Criador de Doom, John Carmack faz 'show de talentos' em evento do Facebook

Responsável, ao lado de John Romero, por jogos de tiro clássicos hoje é diretor de tecnologia da Oculus, divisão de realidade virtual do Facebook; em feira, ele tem sessão especial para revisar os jogos da plateia em ritmo de programa de TV

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Por Bruno Capelas
Atualização:
John Carmack, cocriador de Doom, testa jogo ao lado de desenvolvedor durante a Oculus Connect: crítico implacável Foto: Bruno Capelas/Estadão

Pode parecer esquisito, mas há quem viaje quilômetros e quilômetros de distância só para ver outra pessoa testar um jogo de realidade virtual (VR). Mas há uma explicação plausível se essa pessoa for John Carmack: desenvolvedor de jogos clássicos com Doom e Quake, hoje ele é o diretor de tecnologia da Oculus, a divisão de VR do Facebook. Durante o principal evento do ano para a divisão, o Oculus Connect, que acontece nesta semana em San José, nos Estados Unidos, Carmack tem seu próprio show: uma sessão em que ele experimenta e analisa os jogos dos desenvolvedores presentes. 

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A sessão de 2019, realizada nesta quarta-feira, 25, teve presença maciça: mais de 500 pessoas (algumas delas de pé ou sentadas no chão, dada a lotação da sala) acompanharam os testes de Carmack. Mais do que apenas uma boa análise, ele é um herói para o público presente: primeiro, porque fez ao lado do amigo John Romero, os games que marcaram boa parte dos desenvolvedores no evento, muitos deles entre os 25 e os 35 anos. Além disso, ele formulou as bases do que faz um bom jogo de tiro em primeira pessoa – uma das experiências mais imersivas o possível até a chegada da realidade virtual. Ele é uma figura tão popular, na feira, que pode até chamar mais atenção que Mark Zuckerberg

Mas, mais do que tudo, porque Carmack é um crítico implacável: ele questiona todos os detalhes, das sombras que um personagem faz ao pular até a disparidade entre som e animação. Ele questiona quando o jogo engasga (isto é, sofre uma queda no ritmo de quadros por segundo): “você precisa rever sua performance, isso realmente não é uma boa prática.” 

Quando critica o posicionamento de uma câmera, algo que poderia nausear o jogador médio, o titubeante desenvolvedor pede desculpa – “isso é uma versão antiga, a nova está melhor” – e ele responde na lata: “tá tudo bem, eu vou sobreviver”, arrancando risos da platéia. E para um jogo defeituoso que tem uma dinâmica de plataforma, na qual é preciso saltar por fases com diferentes níveis de altura, Carmack recomenda: “eu jogaria Mario de novo para rever o que é preciso aprender. Está tudo lá, sabe”. Tem um pouco de humilhação pública, mas também é a chance de ouvir conselhos honestos de um dos maiores especialistas da indústria. 

Para quem quiser entrar na mira de Carmack, é preciso enviar o jogo com antecedência e torcer para ser sorteado. Além disso, é necessário estar presente no evento para explicar um pouco do jogo e submeter-se à prova de fogo do desenvolvedor. Por pouco, Carmack não teve a chance de analisar um jogo brasileiro – Viking Days, do estúdio paulistano VR Monkey. É uma aventura com minijogos que ensinam o usuário a ser um viking, entre pilotar barcos e beber cerveja. O jogo até foi sorteado, mas nenhum dos desenvolvedores estava presente. 

Sorte dos criadores de jogos com nomes ambiciosos, como Death Lap (volta da morte), Multiverse (multiverso), ou um bocado estapafúrdios, como Zombie Donut (rosquinha zumbi, em tradução literal). Apesar do título esquisito, este último é o melhor da safra analisada por Carmack: trata-se de um jogo de tiro, na qual é preciso atirar com rosquinhas, marshmallows e outros doces em zumbis que estão tentando invadir uma cidade fofinha, com casas açucaradas dignas de João e Maria. 

“Eu queria fazer games, então me disseram que eu precisava fazer um jogo de zumbi ou não seria uma desenvolvedora de verdade. Aí fiz um com donuts”, brincou Jordan Brighton, a criadora do jogo, no palco. Não é a primeira vez que o game passa por ali – e Carmack saúda os avanços feitos ao longo do último ano. Mas, como sempre, reclama: “ainda precisa melhorar bastante o áudio do jogo. É isso que vai fazer a diferença.” Nem sempre se pode agradar a todos – nem mesmo com donuts, infelizmente. 

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*O jornalista viajou a San José (EUA) a convite do Facebook 

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