Documentário mostra primórdios dos games no Brasil
‘1983 - O Ano dos Videogames no Brasil’ conta a chegada do Atari e seus inúmeros clones ao mercado brasileiro, enquanto o mercado norte-americano entrava em crise
16/09/2017 | 05h00
Por Bruno Capelas - O Estado de S. Paulo
A caixa original do Intellivision, um dos muitos videogames que fizeram parte daquela era
Leia mais
Para um fã de games que se preze, o ano de 1983 é sinônimo de fracasso e crise – afinal, é o ano da falência da Atari e da crise dos videogames no mercado norte-americano. O que pouca gente sabe é que, enquanto os Estados Unidos não queriam saber de joysticks, o mercado brasileiro pela primeira vez recebia oficialmente uma geração de videogames: Atari, Colecovision, Odyssey e Intellivision – e seus inúmeros clones – começaram a ser fabricados e vendidos por aqui.
É essa a história que o documentário 1983: O Ano Dos Videogames no Brasil, que estreia nesse sábado, 16, em uma sessão especial no Museu da Imagem e do Som (MIS-SP), quer contar. “1983 foi o ano em que o videogame deixou de ser algo importado ou contrabandeado, para poucos, e começou a ser acessível para uma família de classe média, mesmo parcelado”, diz o escritor Marcus Vinicius Garrett Chiado, responsável pelo filme, produzido em parceria com o jornalista Artur Palma.
O filme é baseado nos livros escritos por Garrett sobre o assunto (1983 - O Ano dos Videogames no Brasil e 1984 - A Febre dos Videogames Continua), contando a chegada dos consoles por aqui, e foi viabilizado a partir de uma campanha de financiamento coletivo realizada em 2015. “Fazer um documentário é diferente: você ouve a história da boca das pessoas que fizeram a coisa acontecer”, explica Garrett, em entrevista ao Estado.
O longa-metragem aborda a história de grandes empresas, como Polyvox e Gradiente, que fabricaram videogames no País, e também de pioneiros como Joseph Maghrabi, fundador da Canal 3 Indústria e Comércio, primeira fabricante de cartuchos “clonados” de Atari no País.
Ataque dos clones. Aliás, o que não faltava na época eram “cópias” dos videogames vendidos nos Estados Unidos. “Eles não pagavam royalties aos americanos, mas ajudaram muito a popularizar os games no Brasil, porque eram mais baratos que as versões ‘originais’”, pondera Garrett, dando força a uma teoria importante – a de que clones e contrabandos ajudaram, por vias tortas, a formar uma cultura de jogadores no País.
“Minha esposa, por exemplo, quando era criança, ganhou um Dismaq, porque os pais dela não tinham dinheiro para um Atari”, explica o escritor. Além disso, o documentário também explica como o simpático Pac-Man virou o Come-Come aqui no Brasil, e fala sobre a era de ouro das fichas e dos fliperamas.
Veja como os jogos do Atari influenciaram os games de hoje
“Eles eram um templo dos jogos. Nada que você tivesse em casa chegava perto do que havia neles”, conta Garrett. Ainda havia, segundo o escritor, certa mística em torno desses locais – eram lugares sujos, com gente fumando, “que os pais não gostavam muito que a gente fosse”.
Segundo o autor, o documentário deve ter novos desdobramentos – especialmente na internet. “A primeira versão do filme tinha seis horas e meia. Queremos aproveitar esse material, com várias entrevistas inéditas”, diz.
Apostar em uma continuação do filme, que conte a história da chegada de Nintendo Entertainment System, da Nintendo, e Master System, da Sega, ao País, porém, está fora de cogitação. “São videogames que chegaram quando eu era adolescente, e na época, eu já gostava de jogar no computador. Meu coração não bate forte com eles, mas espero que alguém siga esse caminho”.
Estreia de 1983 - O Ano dos Videogames no Brasil
Quando: sábado, 16h, às 14h
Quanto: grátis; ingressos serão distribuídos uma hora antes da sessão
Onde: Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP); Av. Europa, 158, Jardim Paulista, São Paulo.
Comentários
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.