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Tecnologia ‘vestível’ ainda é para poucos

Lançados com ambição de substituir smartphones, relógios e pulseiras inteligentes têm presença restrita aos segmentos fitness e de saúde

Por Bruno Capelas
Atualização:
O novo Apple Watch tem foco na área de saúde Foto: AFP/Justin Sullivan

Quando chegaram ao mercado, relógios e pulseiras inteligentes prometiam substituir os smartphones, fazendo usuários se sentirem como o detetive americano das tiras de quadrinhos Dick Tracy. Cinco anos mais tarde, a categoria de produtos “vestíveis” está longe da profecia: em 2018, segundo a consultoria IDC, foram vendidos 1,4 bilhão de smartphones no mundo, ante cerca de 140 milhões de dispositivos “de pulso”. Não é um número desprezível – mas mostra que estes ainda são aparelhos de nicho. 

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Há motivos para os vestíveis não terem se popularizado amplamente. O primeiro parte da inovação: quando chegaram ao mercado, relógios e pulseiras dependiam de smartphones para ter conexão à internet. Apesar dessa barreira ter sido superada – modelos recentes do Apple Watch e de aparelhos da Samsung na categoria já têm como receber um chip de 4G próprio –, ainda há outros obstáculos pelo caminho. 

Segundo analistas ouvidos pelo Estado, relógios e pulseiras inteligentes ainda não se mostraram indispensáveis. “São dispositivos para notificações e interações rápidas, não uma experiência completa”, diz Frank Gillett, vice-presidente da consultoria Forrester. Para Annette Zimmermann, vice-presidente de pesquisas da consultoria Gartner, “ainda é uma categoria focada em usos específicos, como saúde ou exercícios físicos”. 

Fitness. É justamente no universo fitness que está a maioria dos lançamentos do setor. Há anos, o Apple Watch – líder do setor em vendas – tem versão própria para esportistas em parceria com a Nike, enquanto a Samsung lançou em março dois produtos com esse foco – o relógio Galaxy Watch Active e a pulseira Galaxy Fit. Além disso, marcas do universo esportivo, como a Garmin e a startup Fitbit, também têm se aproximado das tecnologias inteligentes. 

Com esses dispositivos, usuários conseguem saber seu desempenho em treinos e atividades físicas – para ter um diagnóstico mais detalhado, porém, ainda é necessário sincronizar os dados com um smartphone. Hoje, a tela pequena dos vestíveis não permite uma visualização ampla de gráficos e tabelas, enquanto o espaço disponível em suas estruturas limita os dispositivos a uma bateria pequena, sem capacidade de atender componentes de alta performance de processamento – ao menos em relação aos celulares. 

Barreiras. Outro empecilho para o mercado deslanchar é a disparidade de sistemas operacionais. Ao contrário do que acontece nos smartphones, com diversas marcas usando o Android, nos vestíveis cada empresa tem sua plataforma, o que dificulta o trabalho de desenvolvedores de apps. 

“O preço é outra barreira”, diz Renato Meirelles, analista da IDC Brasil. Relógios de último tipo custam entre R$ 1,3 mil e R$ 13,2 mil – caso da versão de luxo do Apple Watch 4, em parceria com a grife francesa Hermès. Não que não existam opções mais acessíveis: é possível achar pulseiras inteligentes mais simples, por algumas centenas de reais, mas elas trazem poucas funcionalidades. 

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Ciclo. As expectativas para o mercado de vestíveis são bem tímidas: a IDC, por exemplo, projetou no início deste mês que o setor venderá 180 milhões de dispositivos em 2023 – alta de 28% em cinco anos. Na visão dos analistas, há fatores que podem mudar essa trajetória. Um exemplo são as inovações já trazidas pelas empresas: no último Apple Watch, por exemplo, há uma função capaz de executar exames de eletrocardiograma. 

Por enquanto, a licença para o exame ser válido só está disponível nos EUA – caso chegue a mais países, pode colocar a fabricante do iPhone em novos setores. “É uma tentativa interessante de expandir o mercado”, avalia Gillett, da Forrester. 

Outro passo importante é a redução do custo de produção e fabricação de componentes – algo natural no mercado de tecnologia. “Primeiro, o produto chega custando muito caro pela inovação e depois acaba se barateando”, diz Meirelles, da IDC Brasil. É o que justifica, por exemplo, que a Fitbit já tenha relógios inteligentes na casa de US$ 100. 

Há também parcerias em andamento – o Google, por exemplo, comprou no início do ano a tecnologia da plataforma da americana Fossil para dispositivos móveis e deve integrá-la ao seu sistema próprio, o Android Wear, ainda pouco usado. “É algo que pode mexer com o mercado, especialmente pela força que a empresa tem com o Android”, avalia o especialista da IDC. 

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