Brasília ganha primeiro coworking dedicado a games do Brasil

Com mil metros quadrados, galpão Indie Warehouse é liderado pela Behold, de games como Knights of Pen and Paper e Chroma Squad

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Com capacidade para receber até 100 pessoas, trabalhando todos os dias, o local quer transformar Brasília em um pólo nacional de produção de games. Foto: André Dusek/Estadão

A partir desse sábado, 25, um galpão de mil metros quadrados no Lago Norte, em Brasília, vai ganhar moradores especiais como robôs japoneses, naves espaciais e heróis mitológicos. Calma, não é uma invasão à capital federal: é a data marcada para a inauguração da Indie Warehouse, primeiro espaço de trabalho compartilhado (coworking) no Brasil totalmente dedicado a produtores e desenvolvedores de games. Com capacidade para receber até 100 pessoas, trabalhando todos os dias, o local quer transformar Brasília em um pólo nacional de produção de games. 

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À frente da iniciativa, está a Behold, um dos principais estúdios do País. Fundada em 2009, a empresa já fez jogos como Knights of Pen and Paper, que já vendeu mais de 1 milhão de unidades, e Chroma Squad, lançado recentemente para PlayStation 4 e Xbox One por uma parceria com a tradicional empresa japonesa Bandai Namco, dona de marcas como Pac-Man e Dark Souls. 

“Dividir espaços com outros produtores de games sempre foi algo muito importante para a gente”, diz Saulo Camarotti, fundador da Behold. E foi mesmo: entre 2015 e o início deste mês, a empresa tinha como sede uma casa no mesmo Lago Norte. 

Com direito a piscina e churrasqueira, o local era compartilhado com outros dois estúdios – a Bad Minions, de Brasília, e a Ôtus, de Novo Hamburgo (RS). “Agora, podemos ter até 15 empresas ao nosso lado”, explica Camarotti. Junto à Behold, três investidores-anjo participam da criação do espaço, que começa suas atividades com 30% da capacidade ocupada e 10 estúdios diferentes a seu lado. 

Vida única. Para Camarotti, o principal motivo para criar um coworking dedicado aos games é a diferença dos negócios da área e de outras startups. “Investir num jogo tem um elemento de risco que não faz sentido para quem conhece o cotidiano das startups”, diz o desenvolvedor. “Um investidor de games não vai querer visitar um coworking que tem um estúdio, um advogado e uma professora de inglês, mas vai topar conhecer 10 estúdios diferentes.” 

Outra vantagem para os estúdios presentes é compartilhar conhecimento e contatos. “Uma empresa que tem contato com parceiros como Sony, Microsoft, Google e Apple pode abrir as portas para as outras”, avalia Fernando Chamis, presidente da Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames). 

Segundo Chamis, a união pode também ajudar as produtoras a financiar equipamentos avançados, como ferramentas de capturas de gestos, inviáveis hoje para a realidade do mercado brasileiro. “Para quem está sozinho, é uma grana absurda, mas que pode se tornar viável em conjunto.” 

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Saulo Camarotti, da Behold:“dividir espaços com outros produtores de games sempre foi algo muito importante para a gente”. Foto: André Dusek/Estadão

Design de fases. Ao todo, a Indie Warehouse tem recepção, quatro salas de reunião e um espaço multiuso, que pode receber cursos para até 25 pessoas – uma das metas da Behold é ajudar estudantes que querem fazer seus primeiros jogos a terem um espaço. Além disso, há um lounge, uma área externa com estacionamento para food trucks (“útil para eventos de maratonas de criação de jogos”) e um auditório para 50 pessoas, com projetor equipado. 

Outro destaque da infraestrutura está nos banheiros, com chuveiros e vestiários. “É bom para quando a gente precisa virar a madrugada acabando de criar um jogo”, exclama Camarotti. O investimento não é à toa: a ideia da Behold é que o espaço esteja sempre aberto, de domingo a domingo, 24 horas por dia, se adaptando à rotina de horários típica de desenvolvedores de jogos. 

Além disso, a ideia do espaço é receber eventos para discutir o desenvolvimento de games – neste sábado, há uma série de palestras dedicadas ao mercado brasileiro de games, abordando temas como imprensa, game design, parcerias com publishers e até mesmo trilhas sonoras. 

Pedro Machado, da Glitch Factory, uma das empresas que já fazem parte da Indie Warehouse Foto: André Dusek/Estadão

Moedinhas. Quem quiser estar na Indie Warehouse tem três possibilidades. Frequentar o local é de graça; já quem quiser ter sua empresa permanentemente no local, “com direito a deixar todas as tranqueiras aqui”, como diz Camarotti, paga R$ 600 por mês para cada funcionário. A terceira forma é o que a Indie Warehouse chama de “plano rotativo”: por R$ 300 por pessoa, é possível ter acesso ao local e à infraestrutura, mas sem um espaço dedicado. “É para chegar e abrir o laptop onde der”, diz o desenvolvedor da Behold. 

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Para Pedro Machado, fundador do estúdio local Glitch Factory, o custo compensa – com oito funcionários, a empresa se mudou para a Indie Warehouse no começo dessa semana. “Passar o dia a dia só falando de games com outros desenvolvedores vai nos ajudar muito”, diz Machado, cujo time atualmente trabalha no game No Place For Bravery, previsto para 2018. 

O preço, porém, foi um empecilho para a Bad Minions, que dividia cozinha, piscina e churrasqueira com a Behold até o mês passado. Segundo o game designer Leonardo Batelli, compensa mais alugar uma sala para a equipe de seis pessoas da empresa, que se prepara para lançar o jogo Alkymia. “O que pega para nós é o preço”, explica Batelli. 

Para Fernando Chamis, da Abragames, o espaço tem potencial para se tornar uma referência no cenário nacional. “Brasília já é um espaço bacana de jogos, e concentrar empresas pode ser bom para atrair investidores”, diz. Segundo ele, a ideia pode ser replicada em outros Estados com bom cenário de desenvolvimento de games, como São Paulo e Rio Grande do Sul. 

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Serviço Indie WarehouseEndereço: SHIN CA 07, Lote 14, Lago Norte, BrasíliaSite: indiewarehouse.com.br/

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