Por que a Apple fez um iPhone mais barato?

Anunciado na última segunda-feira, 21, iPhone SE tem tela de 4 polegadas e especificações robustas, mas custa 40% a menos que o iPhone 6S

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Por Bruno Capelas
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O rumor era antigo, mas finalmente se tornou verdade: na última segunda-feira, 21, depois de anos e anos de especulações, a Apple lançou uma versão “barata” do iPhone. Com tela de 4 polegadas e especificações muito parecidas com a do iPhone 6S – atual modelo topo de linha da empresa –, o iPhone SE chegará ao mercado americano na próxima quinta-feira, 31, por US$ 399 em sua versão mais simples. Mesmo com todos os boatos anteriores, o preço – 40% mais barato que o iPhone 6S – surpreendeu o mercado. Afinal de contas, por que a Apple fez um iPhone mais barato e com tela menor, indo na contramão da tendência atual de aparelhos cada vez maiores?

“A principal razão para o lançamento de um aparelho com tela menor está na estagnação das vendas do iPhone”, diz o consultor independente Dan Olds, da Gabriel Consulting. Em seu último balanço, divulgado em janeiro, a empresa acendeu um sinal amarelo: responsável por 68% das receitas da Apple, o iPhone teve crescimento nas vendas de menos de 1% no último trimestre de 2015, na comparação com o mesmo período do ano anterior. No quarto trimestre de 2014, a venda havia crescido 46% em relação ao mesmo período de 2013.

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Para Olds, lançar um aparelho com tela de 4 polegadas – o que aparentemente seria um retrocesso – é uma forma da empresa recuperar antigos clientes, em um mercado que ficou perdido depois que a empresa alargou o tamanho de seus aparelhos com o iPhone 6 (de 4,7 polegadas), em 2014. “Muitos consumidores que trocam de aparelho a cada dois ou três anos e gostam de telas pequenas acabaram olhando para outras marcas”, diz o analista.

Annette Zimmermann, diretora de pesquisas da Gartner, também vai nessa linha: “A Apple está mirando em usuários que pensam no custo benefício, que não compram os últimos modelos de iPhone, mas olham para as gerações anteriores porque não querem gastar muito dinheiro”, diz. “Agora, eles podem comprar algo de última tecnologia com um preço consistente.”

É importante notar, no entanto, a força das vendas dos aparelhos com tela de 4 polegadas: segundo a Apple, mais de 30 milhões de unidades do iPhone 5C (descontinuado em setembro de 2015) e do iPhone 5S (que será descontinuado após a chegada do SE ao mercado) foram vendidas no ano passado. “Ainda há muito espaço para celulares pequenos, que podem ser vendidos a preços mais acessíveis, uma vez que o mercado de aparelhos premium está saturado nos países desenvolvidos”, diz Thomas Husson, analista da Forrester.

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Economia. Segundo Husson, o aparelho tem preço mais convidativo que o iPhone 6S por duas razões: além da redução de tamanho (que afeta o tamanho da tela e a estrutura do smartphone), o iPhone SE também se beneficia da economia de escala em boa parte de seus componentes, uma vez que tem especificações muito semelhantes às do “irmão mais velho”.

Além da tela, as diferenças entre os dois aparelhos são sutis: o iPhone 6S tem câmera frontal melhor e a tecnologia 3D Touch, que modifica a execução de funções de acordo com a pressão aplicada pelo usuário quando toca a tela, além de bateria com menor duração

Para Husson, da Forrester, no entanto, o iPhone SE não pode ser um considerado um aparelho de “baixo custo”. “A Apple sempre vai vender dispositivos premium. [O iPhone SE] tem um ótimo valor, mas é mais uma jogada tática da Apple do que algo disputivo”, diz. Segundo o analista, a Apple ficou devendo em “novidades” no evento dessa semana.

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Emergentes. Além de ter bom potencial nos mercados desenvolvidos, o novo modelo do iPhone também pode encontrar público considerável em emergentes, como China e Índia. No entanto, a Apple ainda deve sofrer com a concorrência dos aparelhos que usam o sistema operacional Android, do Google, no segmento de smartphones intermediários. “A Apple tem uma chance melhor de entrar em mercados emergentes, o que deve atrair muitos consumidores. Porém, uma fatia ainda maior de pessoas deve optar por aparelhos Android, que são mais acessíveis”, explica Olds.

Não é a primeira vez, porém, que a empresa usa a tática de lançar um iPhone mais simples – em 2013, o iPhone 5C foi lançado por US$ 549, mas seu design colorido acabou não conquistando os consumidores. “Dessa vez será diferente porque o preço é muito agressivo, o que não ocorreu com o 5C”, afirma Annette Zimmermann, da Gartner.

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