphone fica mais caro e brasileiro busca alternativas

Alta do dólar e estratégia de lançamento das empresas fizeram preço de aparelhos subir, enquanto quarentena aumentou demanda por itens com mais tecnologia; adiar compra ou investir no custo-benefício foram opções de consumidores

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Por Giovanna Wolf e Bruna Arimathea
Atualização:
A publicitária Verena, de 23 anos, queria trocar de celular, mas decidiu adiar a compra durante a quarentena e torcer para os preços caírem Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Quem pesquisou para trocar de celular nos últimos meses deve ter levado um susto: os smartphones estão mais caros no Brasil. Segundo dados recentes da consultoria IDC, o preço médio de um aparelho no 2.º trimestre foi de R$ 1,5 mil, em alta de 23% ante 2019, em efeito puxado pela alta do dólar e pela estratégia de lançamentos das empresas. Com a crise e incerteza econômica, o aumento deixa muitos brasileiros em dúvida na hora de colocar a mão no bolso – ainda mais em tempos de isolamento social, quando a demanda pelo uso de tecnologia aumentou. 

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A alta dos preços é visível em diferentes segmentos do mercado. Considerado um aparelho “super premium”, o Galaxy Note 20, da Samsung, chegou ao Brasil neste mês por até R$ 8 mil. No ano passado, seu antecessor Note 10 custava no máximo R$ 6,8 mil. No mercado intermediário, uma mudança sensível apareceu no Moto G9 Plus, da Motorola, que chegou ao mercado este mês por R$ 2,5 mil – no ano passado, o Moto G8 Plus foi lançado a R$ 1,7 mil. 

Segundo Renato Meireles, analista da IDC Brasil, esse movimento atinge o mercado de smartphones como um todo. “Hoje, praticamente não há smartphones de entrada por menos de R$ 700”, diz. Por outro lado, ele nota que os aparelhos mostram evoluções ano a ano. “Ao mesmo tempo, já é possível ver câmera tripla em um smartphone de baixo custo.” 

Na hora de comprar, afirmam especialistas ouvidos pelo Estadão, o consumidor deve entender quais inovações são de fato úteis entre um aparelho e outro – uma câmera melhor para quem gosta de tirar fotos pode valer alguns reais a mais, mas não uma evolução tímida na capacidade de processamento. 

Estratégia em xeque

A alta de preços não é um fenômeno novo – em uma estratégia que foi puxada pela Apple, criando a categoria super premium, com celulares que chegaram a custar até cinco dígitos. Para Fernando Balaiuna, diretor da consultoria GfK, a tática é uma resposta à própria evolução do mercado. “Já existe um nível de exigência maior do consumidor e o caminho do mercado é convencer as pessoas a fazerem uma atualização”, diz. 

Mas essa tática entra em xeque num cenário de crise e incerteza econômica como o causado pela pandemia. O resultado são consumidores mais sensíveis aos altos preços. A publicitária Verena Liz Schlik, por exemplo, pretendia comprar um smartphone em maio, no seu aniversário, mas fez alguns cálculos e resolveu adiar a compra. “Eu tenho um Galaxy S8 há dois anos e queria trocar para esse modelo não ficar obsoleto”, diz a jovem, de 23 anos, que mora em São Paulo. “Mas como meu celular ainda funciona bem, vou esperar o dólar abaixar um pouco e os preços se estabilizarem pra ter um negócio melhor.” 

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Verena não está sozinha: como ela, muitos consumidores decidiram ficar mais um tempo com o celular que já têm. Outros nem tiveram como realizar a compra, com lojas fechadas e problemas de abastecimento – parte considerável dos componentes de celulares feitos no Brasil é importada da China, que sofreu primeiro com o coronavírus.  O resultado, diz a IDC, foi uma queda de 30% nas vendas de celular no 2.º trimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. Para o ano, a previsão da consultoria é de queda de dois dígitos no mercado no País – se confirmado, seria o maior tombo do setor na última década em termos porcentuais.

Necessidade

Diferentes analistas ouvidos pela reportagem afirmam que o mercado já dá sinais de recuperação – e parte disso, dizem, se deve ao auxílio emergencial e à necessidade de ter um dispositivo à mão durante a quarentena. 

“Na pandemia, o celular virou necessidade básica. Quem não tem um, não consegue estudar ou trabalhar – e isso não era verdade há pouco tempo atrás”, diz Fernando S. Meirelles, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). “As pessoas estão investindo nos aparelhos.”

Verificar a bateria, uso de dados e limpar partes importantes do aparelho pode ajudar a aumentar a vida útil de celulares e computadores Foto: Pexels

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Foi o que aconteceu com Marcella Carvalho, de 30 anos. Técnica em Química, ela estuda Engenharia Mecânica e precisou de um aparelho para acompanhar as aulas. “É por ele que eu consigo postar as provas e digitalizar os trabalhos para colocar no portal da faculdade”, diz Marcella, que mora em Barra Mansa (RJ). “Até procurei notebook para comprar, mas estava muito caro”, diz ela, que optou por um modelo mais barato, o Redmi Note 8, da chinesa Xiaomi, para equilibrar as contas. 

Alternativas

Além de buscar aparelhos mais baratos, mas que atendam às necessidades do usuário, outra tática recomendada por especialistas para driblar os altos preços é procurar por aparelhos topo de linha lançados há algum tempo. “Se você não tem muito dinheiro para gastar com um aparelho mais avançado, olhe para versões de um ou dois anos antes. Eles continuam sendo bastante úteis e robustos”, afirma Mikako Kitagawa, analista da consultoria Gartner. 

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Foi o que fez a mineira Anna Luisa Nogueira: durante a quarentena, ela desembolsou R$ 3 mil em um Galaxy S10, lançado em março de 2019. A expectativa, segundo ela, é ficar com o novo modelo por pelo menos dois anos. “Meu último celular durou três anos, a única coisa que ficou ruim com o tempo foi a bateria. Quero ficar com esse por bastante tempo”, diz a jovem, formada em Direito. 

Para quem não está em condições de fazer uma aquisição, a principal dica é cuidar bem do aparelho atual, executando práticas de manutenção. E, claro, tomar cuidado para não deixar o celular cair e quebrar – afinal, às vezes acidentes acontecem. 

*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas

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